tag:blogger.com,1999:blog-24358687989006051942024-03-14T01:29:23.096-03:00Ceticismo e CiênciaDivulgação da ciência, do ceticismo, e do pensamento crítico. Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.comBlogger61125tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-38046764915359073862021-06-29T11:34:00.000-03:002021-06-29T11:34:34.109-03:00Por que não estou preocupado com o consumo de café<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><b>por </b><span style="text-align: left;"><b>Gideon Meyerowitz-Katz <br /></b></span>Fonte: <a href="https://gidmk.medium.com/im-an-epidemiologist-here-s-why-i-m-not-worried-about-coffee-consumption-cf8db98dbb1a?source=---------0----------------------------" target="_blank">blog do Gideon </a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">traduzido por Felipe Nogueira</span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Como tenho um blog de ciência e saúde, uma das perguntas mais comuns que as pessoas me fazem é sobre café. As pessoas se preocupam frequentemente se consomem café demais, porque aparentemente café faz mal para saúde, ou se consomem menos que deveriam, porque é milagroso. Há uma literatura vasta sobre os impactos do café, cafeína e bebidas relacionadas na saúde. Apesar de ser difícil resumir tudo em um artigo, a pesquisa é relativamente consistente <span style="background-color: white; color: #292929; letter-spacing: -0.063px; text-align: start;">—</span> o café não é nem uma cura milagrosa para seus problemas, nem um veneno que está te matando lentamente. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Aqui está a minha interpretação da evidência e por que estou tranquilo com o meu hábito de consumir 2-5 xícaras de café por dia. </span></p><p style="text-align: justify;"></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><img alt="" data-original-height="937" data-original-width="703" height="400" src="https://lh3.googleusercontent.com/-oKz1f1k-SE8/YNjZG2o1nyI/AAAAAAAAkeo/zYETVeqeg34L_Sazlg0Kt3Iv_BW76hPBwCLcBGAsYHQ/w300-h400/image.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="300" /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Espresso preparado pelo tradutor deste texto</td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-oKz1f1k-SE8/YNjZG2o1nyI/AAAAAAAAkeo/zYETVeqeg34L_Sazlg0Kt3Iv_BW76hPBwCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"></span></a></div><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Os riscos do café</span></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">A primeira parte da equação é o risco com o hábito de beber café. Vale a pena dizer que este artigo parte da ideia de um consumo médio de café pelos humanos, porque a cafeína pode se fatal em doses altas. Se você estiver bebendo menos de 10 xícaras de espresso por dia, este artigo é para você. Porém, se você estiver próximo de uma <a href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27461039/" target="_blank">dose tóxica de cafeína</a> com o equivalente a 40-50 xícaras em menos de 24 horas, você deveria considerar diminuir a quantidade*. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Deixando de lado o risco de consumir uma piscina de café mensalmente, os problemas são extremamente pequenos. Há uma <a href="https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0939475306001694" target="_blank">grande quantidade</a> de pesquisa observacional olhando os potenciais danosos de café na saúde, já que é uma exposição bem comum. De forma geral, os riscos ou não são observados ou são relativamente mínimos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Por exemplo, há evidências de que um alto consumo de café (mais de 4 xícaras por dia) <a href="https://link.springer.com/article/10.1007/s10654-019-00597-0">está associado a um maior risco de câncer de bexiga</a>. Similarmente, mais que 4 xícaras de café por dia parece estar correlacionado, em algumas pesquisas observacionais, com <a href="https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0939475306001694" target="_blank">maiores chances de doença cardíaca</a>, o que pode parecer preocupante em um primeiro momento. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Entretanto, tais estudos normalmente são bem inconclusivos. Até quando há um risco maior de câncer, ele parece existir apenas em alguns subgrupos da população (nesse caso, fumantes), além de poder não ser uma relação causal. Enquanto há um risco aumentado de doença cardíaca associado com beber MUITO café, 1-3 xícaras por dia não mostra um risco similar e pesquisas longitudinais não apoiam esse achado em muitos casos. Além disso, quando olhamos o risco de café e TODOS os cânceres, parece <a href="https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10654-011-9548-7">não existir nenhuma associação</a>.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Quando temos evidência de estudos randomizados, a figura fica ainda mais nebulosa. Há <a href="https://www.nmcd-journal.com/article/S0939-4753(20)30355-0/fulltext" target="_blank">alguns dados</a> mostrando que café impacta seus lipídios séricos (colesterol, triglicerídeos, etc), mas é um aumento modesto e não consistente entre todos os estudos. Outras pesquisas sobre marcadores de doença cardíaca e controle da glicose encontraram <a href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32292049/" target="_blank">resultados inconclusivos</a> e <a href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31193893/" target="_blank">em alguns casos até benefício (a curto prazo)</a>. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Até as recomendações mais comuns, como não beber cafeína durante a gravidez, é <a href="https://www.theguardian.com/commentisfree/2019/oct/17/is-drinking-coffee-safe-during-your-pregnancy-get-ready-for-some-nuance" target="_blank">difícil de ser assertivo</a>. Sim, <a href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26026343/" target="_blank">há uma associação</a> entre café e piores desfechos na gravidez, mas também é <a href="https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278691517301709?via%3Dihub" target="_blank">inconsistente</a>: na sua maioria, foram vistos apenas com altas quantidades ingeridas de café. E pesquisas intervencionais <span style="background-color: white; color: #292929; letter-spacing: -0.063px; text-align: start;">—</span> onde as mulheres recebem diferentes quantidades de café para beber durante a gravidez <span style="background-color: white; color: #292929; letter-spacing: -0.063px; text-align: start;">—</span> <a href="https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD006965.pub3/full" target="_blank">não mostraram esses impactos</a>. Todo mundo sabe que beber café é ruim para o sono, mas quando olhamos a pesquisa da <a href="https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1087079216000150" target="_blank">relação entre cafeína/café e sono ruim</a> é difícil chegarmos a uma conclusão, porque há o risco óbvio de causalidade reversa (pessoas que dormem mal bebem mais café para ficarem acordadas). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Olhando tudo, parece que café tem um risco pequeno. Sim, há algumas questões com altos níveis de consumo, mas até esses são inconsistentes e não necessariamente causais. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">E o outro lado da moeda? </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><b>Os benefícios </b><b>do café</b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Este é um artigo particularmente divertido, porque o contraponto às fracas evidências dos danos relacionados ao café é um outro bando de evidências fracas dos benefícios dessa nossa bebida deliciosa. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Por exemplo, beber café está associado com um <a href="https://cebp.aacrjournals.org/content/19/7/1723.short" target="_blank">risco inverso de câncer orofaríngeo</a>. Café também está relacionado com um <a href="https://cebp.aacrjournals.org/content/25/4/634.short" target="_blank">menor risco de cânceres de intestino</a>, <a href="https://cebp.aacrjournals.org/content/25/4/634.short" target="_blank">de fígado</a>, <a href="https://cebp.aacrjournals.org/content/25/4/634.short" target="_blank">de ovário</a>, <a href="de tireoide" target="_blank">de tireoide</a> e <a href="https://cebp.aacrjournals.org/content/25/4/634.short" target="_blank">de pele</a>. Boas notícias, certo? </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Entretanto, lembre o que eu disse anteriormente <span style="background-color: white; color: #292929; letter-spacing: -0.063px; text-align: start;">—</span> café não está ligado com um risco reduzido de <i>qualquer </i>câncer, apenas cânceres específicos em certos estudos e, até mesmo para esses cânceres, os resultados são <a href="https://cebp.aacrjournals.org/content/17/3/712.short" target="_blank">bem inconsistentes</a> em populações diferentes. Além disso, esses estudos sofrem dos <a href="https://gidmk.medium.com/drinking-coffee-still-wont-save-your-life-9e4d45ba7087" target="_blank">mesmas limitações</a> daqueles estudos que observam os danos <span style="background-color: white; color: #292929; letter-spacing: -0.063px; text-align: start;">—</span> é muito difícil separar os impactos causais de estudos que essencialmente consistem em perguntar para os participantes a quantidade de café que eles bebem e, então, verificar se eles desenvolveram câncer alguns anos depois. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Um bom exemplo disso é diabetes. O café está fortemente associado com um <a href="https://academic.oup.com/nutritionreviews/article/76/6/395/4954186?login=true" target="_blank">risco reduzido de diabetes</a> em grandes estudos observacionais. É um resultado que foi replicado algumas vezes, com muitos mecanismos causais que podem explicá-lo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">No entanto, quando você conduz um ensaio clínico randomizado dando café para um grupo e placebo para outro grupo, os benefícios na redução de glicose no sangue são <a href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6544578/">bem pequenos e de curta duração</a>. Esses ensaios clínicos são bem pequenos, então é difícil termos certeza, mas é um argumento interessante de que as evidências dos ensaios clínicos não apoiam os estudos observacionais. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Outra coisa que sempre me chama a atenção quando eu vejo esse tipo de evidência sendo discutida na mídia é que a pesquisa geralmente identifica um benefício bem pequeno oriundo de, se formos honestos, uma grande intervenção. Beber uma xícara a mais de café é pedir muito para a maioria das pessoas. Embora está correlacionado com um risco reduzido de diabetes, a redução é pequena: um risco <a href="https://link.springer.com/article/10.1007/s00125-014-3235-7/tables/1" target="_blank">0,01% menor de ser diagnosticado com diabetes a cada ano</a>. Em outras palavras, para cada 100 mil pessoas que bebem 1 xícara de café por dia, esperamos 400 novos diagnósticos de diabetes a cada ano. Se todas elas beberem uma <i>xícara extra de café diariamente</i>, reduziríamos para 390 os novos casos de diabetes ao ano. <i> </i> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Não é um benefício tão grande quanto as manchetes sugerem. </span></p><p style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Escolhas</span></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Há evidências de que o café é <b>prejudicial</b>, mas não são muito fortes e podem ser causadas por fatores de confusão residuais ou por problemas relacionados com o desenho dos estudos. Há evidências de que o café é <b>benéfico</b>, mas não são muito fortes e podem ser causadas por fatores de confusão residuais ou por problemas relacionados com o desenho dos estudos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Minha resposta para isso? Beba café se você quiser, não beba se não quiser. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Claro, essa não é uma recomendação para todos. Há razões para acreditarmos que café pode ser danoso para pessoas com certas condições de saúde e para crianças. Mesmo os danos sendo pequenos, é preferível pecarmos pelo excesso de cautela. Gravidez é outra área que mesmos os riscos não sendo muito grandes, a maioria das recomendações pecam pela cautela. Até mesmo quando o risco pode não ser causal, a recomendação geral é que <a href="https://www.who.int/elena/titles/caffeine-pregnancy/en" target="_blank">limitar o consumo de café até 1 xícara por dia</a>. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Se o seu médico falar para você beber menos café, a resposta óbvia é seguir a recomendação. Mas para as pessoas em geral que apenas gostam de uma ou cinco xícaras de café por dia? A evidência mostra que os benefícios e riscos provavelmente são pequenos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Beba café se você gosta. É isso o que eu vou fazer!</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">* Para os interessados, uma dose tóxica de cafeína para um adulto é por volta de 3g. Essa dose pode não ser letal, mas você se sentirá bem mal e provavelmente precisará ir para o hospital. Como o café é preparado de diferentes formas, a quantidade de cafeína por litro varia muito, mas cada shot de espresso tem <a href="https://academic.oup.com/jat/article/27/7/520/784168?login=true" target="_blank">por volta de 50-150 mg</a> de cafeína. Dependendo de como você prepara o café, você pode alcançar o nível tóxico de cafeína bebendo entre 20 e 60 xícaras de café de uma vez. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">---------</span></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Gideon Meyerowitz-Katz é um epidemiologista, escritor de ciência e aluno de doutorado na Universidade de Wollongong. Ele trabalha em Sydney com doenças crônicas, focando nos determinantes sociais que impactam a saúde. Além de escrever sobre saúde/ciência no seu blog, ele escreve regularmente para o jornal The Guardian e Observer. </span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Siga o Gideon MK no <a href="https://gidmk.medium.com/" target="_blank">Medium</a>, <a href="https://twitter.com/GidMK" target="_blank">Twitter</a> ou <a href="https://www.facebook.com/gidmkhealthnerd/" target="_blank">Facebook</a></span></i></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-679631822948339542021-05-27T15:23:00.006-03:002021-05-31T18:39:11.724-03:00“Nosso” livro sobre Medicina Baseada em Evidências<p><b>por Felipe Nogueira, Josikwylkson Costa e Bruno Robalinho</b></p><p><span style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p><span style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Gostaríamos de divulgar o pré-lançamento de um livro sobre medicina baseada em evidências que tivemos a honra de participar. </span></span></p><p><span style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O livro chama-se <i>Manual de Medicina Baseada em Evidências</i>. O principal autor/editor-chefe é o cardiologista e eletrofisiologista José Alencar e foi editado pela Sanar.</span></span></p><p><span style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-E88BVw7uIhE/YK_ilnkW15I/AAAAAAAAkDc/OxttFSl9xu4LGV049ntk3WPQggpCV56HQCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="852" data-original-width="1280" height="335" src="https://lh3.googleusercontent.com/-E88BVw7uIhE/YK_ilnkW15I/AAAAAAAAkDc/OxttFSl9xu4LGV049ntk3WPQggpCV56HQCLcBGAsYHQ/w505-h335/image.png" width="505" /></a></span></div><span style="font-size: medium;"><br /><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nós e outros autores excelentes contribuímos na autoria de diferentes capítulos. O livro tem uma abordagem interessante, onde praticamente cada capítulo foi escrito por autores diferentes.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O livro também contou com a Natalia Pasternak, doutora em microbiologia, presidente do Instituto Questão de Ciência e grande divulgadora científica, na autoria do Prefácio.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Confira o sumário do livro:</span></p><p style="text-align: justify;"></p><ul><li><b><span style="font-size: medium;">Seção 1 – Fundamentos:</span></b></li><ul><li><span style="font-size: medium;">Por que precisamos de evidências? Onde encontrá-las? Quando não precisamos delas?</span></li><li><span style="font-size: medium;">Medicina enviesada por evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">A pirâmide fluida da Medicina Baseada em Evidências e o caminho de uma hipótese até a sua confirmação</span></li><li><span style="font-size: medium;">Vieses em estudos científicos</span></li><li><span style="font-size: medium;">A análise bayesiana dos estudos científicos</span></li><li><span style="font-size: medium;">Estatística para quem não gosta de matemática</span></li><li><span style="font-size: medium;">Como interpretar artigos sobre terapias?</span></li><li><span style="font-size: medium;">Como interpretar um teste diagnóstico?</span></li></ul></ul><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-dPfL11EzeaQ/YK_iT8bDjMI/AAAAAAAAkDQ/RkL9QrCep1Mw7DuipWXWIQsEVMvEMcngQCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img alt="" data-original-height="904" data-original-width="623" height="752" src="https://lh3.googleusercontent.com/-dPfL11EzeaQ/YK_iT8bDjMI/AAAAAAAAkDQ/RkL9QrCep1Mw7DuipWXWIQsEVMvEMcngQCLcBGAsYHQ/w518-h752/image.png" width="518" /></span></a></div><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div><ul style="text-align: left;"><li><b><span style="font-size: medium;">Seção 2 – Especialidades em evidência:</span></b></li><ul><li><span style="font-size: medium;">Cardiologia baseada em evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Endocrinologia enviesada por evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Oncologia baseada em evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Rastreamento de câncer baseado em baseado em evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Cirurgia baseada em evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Dermatologia baseada em evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Ortopedia baseada em evidências</span></li><li><span style="font-size: medium;">Jornalismo de saúde baseado em evidências</span></li></ul></ul><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-zhDNXrzlA_4/YK_iHZaPa4I/AAAAAAAAkDI/5dzkeelMwbAo6Qpjx6HaY6R4MgFwhhMugCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img alt="" data-original-height="735" data-original-width="1274" height="285" src="https://lh3.googleusercontent.com/-zhDNXrzlA_4/YK_iHZaPa4I/AAAAAAAAkDI/5dzkeelMwbAo6Qpjx6HaY6R4MgFwhhMugCLcBGAsYHQ/w494-h285/image.png" width="494" /></span></a></div><span style="font-size: medium;"><br /><br /></span></div></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-x52m018idd4/YK_h830wf6I/AAAAAAAAkDE/bWZKpd44VG0S0yql-Fbp3mKBZcIjAW3ygCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img alt="" data-original-height="820" data-original-width="592" height="708" src="https://lh3.googleusercontent.com/-x52m018idd4/YK_h830wf6I/AAAAAAAAkDE/bWZKpd44VG0S0yql-Fbp3mKBZcIjAW3ygCLcBGAsYHQ/w511-h708/image.png" width="511" /></span></a></div><span style="font-size: medium;"><br /><br /></span></div><div><div><span style="font-size: medium;">O livro está disponível no <a href="https://www.sanarsaude.com/livro/manual-de-medicina-baseada-em-evidencias">site da editora Sanar</a>.</span></div><div>—</div><div><br /></div><div><i>Felipe Nogueira é Doutor em Ciências Médicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Mestre e Bacharel em Informática pela PUC-Rio. Divulgador de ciência com contribuições nas revistas Skeptical Inquirer, Skeptic, e Revista Questão de Ciência.</i></div><div><i><br /></i></div><div><i>Josikwylkson Costa é estudante de medicina no Centro Universitário UniFacisa (Campina Grande – PB). CPO da EBM Academy. Integrante e colaborador do grupo Stars, filiado ao Choosing Wisely Brasil.</i></div><div><i><br /></i></div><div><i>Bruno Robalinho é cardiologista pelo Hospital Agamenon Magalhães (HAM/SUS-PE). Cardiologista intervencionista pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Doutorando em cardiologia pelo InCor/FMUSP/UFPB</i></div></div><p></p>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-47743468716645285702021-04-28T13:50:00.000-03:002021-04-28T13:50:02.428-03:00Mitos nas campanhas de prevenção de câncer<p style="text-align: justify;"><b>por Felipe Nogueira e Arn Migowski</b></p><p style="text-align: justify;">publicado na <a href="https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2019/11/21/mitos-nas-campanhas-de-check-e-prevencao-de-cancer" target="_blank"><b><i>Revista Questão de Ciência</i></b></a> (<b>Novembro de 2019</b>)</p><p style="text-align: justify;">Os meses de outubro e novembro são conhecidos pelas campanhas de conscientização do câncer de mama e próstata. O público escuta anualmente que, mesmo aqueles sem sinais da doença, devem realizar exames de check-up para a prevenção desses cânceres, como mamografia para o câncer de mama e PSA para o câncer próstata. </p><p style="text-align: justify;">Isso é chamado de rastreamento: a busca por uma doença através de exames em pessoas sem sintomas da doença que está sendo rastreada. O problema é que as campanhas, na realidade, desinformam o público sobre o real efeito do rastreamento. Como veremos, não apenas faltam informações sobre possíveis danos do rastreamento, como muitas vezes informações enganadoras são utilizadas. Para piorar, estudos mostram que médicos – aqueles que deveriam ajudar as pessoas a tomar decisões sobre saúde – não estão bem informados sobre o rastreamento. </p><p style="text-align: justify;">Um dos equívocos das campanhas é começa pela a utilização do termo prevenção. Prevenir um câncer significa reduzir as chances de desenvolver essa doença. Infelizmente, esses exames de rastreamento não diminuem as chances de uma pessoa desenvolver câncer de mama ou próstata. Tal equívoco é importante, porque confunde o público: em uma pesquisa americana, 68% das mulheres responderam erroneamente que mamografia previne o câncer de mama [1]. Pior ainda, em uma pesquisa realizada com estudantes e profissionais de saúde em congressos no Brasil, 37% responderam equivocadamente que a mamografia reduz a incidência do câncer de mama [2]. </p><p style="text-align: justify;">Outra informação relevante ausente nas mensagens é que o rastreamento desses cânceres causa danos. Uma vez que estamos lidando com pessoas sem sinais e sintomas da doença, é na realidade mais fácil causar um dano, piorando a saúde dessa pessoa, do que melhorar alguém que já está saudável. </p><p style="text-align: justify;">O dano mais comum do rastreamento é o resultado falso-positivo, levando a uma ansiedade das pessoas examinadas. Por exemplo, aproximadamente 50% das mulheres americanas sem sintomas examinadas com mamografia anualmente por 10 anos receberão pelo menos um resultado falso-positivo [3]. Esses resultados muito comumente provocam ansiedade e levam a realização de outros exames. </p><p style="text-align: justify;">Mas esse não é o dano mais sério. A prática de exames de rastreamento para os cânceres de mama e de próstata em vez de reduzir (prevenir), na realidade, aumenta o número de diagnósticos de cânceres de mama e próstata. Esse excesso de diagnóstico é chamado de sobrediagnóstico - a detecção de um câncer que não é fatal e não causaria sintomas. </p><p style="text-align: justify;">Sobrediagnóstico não é um resultado falso-positivo. Um resultado falso-positivo ocorre quando um exame sugere a presença da doença, mas a suspeita não é confirmada em exames subsequentes. No caso do sobrediagnóstico, a lesão preenche os critérios patológicos do câncer. Ele só não causaria nenhum problema e, se não fosse pelo rastreamento, esse câncer não seria descoberto [4]. O dilema do rastreamento do câncer é que, no momento da detecção, não é possível prever quais casos vão evoluir ou não. Com isso, a maioria é tratada. Isso implica que, nos rastreamentos dos cânceres de mama e próstata, várias pessoas estão sendo tratadas agressivamente (com cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia hormonal ou uma combinação desses tratamentos) para cânceres que nem deveriam ter sido detectados. </p><p style="text-align: justify;">Hoje sabemos que o câncer é uma doença de comportamento heterogêneo, isso é com diferentes velocidades de crescimento [4]. O rastreamento tende a detectar os casos de crescimento bem lento. Ou também aqueles que não evoluiriam ou que regrediriam. Já os casos mais agressivos, os que são mais letais, crescem tão rápido que o rastreamento não é muito útil, já que geralmente causam sintomas no intervalo entre exames. A solução não é fazer mais exames ou fazer um exame de forma mais frequente, já que isso levará a mais sobrediagnósticos, sobretratamento e resultados falso-positivos. </p><p style="text-align: justify;">Apesar do sobrediagnóstico e sobretratamento não serem mencionado nas campanhas, muitas vezes seus efeitos são enaltecidos como benefício. É frequente ouvirmos que o câncer de mama tem 95% de chances de cura se diagnosticado nas fases iniciais. Esse número é a sobrevida em 5 anos – o percentual de pacientes vivos 5 anos após o diagnóstico – uma medida bastante utilizada para medir o prognóstico do câncer. Porém, a sobrevida é aumentada artificialmente em pacientes que fazem o rastreamento. </p><p style="text-align: justify;">O primeiro motivo do aumento artificial da sobrevida é o sobrediagnóstico, que aumenta o número de casos da doença, assim como o número de pacientes curados. O segundo motivo é a antecipação do diagnóstico. Para que tenha sucesso, o rastreamento precisa antecipar o momento do diagnóstico. E essa antecipação aumenta artificialmente a sobrevida, porque os pacientes vivem mais tempo após o diagnóstico, mesmo quando suas vidas não foram prolongadas pelo rastreamento. Imagine o cenário onde um grupo de pacientes não rastreados são diagnosticados pelos sintomas aos 61 anos e morrem pelo câncer aos 65 anos. Como nenhum paciente viveu 5 anos após o diagnóstico, a sobrevida em 5 anos foi 0%. Agora, imagine que as pessoas rastreadas são diagnosticadas aos 59 anos, mas também morrem aos 65 anos. Note que em ambos os casos a morte pelo câncer ocorreu no mesmo momento, independente se as pessoas fizeram ou não rastreamento; ou seja, o rastreamento não prolongou a vida. Mesmo assim, a sobrevida em 5 anos aumentou para 100%. </p><p style="text-align: justify;">Por esses motivos, a sobrevida não pode ser usada como evidência da eficácia do rastreamento [5]. Não é apenas o público que é enganado pelas taxas de sobrevida. Em uma pesquisa com médicos americanos [6], 76% responderam equivocadamente que melhoras taxas de sobrevida significa que o rastreamento é eficaz. Apenas a redução da mortalidade pode mostrar que o rastreamento salva vidas. Além disso, 49% também responderam que mais casos de câncer detectados pelo rastreamento representa eficácia. Isso é um equívoco porque o rastreamento não deve diagnosticar mais casos do que seria diagnosticado; o rastreamento deve antecipar o tempo do diagnóstico. Mas isso também não é tudo: só será relevante antecipar o diagnóstico se o tratamento precoce for mais eficaz. Já em uma pesquisa com estudantes e profissionais de saúde no Brasil [2], 95% dos participantes superestimaram os benefícios do rastreamento com mamografia em pelo menos 30 vezes. </p><p style="text-align: justify;">O Instituto Nacional do Câncer (INCA) recomenda a realização do rastreamento com mamografia a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos. Fora dessa faixa etária e periodicidade, o balanço entre riscos e benefícios é desfavorável [7]. Já para o câncer de próstata, o INCA não recomenda a realização de rastreamento, por considerar que os danos são maiores que os benefícios [8] e incluem sobrediagnóstico e sobretratamento com consequências tais como incontinência urinária e impotência sexual.</p><p style="text-align: justify;">O conhecimento científico de que rastreamento causa danos existe há algum tempo. Está na hora de pararmos com as mensagens recheadas apenas de benefícios exagerados e tom agressivo e começarmos a informar corretamente a população e os profissionais de saúde. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b>Termos e Mitos: </b></p><p></p><ul style="text-align: left;"><li style="text-align: justify;">Rastreamento: a busca sistemática de uma doença, como câncer de mama ou câncer de próstata, através de exames periódicos de check-up em pessoas sem sinais e sintomas da doença. </li><li style="text-align: justify;">Mito: não há exames capazes de prevenir cânceres de mama ou próstata. Pelo contrário, tais exames aumentam o número de diagnósticos do câncer de mama e próstata.</li><li style="text-align: justify;">Sobrediagnóstico do câncer: a detecção de um câncer que não progrediria, não causaria sintomas e nem ameaçaria a vida do indivíduo. Um paciente com sobrediagnostico morreria por outras causas sem nem saber que tinha câncer, mas descobriu devido à realização de exames de rastreamento. </li><li style="text-align: justify;">Sobretratamento: uma consequência do sobrediagnóstico. É o tratamento desnecessário de pessoas que foram sobrediagnosticadas. </li><li style="text-align: justify;">Sobrevida em 5 anos: Percentual de pacientes vivos cinco anos após o diagnóstico. Com o aumento do número de exames de rastreamento, as sobrevidas em 5 ou 10 anos de diversos cânceres aumentaram significativamente. Não indica eficácia do rastreamento. Também não pode ser usada para comparar o sucesso de sistemas de saúde de países ou regiões diferentes. Como a aderência e frequência do rastreamento é diferente por países e até regiões, as sobrevidas tornam-se incomparáveis.</li><li style="text-align: justify;">Mito: é sempre possível descobrir o tumor anteriormente ou que necessariamente o tumor só progrediu porque a pessoa não fez antes exame de check-up. A realidade é que casos mais agressivos não são muito ajudados pelos exames de check-up, já que provavelmente vão causar sintomas no intervalo entre exames.</li></ul><p style="text-align: justify;">É importante ficar atento aos sinais e sintomas de alerta e buscar logo atendimento médico. Isso vale também para pacientes que fazem os exames de rastreamento, já que há casos de câncer que causam sintomas no intervalo entre os exames e também casos que não são detectados nos exames de rotina. Você não deve esperar o próximo exame caso perceba alguma alteração, mesmo que tenha feito um check-up recentemente.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b>Referências</b></p><p style="text-align: justify;">1. Domenighetti G, Avanzo BD, Egger M, et al. Women’s perception of the benefits of mammography screening: population-based survey in four countries. International Journal of Epidemiology. 2003 Oct; 32:816-21 </p><p style="text-align: justify;">2. Migoswki A, Stein AT, Silva GA, et al. Adherence to national guidelines for early detection of breast cancer in Brazil: challenge regarding the implementation in primary health care. Conference: 21st WONCA World Conference of Family Doctors 2016.</p><p style="text-align: justify;">3. Keating, NL, Pace LE. Breast cancer screening in 2018: time for shared decision making. JAMA. 2018 May 1; 319(17):1814-1815. doi: 10.1001/jama.2018.3388. doi:10.1001/jama.2018.3388</p><p style="text-align: justify;">4. Carter, SM, Barratt A. What is overdiagnosis and why should we take it seriously in cancer screening? Public Health Res Pract. 2017 Jul; 27(3). doi: 10.17061/phrp2731722.</p><p style="text-align: justify;">5. Migowski A. A detecção precoce do câncer de mama e a interpretação dos resultados de estudos de sobrevida. Cien Saude Colet. 2015 Apr; 20(4):1309. doi: 10.1590/1413-81232015204.17772014</p><p style="text-align: justify;">6. Wegwarth O, Schwartz LM, Woloshin S, et al. Do physicians understand cancer screening statistics? A national survey of primary care physicians in the United States. Annals of Internal Medicine 2012 Mar; 156:340-9. doi: 10.7326/0003-4819-156-5-201203060-00005.</p><p style="text-align: justify;">7. Migowski A, Silva GAE, Dias MBK, Diz MDPE, Sant'Ana DR, Nadanovsky P. Diretrizes para detecção precoce do câncer de mama no Brasil. II – Novas recomendações nacionais, principais evidências e controvérsias. Cad Saude Publica. 2018 Jun; 34(6):e00074817. doi: 10.1590/0102-311X00074817.</p><p style="text-align: justify;">8. Instituto Nacional de Câncer. Rastreamento do Câncer de Próstata. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//rastreamento-prostata-2013.pdf</p><p style="text-align: justify;">-----------------------------</p><p style="text-align: justify;"><i>Felipe Nogueira é Doutor em ciências médicas pela UERJ, além Mestre e Bacharel em informática pela PUC-Rio. Divulgador da ciência e do pensamento crítico com artigos publicados nas revistas Skeptical Inquirer Skeptic e no seu blog Ceticismo e Ciência. </i></p><p style="text-align: justify;"><i>Arn Migowski é médico epidemiologista, Doutor em saúde coletiva pela UERJ, chefe da Divisão de Detecção Precoce do INCA e pesquisador do Instituto Nacional de Cardiologia.</i></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p style="text-align: justify;"><br /></p><span id="docs-internal-guid-3829ebf5-7fff-564a-6ccc-834e1411cde0"></span>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-32494104791147033222021-01-09T14:56:00.003-03:002021-09-23T15:39:43.378-03:00Calculando a eficácia de vacinas<p> por Felipe Nogueira</p><p><br /></p><p>Há um entendimento equivocado sobre eficácia de vacinas. Uma eficácia de 95%, por exemplo, <b>não</b> quer dizer que 5% dos vacinados adoeceram. </p><p>A imagem abaixo mostra uma forma <i>simplificada</i> de como fazemos o cálculo da eficácia, utilizando como exemplo o estudo clínico randomizado da vacina da Pfizer/BioNTech: </p><p><br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-uZXUBDl4w8c/X_ntfOr9e9I/AAAAAAAAi8U/LlnuECuxuSEpuFwKrQCYQxKvLkLUtE5hgCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="694" data-original-width="1077" height="413" src="https://lh3.googleusercontent.com/-uZXUBDl4w8c/X_ntfOr9e9I/AAAAAAAAi8U/LlnuECuxuSEpuFwKrQCYQxKvLkLUtE5hgCLcBGAsYHQ/w640-h413/image.png" width="640" /></a></div><br /><p></p><p>A imagem está simplificada, pois utiliza o conceito de <i>risco relativo</i>. Em muitos estudos randomizados, como os das vacinas para Covid-19, é utilizado <i>análise do tempo até o evento</i>. Em outras palavras, é levado em consideração o tempo que cada pessoa contribuiu no estudo. Por exemplo, quanto tempo os casos de Covid-19 demoraram para acontecer em cada paciente (ou quanto tempo levou até um paciente desistir). </p><p><br />O importante é notar que, para uma vacina com eficácia de 78%, o desenho da imagem abaixo está errado: </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-_xoaO9EAnw0/X_nt9wYRw9I/AAAAAAAAi8c/SqfcZhHiZQYWUg6L__Kq-mSUJFMpXAzvwCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="564" data-original-width="496" height="400" src="https://lh3.googleusercontent.com/-_xoaO9EAnw0/X_nt9wYRw9I/AAAAAAAAi8c/SqfcZhHiZQYWUg6L__Kq-mSUJFMpXAzvwCLcBGAsYHQ/w352-h400/image.png" width="352" /></a></div><br />Eficácia de uma vacina é sempre calculada de forma <i>relativa ao grupo controle</i> (os que receberam placebo ou que não foram vacinados).<br /><p></p><p><br /></p>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-85931630829986146462020-05-04T20:15:00.003-03:002020-05-05T22:54:57.126-03:00Ceticismo sobre rastreamento do câncer: Entrevista com Dr. H Gilbert Welch<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">publicado na <i><a href="https://skepticalinquirer.org/volume/no-1-vol-44/" target="_blank">Skeptical Inquirer Vol 44, No. 1</a> </i>(Jan/Feb 2020) </span><br />
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Versão original em <a href="https://drive.google.com/open?id=1PAfdhUBK63TzYGDFCkHaGUvGpUi5tKDk" target="_blank">arquivo PDF </a>ou <a href="https://skepticismandscience.blogspot.com/2020/04/screening-welch-interview.html" target="_blank">link</a></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<br />
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><b>por Felipe Nogueira</b></span></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;">Dr. H. Gilbert Welch é um médico americano e pesquisador do rastreamento do câncer. Como um ex-professor de políticas de saúde e prática clínica no <i>Dartmouth Institute</i>, ele publicou muitos artigos científicos sobre os danos da detecção precoce e, especificamente, o rastreamento do câncer <span style="font-family: "times new roman" , serif;">—</span> a busca sistemática pelo câncer antes do aparecimento dos sintomas. </span><br />
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;">Welch também é um autor de livros para o público geral. Seu primeiro livro, publicado em 2004, é <i>Devo Ser Testado Para o Câncer ? Talvez Não e Aqui Está O Porquê*.</i> Welch, junto com os pesquisadores Lisa Schwatz e Steven Woloshin escreveram o livro <i>Sobrediagnosticado - Tornando As Pessoas Doentes Na Busca Pela Saúde*</i><span style="text-align: justify;">, que discute o rastreamento e outros casos nos quais a medicina foi excessiva, provavelmente causando mais dano do que benefício. Seu último livro foi publicado em 2015 e chama-se <i>Menos Medicina, Mais Saúde - 7 Suposições Que Geram Cuidado Médico Excessivo</i></span></span><i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 16px;">*.</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Nesta entrevista, eu e Welch discutimos porque diagnosticar um câncer precocemente pode ter consequências negativas. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-m97B5QfCvdk/Xqd7eDodYZI/AAAAAAAAfx4/qlXgxNbr5_cEX3MuuZbOwlMLY8cWfiI4wCLcBGAsYHQ/s1600/welch.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1198" data-original-width="1299" height="294" src="https://1.bp.blogspot.com/-m97B5QfCvdk/Xqd7eDodYZI/AAAAAAAAfx4/qlXgxNbr5_cEX3MuuZbOwlMLY8cWfiI4wCLcBGAsYHQ/s320/welch.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px; text-align: center;">Dr. H Gilbert Welch</td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;"><i>Nogueira: </i></b><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">Ao lidarmos com problemas do rastreamento, como podemos levar a mensagem correta para o publico não entender que toda a assistência médica está sendo criticada? </b><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><b></b></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><b></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i style="font-weight: bold;">Welch:</i><b> </b>Eu sou um médico treinado da forma convencional e eu acredito que o cuidado médico pode fazer muito bem <span style="font-family: "times new roman" , serif;">—</span> especialmente para pessoas doentes. Fazer um diagnóstico em pessoas doentes é realmente importante. O que me preocupa é quando o cuidado médico expande para a população saudável <span style="font-family: "times new roman" , serif;">—</span> porque é díficil melhorar a saúde de uma pessoa que já está bem, mas torná-la pior não é tão díficil. </span></span><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Podemos envolver mil pessoas em um programa de rastreamento do câncer por dez anos e uma pessoa será ajudada. Isso é bom, mas uma pergunta importante é: O que ocorreu com os outros 999? É onde estou na minha carreira nos últimos 20 anos. </span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: </span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><b>Qual a principal idéia do rastreamento e seus problemas? </b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Welch</i>:</span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> No passado, os médicos esperavam os problemas de saúde aparecerem na população e diagnosticavam e tratavam esse grupo. A ideia do rastreamento ou detecção precoce é antecipar o momento do diagnóstico nessa mesmo população. A premissa do rastreamento é que as pessoas diagnosticadas precocemente seriam aquelas destinadas a desenvolver os problemas. </span><br />
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Entretanto, na realidade tem sido diferente: sempre que procuramos por formas precoces de doença, encontramos mais pessoas. Isso significa que nem todos desenvolveriam problemas. Como não sabemos quem desenvolveria problemas ou não, tendemos a tratar todos. Ou seja, nós estamos tratando algumas pessoas cujas doenças nunca seriam um problema — esse é o grupo dos sobrediagnosticados e tratados desnecessariamente. Eles não podem ser ajudados, mas podem ser prejudicados. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O sobrediagnóstico acontece relativamente em poucas pessoas. Um problema mais comum do rastreamento é o falso positivo. Muitas pessoas precisam de múltiplas visitas e testes antes de termos certeza que não eles não têm câncer. Os pacientes entendem que medicações podem causar danos, mas não conseguem entender como um teste pode fazer mal. Eles pensam que é sempre bom saber, mas eles não entendem a cascata de eventos que um teste pode causar. Até um teste perfeitamente seguro pode levar a uma série de eventos que pode fazer mal às pessoas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Finalmente, para promover o rastreamento, precisamos amendrotar as pessoas a respeito da doença ("esse é o motivo que você precisa ser rastreado"). Em outras palavras, estamos fazendo com que as pessoas fiquem mais preocupadas com o futuro. Irônicamente, uma parte de ser saudável é não ser tão preocupado com a saúde. O rastreamento é responsável por injetar um pouco de ansiedade na população.</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; font-weight: bold;"><br /></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://skepticalinquirer.org/wp-content/uploads/sites/29/2019/12/SI-JF-20-227x300.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://skepticalinquirer.org/wp-content/uploads/sites/29/2019/12/SI-JF-20-227x300.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Capa da Skeptical Inquirer da edição Jan/Fev de 2020<br />
<div>
<br /></div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: </span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><b>Qual o efeito do rastreamento nas estatísticas de sobrevida? </b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><i style="font-weight: bold;">Welch</i><b>: </b>Com mais detecção, o paciente típico aparenta estar melhor. Entre os pacientes com a doença, eles parecem que sobrevivem mais tempo. Isso acontece porque as pessoas sobrediagnosticadas ou com formas mais brandas da doença agora são incluídas no grupo da "doença". Os efeitos do rastreamento são realmente enganosos: quanto mais você procura, mais você encontra e todo mundo aparenta estar melhor. Está relacionado com o paradoxo da popularidade do rastreamento: quanto mais sobrediagnóstico o rastreamento causa, mais popular é o rastreamento. </span></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: O que aprendemos sobre a progressão do câncer e sua relação com o rastreamento?</span></b><br />
<i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt; font-weight: bold;">Welch</i><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">: </b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">O câncer é muito mais heterogêneo do que pensávamos. Anormalidades que preenchem a definição patológica do câncer podem ter histórias naturais muito diferentes; elas tem variadas taxas de crescimento. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> Isso pode ser entendido através da analogia do celeiro dos cânceres. Há três animais no celeiro: os pássaros, os coelhos e as tartarugas. O objetivo do rastreamento é colocá-los dentro da cerca de capturá-los precocemente. No entanto, não podemos capturar os passáros, porque eles já foram embora. Os passáros são os cânceres mais agressivos; eles já estão espalhados quando se tornam detectáveis. O rastreamento não ajuda nesses cânceres. Às vezes, podemos tratá-los, mas eles são o pior tipo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">É possível capturar os coelhos se contruirmos cercas o suficiente. Os coelhos são os cânceres que podem ser detectados precocemente e que trazem problemas para os pacientes. Então, rastreamento pode ajudar nesses casos. Mas, para que o rastreamento ajude, tratar mais cedo precisa ser mais efetivo do que mais tarde. <span style="font-family: "times new roman";">À</span>s vezes, isso não é verdade. No caso do câncer de mama, um tumor de 2 centimetros pode ser tratado da mesma maneira como um tumor de 1 centímetro. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> Finalmente, não precisamos de cercas para as tartarugas <span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">—</span> porque elas não vão a nenhum lugar. As tartarugas preenchem a definição patológica do câncer. Entretanto, esses cânceres não crescem ou crescem tão devagar que nunca causariam problemas até que o paciente morra de outra coisa. Ou eles estão até regredindo—alguns cânceres começam e desaparecem; talvez foram reconhecidos por um sistema imune competente.<br /> </span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">A triste realidade é que o rastreamento do câncer é muito bom em encontrar tartarugas. Os médicos não conseguem distinguir entre tartarugas e coelhos, então tratamos todo mundo criando o maior dano da detecção precoce: o sobrediagnóstico e o sobretratamento. </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; font-style: italic; line-height: 18.4px;">Nogueira: </span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Como o rastreamento afetou a incidência do câncer de próstata? </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><i style="font-weight: bold;">Welch</i><b>: </b>Note como a incidência do câncer de próstata nos Estados Unidos varia bastante (veja a Figura 1). Não há nenhuma biologia do câncer ou processo carcinogênico que consegue explicar esse gráfico. Parece mais com um gráfico financeiro do que um gráfico de incidência de câncer. E não é um problema pequeno; é o tumor mais comum na base de dados. </span></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;">O gráfico pode ser dividio em quatro fases. Começa em 1975 com o crescimento da resecção transuretal da próstata (TURP), que nessa época era uma cirurgia da próstata comum feita para ajudar homens com próstata aumentada. Com mais amostras de próstatas sendo enviadas a patologistas, a incidência do câncer de próstata aumentou devagar. A segunda fase é a promoção do teste de PSA, quando os hospitais começaram a oferecer testes de PSA gratuitos, sabendo que recuperariam o dinheiro em subsquentes exames de sangue, biópsias e tratamento. Por volta de 1995 começa a época da contenção, com urologistas reconhecendo que eles não deveriam oferecer rastreamento com PSA para homens com expectativa de vida menor que 10 anos, uma vez que eles não podem ser beneficiados pelo rastreamento. Finalmente, o desencorajamento começa quando a Força Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) recomenda contra o PSA. É impressionante que a incidência atual é quase a mesma de 1975. Em outras palavras, esse é um câncer dependente de escrutínio. Eu não conheço melhor exemplo de como o sistema de saúde pode afetar a quantidade aparente de câncer.</span><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-MNHIKKwKWKQ/Xqd8n4CZQ0I/AAAAAAAAfyY/XIA2ityRh1sgG3CkW8Bed_5XlCzZEc3fgCEwYBhgL/s1600/fig1.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="708" height="250" src="https://1.bp.blogspot.com/-MNHIKKwKWKQ/Xqd8n4CZQ0I/AAAAAAAAfyY/XIA2ityRh1sgG3CkW8Bed_5XlCzZEc3fgCEwYBhgL/s400/fig1.png" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Figure 1 - Incidência de câncer de próstata ajustada pela idade nos Estados Unidos entre 1975–2014 (Welch and Brawley 2018).</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><i><br />Nogueira</i>: </span></b><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">Qual o efeito dos programas populacionais de rastreamento do câncer (para os cânceres colo de útero, colorretal, de mama e de próstata, na mortalidade desses cânceres?</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><i style="font-weight: bold;">Welch</i><b>: </b>Nunca tivemos um estudo randomizado do rastreamento do câncer de colo de útero; foi implementado antes de considerarmos estudos randomizados. Há muitos dados observacionais sugerindo que é benéfico, mas não explica a redução de 80% na mortalidade do câncer de colo de útero. Por exemplo, vimos uma redução de 80% da mortalidade no câncer de estomâgo, que é um câncer que não fazemos nenhum rastreamento. A mortalidade do câncer colorretal também está em declínio, mas a queda começou antes da introdução do rastreamento. </span></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">O rastreamento para o câncer de colo de útero e colorretal teve algum impacto na mortalidade desses cânceres. O rastreamento do câncer mama teve um efeito pequeno na mortalidade do câncer de mama. O maior efeito nos cânceres de mama e próstata foi a melhoria no tratamento </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— aprendemos que ambos são doenças hormonais. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;"><i>Nogueira</i>:Como você analisa a relação de risco e benefício desses programas de rastramento do câncer? </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><i style="font-weight: bold;">Welch</i><b>: </b>Em geral, as pessoas consideram o rastreamento dos cânceres de colo de útero e colorretal no lado de mais benefício do que dano. Acho que isso ocorre porque o sobrediagnóstico do câncer é menos evidente nesses casos. Uma vez que eles detectam lesões pré-cancerosas, o sobrediagnóstico ocorre numa etapa anterior <span style="font-family: "times new roman" , serif;">—</span> pólipos ou displasia cervical. No rastreamento do câncer colorretal, há complicações de colonoscopia e politectomias (como sangramento e perfurações). No rastreamento do câncer do colo de útero, há complicações da crioterapia e das excisões das lesões pré-cancerosas (como sangramento e parto prematuro)</span></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;">O rastreamento do câncer tem um efeito misto. A maioria, incluindo PSA e mamografia, ajuda poucas pessoas, mas faz mal a outras. Esse é o dilema que precisamos ser claro. Então, o rastreamento não é um imperativo da saúde pública; é uma escolha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">E o rastreamento pode distrair as pessoas de coisas mais importantes que eles poderiam fazer para a saúde. E pode distrair recursos de outras intervençoes mais importantes. Há dois aspectos bem diferentes da palavra<i> prevenção</i>. Um é a promoção da saúde através de conselhos comportamentais, como não fumar, tenha uma alimentação saudável, se movimente com frequencia e tenha bons relacionamentos. Essas recomendações não sexy ou tecnológicas, mas são muito importante para saúde. Mas quando o movimento de prevenção se tornou medicalizado, ele virou um imperativo tecnológico pela procura das formas precoces das doenças. </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Nós também precisamos ser sensíveis com o problema do sobrediagnóstico. Temos de parar de pensar que o melhor exame é aquele que encontra mais câncer. É assim como os exames são promovidos, "esse exame acha mais câncer do que aquele". Esse não é um bom exame; <i>não</i> queremos encontrar mais cânceres; nós queremos encontrar aqueles cânceres que <i>importam</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: Como podemos melhorar o rastreamento, por exemplo para encontrar esses cânceres onde podemos fazer a diferença? </span></b><br />
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i style="font-weight: bold;">Welch</i><b>: </b>Isso é melhor exemplificado no caso do rastreamento do câncer de pulmão. Nos Estados Unidos, o câncer de pulmão é a causa mais comum de morte por câncer; é um grande problema. Há um grupo de alto risco bem definido, que pode ser identificado com uma única pergunta "Você é fumante?" Temos de fato uma causa comum de morte e um modo fácil de encontrar um grupo de alto risco </span></span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— é a situação perfeita para o rastreamento. </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Foi o primeiro câncer estudado no contexto de rastreamento e ocorreu na década de 80, usando radiografia de tórax. Os resultados foram bem decepcionantes: rastreamento levou a mais mortes; não menos. Isso aconteceu porque o rastreamento desencadeou operações e algumas pessoas morreram dessas operações. A ideia do sobrediagnostico no câncer de pulmão era doida, mas aconteceu. Então, veio o rastreamento usando TC espiral. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo com TC espiral sabiam do problema do sobrediagnóstico. O que eles fizeram foi inovador; quando a TC espiral encontrava alguma lesão preocupanete, eles não agiam e não faziam a biópsia de imediato; eles esperavam três meses para saber se a lesão estava crescendo. Eles usaram o valor diagnóstico do tempo. O tempo provê informação tanto sobre a genética do tumor quanto sobre a reação do corpo. É um passo para a frente para a melhoria do rastreamento. </span><br />
<br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> Tudo muda quando você olha para um a população de alto risco (lembre que fumantes são 20 vezes mais prováveis de morrerem de câncer de pulmão do que não fumantes). Um grupo de alto risco é muito menos provável de ser sobrediagnosticado e mais provável de ser ajudado. Mas não há fatores de risco tão comuns e tão poderosos como tabagismo. A maioria dos cânceres ocorre de forma esporádica e não por causa de um fator de risco óbvio. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: Nos estudos clínicos dos programas populacionais de rastreamento do câncer, não há redução da mortalidade geral. Pode explicar por que isso é importante? </span></b><br />
<i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt; font-weight: bold;">Welch</i><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">: </b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Começa com o que consideramos uma morte por câncer. No contexto de avaliar um rastreamento, eu quero que a morte pelo câncer inclua não só mortes causadas pelo câncer assim como mortes causadas pelas intervenções realizadas para procurar e tratar o câncer. E não é isso que acontece. É por isso que a mortalidade geral é importante. Se vamos falar para as pessoas que rastreamento "salva vidas", eu gostaria de saber se o rastreamento muda o risco de morte. A não ser que você queria entrar no jogo de que uma morte é mais importante do que outra. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></span>
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Um bom exemplo é um estudo clássico </span></span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— o estudo de Minnesota. Atualmente tem 30 anos de acompanhamento (follow-up). Há três grupos no estudo: rastreamento anual, bienal e grupo controle. Depois de 30 anos, 2% do grupo anual e 3% do grupo controle morreram de câncer colorretal. Este é o benefício: 1%, ou em termos relativos, uma redução de 33% da mortalidade do câncer colorretal. Entretanto, a mortalidade geral foi a mesma em todos os grupos (Figura 2). É díficil dizer que isso é salvar vidas; podemos estar trocando uma forma de morte por outra. </span><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Cuzwz5b7RpM/Xqd8nzSN69I/AAAAAAAAfyY/2AyRGN0whEgrLaPuJMpaPiyjBC9B1K87gCEwYBhgL/s1600/fig2.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="832" data-original-width="897" height="296" src="https://1.bp.blogspot.com/-Cuzwz5b7RpM/Xqd8nzSN69I/AAAAAAAAfyY/2AyRGN0whEgrLaPuJMpaPiyjBC9B1K87gCEwYBhgL/s320/fig2.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><span style="font-size: 12.8px;">Figure 2. O estudo do rastreamento do câncer colorretal de Minnesota: A mortalidade geral foi a mesma entre três grupos: controle (não rastreados), </span><span style="font-size: 12.8px;">rastreamento anual, e rastreamento bienal (Shaukat et al. 2013).</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: Dado que os benefícios do rastreamento não são grandes e há danos, quais as razões pela forte promoção do rastreamento? </span></b><br />
<i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt; font-weight: bold;">Welch</i><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">: </b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">A primeira é a crença genuína que a detecção precoce ajuda, como uma solução para um doença ruim. Dinheiro é outro motivo, porque rastreamento é uma boa maneira de recrutar novos pacientes. É bom para a indústria farmacêutica, para fabricantes de exames e bom para nossos hospitais. A idéia de procurar por doença precoce é poderosa: se você argumentar que todo mundo deve fazer alguma coisa, é um grande mercado. </span><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>: O que você pode dizer sobre o exame clínico da mama e o auto-exame da mama frequentemente divulgados para mulheres?</span></b><br />
<i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt; font-weight: bold;">Welch</i><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">: </b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Os dados são claros que o exame clínico da mama e ensinar as mulheres a se auto-examinarem parecem não ajudar. Mas se uma mulher perceber um novo caroço na mama, ele deve ser avaliado. Parte da atenção ao câncer de mama foi boa. Ironicamente, é possível que a mamografia seja a melhor maneira de fazer o exame clínico da mama, se o limite de anormalidade fosse para coisas de 1-cm ou maiores. Acho que muito do dano da mamografia poderia ser reduzido se os limites para investigações subsequentes fossem muito maiores. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></span>
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O dilema do rastreamento é que temos de envolver um bom número de pessoas para potencialmente ajudar algumas. Temos de prestar atenção para não perturbar as demais. </span></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Nogueira</i>:</span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> <b>Como você analisa o artigo que afirmou um aumento em casos avançados de câncer de próstata após a recomendação </b></span><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 16px;">contra o rastreamento</b><b style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;"> da USPSTF de 2012?</b><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><i>Welch</i>:</span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> Esse relato </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— um número aumentado de casos avançados de câncer de próstata </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— tinha muitas falhas. Eles falaram apenas de "contagem"; eles nunca tiveram um denonimador. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">Nos dados dos Estados Unidos até agora (Figure 3), a incidência do câncer de próstata metástico na primeira apresentação </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— o câncer que já é metástico no momento do diagnóstico </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— continua estável. Mas espero aumentar. </span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O que você observa é que a implementação do rastreamento com PSA teve um efeito nessa incidência </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">— quase caiu pela metade. Isso é um sinal que os cânceres ruins estão sendo encontrados mais cedo. Mas agora está bem estável, mas eu não me surpreenderia se subisse novamente, porque o rastreamento com PSA está caindo. Se isso muda a mortalidade, é uma pergunta separada, porque, para isso ocorrer, o tratamento prococe precisa fazer a diferença. </span><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Note, em comparação, que a incidência do câncer de mama metástico na primeira apresentação nunca mudou; é bem estável. O rastreamento mamográfico não tem conseguido reduzir a quantididade de câncer de mama diagnósticado nesse estágio mais avançado. Essa culpa não é dos radiologistas, a culpa é dos casos mais agressivos (os passários na analogia do celeiro).</span><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></b></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-XmLEaRdFqwE/Xqd8n4vyELI/AAAAAAAAfyU/C24Rph_7WV0WfkFiyk4VzYthtaa_3gglQCEwYBhgL/s1600/fig3.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="491" data-original-width="672" height="291" src="https://1.bp.blogspot.com/-XmLEaRdFqwE/Xqd8n4vyELI/AAAAAAAAfyU/C24Rph_7WV0WfkFiyk4VzYthtaa_3gglQCEwYBhgL/s400/fig3.png" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Figura 3. Incidência de câncer de mama metastático na primeira presentação nos Estados Unidos, 1975–2012 (Welch et al. 2015).<br />
<div>
<br /></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Notas: </span></b><br />
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">*<i> Nenhum dos livros escritos por Gilbert Welch possui edição no Brasil</i>. Os títulos mencionados no texto são tradução livre dos livros com os seguintes títulos (na ordem que aparecem): <b> </b></span><br />
<br />
<ul>
<li><i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">Should I Be Tested For Cancer? Maybe Not and Here’s Why</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">;</span></li>
<li><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><i style="text-align: justify;">Overdiagnosed – Making People Sick in the Pursuit of Health</i><span style="text-align: justify;">;</span><i style="text-align: justify;"> </i></span></li>
<li><i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 16px;">Less Medicine, More Health – 7 Assumptions That Drive Too Much Medical Care</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16px;">.</span><i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 16px;"> </i></li>
</ul>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"></span></div>
<b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Referências:</span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Shaukat, A., S.J. Mongin, M.S. Geisser, et al. 2013. Long-term mortality after screening for colorectal cancer. <i>N Engl J Med</i>. 369(12):1106-14. doi: 10.1056/NEJMoa1300720.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Welch, H.G., O.W Brawley. 2018. Scrutiny-Dependent Cancer and Self-fulfilling Risk Factors. <i>Ann Intern Med.</i> 168(2):143-144. doi: 10.7326/M17-2792.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Welch, H.G., D.H. Gorski, P.C. Albertsen. 2015. Trends in Metastatic Breast and Prostate Cancer — Lessons in Cancer Dynamics. <i>N Engl J Med</i> 373:1685-1687 doi: 10.1056/NEJMp1510443<o:p></o:p></span></div>
<br />Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-16126256095465880432019-04-02T23:00:00.005-03:002021-04-21T02:11:50.533-03:00Rastreamento dos cânceres de próstata e mama: é mais complexo do que parece<div style="text-align: justify;">
<div class="Normal1">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-3f1t9nAi1OI/XKQR1x8cL8I/AAAAAAAAYrc/3r_ztToWjU8KxSJAySylrlYMfo4PtMX1wCLcBGAs/s1600/abstract.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="257" data-original-width="641" height="160" src="https://2.bp.blogspot.com/-3f1t9nAi1OI/XKQR1x8cL8I/AAAAAAAAYrc/3r_ztToWjU8KxSJAySylrlYMfo4PtMX1wCLcBGAs/s400/abstract.JPG" width="400" /></a></div>
<b><br /></b>
<b><br /></b><b>publicado na <a href="https://www.csicop.org/si/archive/category/volume_43.1" target="_blank"><i>Skeptical Inquirer</i> Volume 43.1 (Jan/Fev 2019)</a></b><br />
<br />
O rastreamento do câncer busca pela
doença antes de seus sintomas aparecem. As mensagens encorajando o rastreamento
dos cânceres de próstata e mama contêm estatísticas enganadoras e também não discutem o principal dano do rastreamento: ser diagnosticado e tratado
desnecessariamente. </div>
<div class="Normal1">
<br /></div>
<span face=""arial" , "sans-serif"" style="font-size: 11pt; line-height: 115%;">Felipe Nogueira</span></div>
<br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div>
<table align="left" cellpadding="0" cellspacing="0" hspace="0" vspace="0">
<tbody>
<tr>
<td align="left" style="padding-bottom: 0cm; padding-left: 0cm; padding-right: 0cm; padding-top: 0cm; padding: 0cm;" valign="top"><div class="Normal1" style="border: none; break-after: avoid; line-height: 31.7pt; mso-border-shadow: yes; mso-element-anchor-horizontal: column; mso-element-anchor-vertical: paragraph; mso-element-linespan: 2; mso-element-wrap: around; mso-element: dropcap-dropped; mso-height-rule: exactly; mso-line-height-rule: exactly; mso-padding-alt: 31.0pt 0cm 0cm 31.0pt; page-break-after: avoid; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 36.5pt;">O<o:p></o:p></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="Normal1">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-AjUPVoBoAD0/XKQRl0h9_fI/AAAAAAAAYrU/BFGfONHCnis6BaiI7anKZwhjs2U0tSciQCLcBGAs/s1600/48374204_2001095236593893_4225560371093569536_n.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="731" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-AjUPVoBoAD0/XKQRl0h9_fI/AAAAAAAAYrU/BFGfONHCnis6BaiI7anKZwhjs2U0tSciQCLcBGAs/s320/48374204_2001095236593893_4225560371093569536_n.jpg" width="242" /></span></a><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">utubro Rosa e Novembro
Azul são campanhas de conscientização dos cânceres de mama e próstata,
respectivamente. No Brasil e em outros países, a população é incentivada a
realizar exames como o PSA para o câncer de próstata e mamografia para o câncer
de mama. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A principal ideia é o
rastreamento<i> </i>(<i>screening</i>): fazer exames em pessoas <i>assintomáticas</i>, com objetivo de detectar a doença antes dos
sintomas aparecerem e, com isso, aumentar as chances de cura e até oferecer um
tratamento menos agressivo. Um bom exemplo é o rastreamento do câncer de colo
de útero, onde a incidência de casos avançados diminuiu depois que o exame
Papanicolau foi iniciado (Adegoke et al. 2012). Entretanto, estudos que
analisam a eficácia do rastreamento dos cânceres de próstata e mama mostram que
a realidade não é tão simples como divulgada nessas campanhas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Em Maio de 2018, a Força-Tarefa
de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) revisou os estudos de
rastreamento do câncer de próstata com PSA (Fenton et al. 2018). Apenas dois
estudos randomizados controlados tiveram qualidade suficiente para avaliar o
impacto do PSA na mortalidade. Um deles chamado de PLCO<sup>1</sup> não mostrou
diferença na mortalidade. O segundo estudo, chamado ERSPC<sup>2</sup>, mostrou
que o rastreamento reduziu a mortalidade do câncer de próstata em homens entre
55-69 anos. Mas ainda assim não é tão simples. Para evitar uma morte por câncer
de próstata e três casos de câncer de próstata com metástase, 1000 homens entre
55-69 anos precisaram ser rastreados a cada quatros anos durante 13 anos. Dos
1000, 27 homens receberam tratamento <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">—</span> cirurgia para remoção da próstata e/ou
radiação. Mais importante, a maioria dos homens tratados, 24 pacientes, recebeu
tratamento agressivo sem nenhum benefício, apenas danos causados pelo próprio
tratamento. Independente de terem feito rastreamento, cinco homens morreram de
câncer de próstata. Veja a Tabela 1 para as estimativas completas.<o:p></o:p></span></span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-KZxkbKMJevI/XKbAGafoT-I/AAAAAAAAYso/amSGaXLxpbAVGmYGtfDqVNvVQeXU_VosACLcBGAs/s1600/Tabela.JPG" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="728" data-original-width="685" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-KZxkbKMJevI/XKbAGafoT-I/AAAAAAAAYso/amSGaXLxpbAVGmYGtfDqVNvVQeXU_VosACLcBGAs/s400/Tabela.JPG" width="376" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;">Tabela
1 – Estimativas da USPSTF dos benefícios e danos do rastreamento do câncer de
próstata no estudo ERSPC (Fenton et al. 2018).</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Uma análise criteriosa do rastreamento tem de
considerar os danos causados pelo tratamento. A revisão da USPSTF encontrou
que, daqueles que fazem cirurgia para remoção completa da próstata, um em cinco
homens desenvolve incontinência urinária e dois a cada três homens têm
impotência. Mais da metade daqueles que recebem radiação desenvolve impotência
e um em seis desenvolve sintomas intestinais, incluindo urgência e
incontinência fecal (Fenton et al. 2018). </span></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">A visão geral de que o
rastreamento do câncer de próstata pode fazer mais mal do que bem é longe de
ser novidade. Uma meta-análise de 2013 da Cochrane (Ilic et al. 2013) de cinco
estudos não mostrou redução na mortalidade. Em 2012, a USPSTF tinha recomendado
contra o rastreamento independente da idade. Atualmente, a USPSTF conclui que
os benefícios e malefícios do rastreamento para homens com 55-69 anos são
balanceados, recomendando uma decisão individual após uma consideração
cuidadosa dos potenciais benefícios e danos. Para homens com 70 anos ou mais, a
USPSTF recomenda contra o rastreamento. Veja o <a href="https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Home/GetFileByID/3716" target="_blank">link</a> para a Figura de apoio à decisão da USPSTF.</span></span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span>
</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Em relação ao câncer de
mama, a evidência parece um pouco mais favorável ao rastreamento, mas não de
forma tão clara como as mensagens das campanhas sugerem. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Um artigo publicado no </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">JAMA</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> em 2018 (Keating e Pace 2018)
estimou que 10 em 10 mil mulheres nos seus cinquenta anos rastreadas anualmente
durante dez anos evitariam morte por câncer de mama. Em contrapartida, 940
mulheres seriam submetidas a biópsias desnecessárias e 44 seriam tratadas
desnecessariamente com cirurgia, radiação, quimioterapia, ou terapia hormonal.
Independente do rastreamento, 62 mulheres ainda morreriam de câncer de mama.
Como o tratamento para câncer de mama melhorou muito desde que os estudos foram
conduzidos, o benefício do rastreamento pode ainda ser menor do que o reportado
(Keating e Pace 2018). Para oferecer benefícios e reduzir os danos, a USPSTF
recomenda mamografia para mulheres entre 50-74 anos apenas </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">a cada dois
anos</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> e recomenda </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">contra </i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">ensinar o
auto-exame da mama*.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Essa complexidade não
está restrita ao câncer de próstata e mama. Entre 1975 e 2009, a incidência de
câncer de tireoide praticamente triplicou nos Estados Unidos; de 4,9 para 14,4
em cada 100 mil pessoas. No entanto, a mortalidade continuou constante: 0,56 a
cada 100 mil pessoas (Esserman et al. 2014).
Já um estudo finlandês mostrou que, em 36% dos participantes sem
qualquer sinal de doença na tireoide, pelo menos um nódulo do tipo mais brando
na tireoide</span><a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack" style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;"></a><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> foi detectado na autópsia (Esserman et al.
2014). </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Estudos de autópsia da
próstata em homens que morreram por outras causas também mostram um grande
“reservatório” de câncer. Em homens autopsiados entre 60-79 anos, a incidência
de câncer de próstata variou entre 14 e 77%. Surpreendentemente, câncer de
próstata foi encontrado até em homens autopsiados em seus vinte anos de idade,
com uma incidência de 8-11% (Sandhu e Adriole 2012).</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="Normal1">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">O que esses dados estão
descrevendo é chamado </span><i style="font-family: "times new roman", serif; font-size: 12pt;">sobrediagnóstico</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">
(Welch e Black 2010; Carter e Barrat 2017). O rastreamento detecta principalmente
casos de câncer não letais ou indolentes </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">—</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> se não fosse pelo rastreamento,
morreríamos com esses cânceres sem nem termos conhecimento que tínhamos a
doença.</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
</div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Sobrediagnóstico não é
um resultado falso-positivo, onde após um teste positivo a avaliação
subsequente não detecta sinais de câncer. No sobrediagnóstico, a lesão
detectada de fato preenche os critérios de diagnóstico para câncer, mas não
teria causado sintomas (por exemplo, não teria sido diagnosticado na ausência
de rastreamento) (Welch e Black 2010; Carter e Barrat 2017). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="Normal1">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">O sobrediagnóstico e
sua consequência são os principais danos do rastreamento. Uma vez que no
momento do diagnóstico é impossível diferenciar lesões indolentes das letais,
quase todos os casos são tratados (Welch e Black 2010). Estimativas sugerem que
entre 20 e 60% dos cânceres de próstata detectados por rastreamento foram
sobrediagnosticados (Fenton et al. 2018; Carter et al. 2015). Dos cânceres de
mama detectados por rastreamento, a estimativa de sobrediagnóstico obtida pelos
estudos randomizados é 19% (Keating e Pace 2018), enquanto uma análise de
programas de rastreamento reportou 52% (Jørgensen e Gøtzsche 2009). Então,
alguns podem se beneficiar do rastreamento do câncer de próstata e mama, porém
mais pacientes lidam com danos de um tratamento agressivo que eles nem sequer
precisavam.</span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Uma das premissas do
rastreamento é que o câncer tem uma progressão linear, que sempre permite
detecção antes de ser letal. Mas essa premissa está desatualizada. O câncer é
uma doença heterogênea, com diferentes taxas de progressão (Figura 1) (Carter e
Barrat 2017). É mais provável que o rastreamento detecte os casos de câncer que
crescem devagar ou que teriam regredido. Criticamente, os mais letais, aqueles
que crescem rápido, são menos prováveis de serem detectados pelo rastreamento,
uma vez que eles tendem a causar sintomas no intervalo entre exames de
rastreamento (Carter e Barrat 2017). </span><br />
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
</span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/--kwn-MLzhgc/XKQTmUpj5fI/AAAAAAAAYro/kWVMc2pUeDcwL0AQ-iJaemFQQb-BBZBqwCLcBGAs/s1600/Figure2.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="976" height="228" src="https://1.bp.blogspot.com/--kwn-MLzhgc/XKQTmUpj5fI/AAAAAAAAYro/kWVMc2pUeDcwL0AQ-iJaemFQQb-BBZBqwCLcBGAs/s400/Figure2.png" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div class="Normal1" style="line-height: 125%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 9pt; line-height: 125%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Figura
1 – Heterogeneidade do câncer. Nem todos os casos tem a mesma taxa de
progressão. (Carter e Barrat 2017 – adaptado de Welch e Black 2010).<o:p></o:p></span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Enquanto que as
mensagens encorajando o rastreamento raramente mencionam sobrediagnóstico, elas
frequentemente trazem afirmações como “se o câncer for diagnosticado
precocemente, a chance de cura é 95%, mas cai para 20% se for diagnosticado em
estágios avançados”. Entretanto, quando há sobrediagnóstico, a proporção de
pacientes curados fica enviesada, uma vez que o número de pacientes que
sobreviveram vai aumentar “automaticamente”, porque esses pacientes com esses
casos não fatais são classificados como "curados", mesmo quando o
rastreamento não oferece nenhum benefício. Ironicamente, o aumento da
incidência e taxas infladas de cura devido ao sobrediagnóstico podem aumentar
os esforços para fazer rastreamento, levando a mais sobrediagnóstico <sup>3</sup> (Brodersen
et al. 2018). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Outra maneira que a
estatística de sobrevivência (ou sobrevida) fica enviesada está relacionada com quanto tempo o
paciente vive após o diagnóstico. O rastreamento só é eficaz se conseguir
detectar doença precocemente. Considere, por exemplo, que sem rastreamento, pacientes
são diagnosticados pelos sintomas aos 70 anos e morrem aos 75 anos. Agora, considere
que esses pacientes seriam diagnosticados por rastreamento aos 65 anos e morreriam
pelo câncer dez anos depois. Com essas descrições, o rastreamento parece ser
benéfico, já que quem faz rastreamento tem sobrevida de 10 anos, enquanto que
sobrevive 5 anos após o diagnóstico. Em ambos os casos, os pacientes morreram
com a mesma idade; o rastreamento apenas antecipou o diagnóstico, sem prolongar
a vida. Isso é chamado de viés do tempo ganho (<i>lead time bias</i>) (Raffle e Gray 2007). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">
</span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Devido a vieses, a
estatística de sobrevivência (ou sobrevida) não mostra a eficácia do
rastreamento. Se rastreamento é eficaz, a incidência de casos avançados tem de
cair. Após a introdução de rastreamento dos cânceres de próstata e mama, é
esperado um aumento da incidência de casos iniciais dessas doenças. Isso deve
ser seguido, à medida que a população envelhece, por um declínio compensatório
em casos avançados, enquanto a incidência geral permanece igual (Esserman et
al. 2009). Note na Figura 2 que a incidência de casos iniciais de câncer de
mama aumentou significativamente, enquanto que a incidência de casos regionais
caiu bem pouco e a taxa de metástases para outras partes do corpo permaneceu
estável. Curiosamente, apesar da mortalidade do câncer de mama estar caindo, o
declínio foi maior em mulheres jovens não convidadas para o rastreamento (Gøtzsche
et al. 2012; Narod et al. 2015). Além disso, a mortalidade do câncer de mama
caiu de forma parecida em todos os lugares do mundo, mas o inicio do
rastreamento difere entre os países (Gøtzsche 2015a). Observações semelhantes
podem ser feitas sobre o câncer de próstata. Após o rastreamento, não houve um
declínio significativo da mortalidade como esperado, e diferentes taxas do uso
de rastreamento e tratamento não relacionam com a mortalidade do câncer de
próstata (Esserman et al. 2009). Essas análises temporais, embora não demonstrem
causalidade, indicam que o rastreamento leva a considerável sobrediagnóstico de
casos iniciais e seu impacto na mortalidade no melhor caso é pequeno.<o:p></o:p></span></span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
</span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Q0rTS7ARV9k/XKQT5UOhrQI/AAAAAAAAYrw/cEVO6QdZ_GExgQ00CBWflpfFgro3AtBmgCLcBGAs/s1600/Figure3.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="265" data-original-width="514" height="205" src="https://1.bp.blogspot.com/-Q0rTS7ARV9k/XKQT5UOhrQI/AAAAAAAAYrw/cEVO6QdZ_GExgQ00CBWflpfFgro3AtBmgCLcBGAs/s400/Figure3.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div class="Normal1" style="line-height: 125%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 9pt; line-height: 125%;">Figura 2 – Taxas de incidência dos
diferentes estágios do câncer de mama em mulheres americanas e brancas
padronizadas pela idade. SEER 9, 1975–2011 (Narod et al. 2015). <o:p></o:p></span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
</div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A melhor maneira para
avaliar a eficácia do rastreamento é usando ensaios clínicos randomizados, como
PLCO e ERSPC. Estudos clínicos comparam o grupo rastreado com um grupo
controle, procurando por uma redução das mortes causadas pelo câncer sendo
rastreado <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">—</span> o que é chamado de mortalidade específica do câncer. É, por
exemplo, a redução na mortalidade do câncer de mama que leva a afirmação que o
rastreamento com mamografia “salva vidas”. Porém, como as mulheres sobrediagnosticadas
com câncer de mama podem receber radioterapia, que aumenta mortalidade devido a
câncer de pulmão (Gøtzsche 2015b), o rastreamento pode causar mais mortes do
que mortes evitadas devido ao câncer de mama. Uma vez que as mortes de
tratamento são usualmente classificadas como outras causas, a mortalidade
especifica do câncer é enviesada a favor do rastreamento. Esse viés é evitado
usando a mortalidade geral. O que pode ser assustador é que os estudos clínicos
de rastreamento não mostram redução na mortalidade geral. Como Vinay Prasad e
coautores escreveram no BMJ, “nunca foi demonstrado que o rastreamento do
câncer salva vidas” <sup>4</sup>. O rastreamento aumenta as mortes por outras causas? Não
sabemos ainda – pode ser apenas “chance”, uma vez que milhões de pessoas seriam
necessárias em um estudo clínico para detectar diferença na mortalidade geral. Prasad
e coautores acreditam que esses grandes ensaios clínicos são necessários para
conhecermos os efeitos do rastreamento. Em contraste, o pesquisador Peter Gøtzsche
acredita que fazer tais estudos não é ético, já que muitas pessoas teriam de
ser rastreadas sem sabermos se isso prolongaria as suas vidas, enquanto que os
faria mais infelizes devido a estresse psicológico causados por falso-positivos
e sobrediagnósticos. Devido a pequeno, se algum, beneficio na mortalidade, mas
danos documentados, Gøtzche afirmou que o rastreamento com mamografia teria
sido retirado do mercado, se fosse um medicamento (Gøtzsche 2015b).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Outros pesquisadores, como a Laura Esserman,
acreditam que devemos focar em melhorar o rastreamento. Por exemplo, ela e
coautores sugerem não chamar tais casos indolentes usualmente detectados por
rastreamento de “câncer” (Esserman et al. 2009) Uma vez que, na cabeça de
médicos e pacientes, um diagnóstico de câncer é associado com uma doença letal
que causa sofrimento, renomear tais casos para <i>lesões indolentes</i> pode reduzir tratamento desnecessário. Isso foi
proposto pela primeira vez pelo menos há dez anos, mas em Agosto de 2018 outros
cientistas ainda estão pedindo por essas mudanças (Nickel et al. 2018).
Esserman também propôs focar em um rastreamento baseado no risco, que foca em
pessoas com alto risco de câncer. Testar se o rastreamento baseado em risco
pode reduzir o uso da mamografia sem aumentar casos avançados é o objetivo do
estudo Wisdom (Esserman et al. 2017).</span></span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Enquanto isso, o
publico precisa ser informado adequadamente. As campanhas de conscientização
precisam ser usadas para informar a população as complexidades do rastreamento.
Isso é bem importante. De acordo com pesquisas de opinião, mulheres
superestimam os benefícios da mamografia por um fator entre 10 e 200 (Wegwarth e
Gigerenzer 2018). Além disso, como o rastreamento é frequentemente promovido
como prevenção, 68% das mulheres em uma pesquisa de opinião acreditaram
erradamente que mamografia reduz as chances de desenvolver câncer de mama. (</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;">Domenighetti
et al 2003</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Como um artigo de perspectiva no <i>New England Journal of Medicine</i> colocou,
“Como as mulheres podem fazer uma decisão informada se elas superestimam o
beneficio da mamografia tão grosseiramente?” Isso pode ser explicado pela falha
dos médicos em comunicar os riscos do rastreamento: em uma pesquisa de opinião
com 300 pacientes de rastreamento nos Estados Unidos, 90% deles não receberam
informação do seu médico sobre os possíveis danos do rastreamento (Wegwarth e
Gigerenzer 2018).</span></span></span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Essa não é a história
completa. Uma revisão sistemática mostrou que médicos usualmente superestimam
os benefícios do rastreamento e tratamento enquanto que subestimam seus danos.
Uma pesquisa de opinião com médicos dos Estados Unidos sugeriu que médicos não
compreendem as estatísticas do rastreamento: 76% dos médicos participantes
foram enganados pela métrica de sobrevida discutida anteriormente (Wegwarth et
al. 2012). Eles equivocadamente pensaram que pacientes diagnosticados por
rastreamento com melhores taxas de sobrevida (5 após o diagnóstico) do que
pacientes diagnosticados por sintomas significa que o rastreamento salvou
vidas. Em um artigo, Wegwarth e Gigerenzer (2018) perguntaram “Por que o
conhecimento do risco é tão escasso na saúde?” Os autores discutiram como a
dificuldade de entender os riscos e benefícios na saúde provavelmente se deve como
a informação estatística é apresentada, em artigos enviesados em períodos
médicos e até o uso do risco relativo e estatística enganadora pela mídia. E
pesquisas mostram como ferramentas elaboradas para auxiliar a decisão ajudam os
pacientes a ficarem mais informados em relação ao rastreamento (Stacey et al. 2014). Os
pesquisadores concluíram perfeitamente: “Uma crítica massa de cidadãos
informados não irá resolver todos os problemas na saúde, mas pode constituir um
grande gatilho para uma melhor saúde” (Wegwarth e Gigerenzer 2018).</span> </span></span></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"></span><br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0px; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"></span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
</div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
<span style="font-family: inherit;"><b>*Observações: </b></span></div>
<div style="font-weight: 400; margin: 0px;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="font-weight: 400; margin: 0px;">
<span style="font-family: inherit;">Adicionada faixa etária de 50-74 anos para da recomendação da USPSTF para rastreamento mamográfico (ausente no artigo impresso na revista). </span></div>
<div style="font-weight: 400; margin: 0px;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="font-weight: 400; margin: 0px;">
<span style="font-family: inherit;"><u>As recomendações do Instituto Nacional do Câncer (INCA) são: </u></span></div>
<div style="font-weight: 400; margin: 0px;">
</div>
<ul style="font-weight: 400;">
<li><span style="font-family: inherit;">O INCA não recomenda o rastreamento para o câncer de próstata em nenhuma faixa etária (Veja no <a href="https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//rastreamento-prostata-2013.pdf" target="_blank">link</a>); </span></li>
<li><span style="font-family: inherit;">O INCA recomenda rastreamento para o câncer de mama com mamografia para mulheres entre 50 e 69 anos a cada dois anos (Veja mais no <a href="https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/acoes-de-controle/deteccao-precoce" target="_blank">link</a>) . </span></li>
</ul>
<div style="font-weight: 400;">
</div>
</div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><b>Notas</b>:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">1. PLCO: </span><span lang="EN-US" style="background: white; color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Prostate,
Lung, Colorectal, and Ovarian Cancer Screening Trial</span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">2. ERSPC: </span><span lang="EN-US" style="background: white; color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">European
Randomized Study of Screening for Prostate Cancer</span><span lang="EN-US" style="color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">3. Isso foi chamado do paradoxo da
popularidade: “Quanto maior o dano pelo sobrediagnóstico e sobretratamento
gerado pelo rastreamento, mais pessoas acreditarão que devem a saúde, ou ate
suas vidas, ao programa”. (Raffle e Grey 2007, 68).</span></span></div>
<div class="Normal1">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">4. Um estudo clínico de 2011 de rastreamento
com tomografia em fumantes reportou redução da mortalidade geral. Embora isso
seja um caso de rastreamento em um grupo de alto risco, Prasad e coautores
consideraram a melhor evidência para redução da mortalidade geral em um estudo
de rastreamento do câncer. Entretanto, como discutido pelos autores, uma
meta-análise de 2013 para USPSTF não demonstrou redução da mortalidade geral (Prasad et al. 2016). <o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br /></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Livros interessantes:<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<div class="Normal1" style="border: none; line-height: normal; margin-left: 7.1pt; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; text-indent: -7.1pt;">
<!--[if !supportLists]--><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span lang="EN-US" style="font-family: "symbol";">·<span style="font-family: "times new roman"; font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><i><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Overdiagnosed:
Making People Sick in the Pursuit of Health</span></i><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif";"> de H. Gilbert Welch, Lisa Schwartz e Steve Woloshin
(2012); <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; margin-left: 7.1pt; text-indent: -7.1pt;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
<h5 style="background: white; border: none; line-height: 14.25pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 7.1pt; mso-background-themecolor: background1; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-padding-alt: 0cm 0cm 0cm 0cm; text-indent: -7.1pt;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: small;"><span color="windowtext" lang="EN-US" style="font-family: "symbol"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;">·<span style="font-family: "times new roman"; font-stretch: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-weight: normal;"><span class="a-size-medium"><i><span color="windowtext" lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mammography Screening: Truth, Lies
and Controversy</span></i></span><span color="windowtext" lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: Calibri;"> de
Peter C. Gøtzsche </span><span color="windowtext" lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US;">(2012)</span></span></span><span color="windowtext" lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="font-size: small; font-weight: normal;">. </span><o:p></o:p></span></span></h5>
</div>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">
</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div class="WordSection1">
<div class="Normal1" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Referências<o:p></o:p></span></b></span></div>
</div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><b><span style="line-height: 115%;"><br clear="all" style="break-before: page; mso-break-type: section-break; page-break-before: always;" />
</span></b>
</span></span><br />
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US">Adegoke, O., S. Kulasingam, and B.
Virnig. 2012. Cervical cancer trends in the United States: a 35-year
population-based analysis. <i>Journal of
Womens Health (Larchmt)</i> 21(10):1031-7. doi: 10.1089/jwh.2011.3385. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Biller-Andorno, N. 2014. Abolishing
Mammography Screening Programs?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A View
from the Swiss Medical Board. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">New England
Journal of Medicine</i> 370(21): 1965-1967<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Brodersen, J., B.S. Kramer, H. Macdonald, et al. 2018. Focusing on overdiagnosis
as a driver of too much medicine. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">BMJ</i>
362:k3494. doi: 10.1136/bmj.k3494<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Carter, J.L., R.J. Colett, and R.P.
Harri. 2015. Quantifying and monitoring overdiagnosis in cancer screening: a
systematic review of methods. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">BMJ </i>350:g7773.
doi: 10.1136/bmj.g7773<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Carter, S.M., and A. Barratt. 2017. What is overdiagnosis and why should
we take it seriously in cancer screening<i style="mso-bidi-font-style: normal;">?
Public Health Research and Practice </i>27(3):e2731722. doi:
https://doi.org/1017061/phrp2731722<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></span></div><div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Domenighetti, G., B. D’Avanzo, M. Egger, et al. 2003. Women’s perception
of the benefits of mammography screening: population-based survey in four
countries. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">International Journal of
Epidemiology</i> 32:816-21<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Esserman, L.J., H. Anton-Culver, A. Borowsky, et al. 2017. The WISDOM
Study: breaking the deadlock in the breast cancer screening debate<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. npj Breast Cancer</i> 3:34.
doi:10.1038/s41523-017-0035-5<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></span></div><div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Esserman, L.J., I.M. Thompson, B.
Reid, et al. 2014. Addressing overdiagnosis and overtreatment in cancer: a
prescription for change. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lancet Oncology</i> 15: e234-e242. doi:
10.1016/S1470-2045(13)70598-9<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Esserman, L, Y. Shieh, and I.
Thompsom. 2009. Rethinking screening for breast cancer and prostate cancer. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">JAMA</i> 302(15):1685-92. doi:
10.1001/jama.2009.1498.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Fenton, J.J., M.S. Weyrich, S. Durbin,
et al. 2018. Prostate-specific antigen–based screening for prostate cancer: A
systematic evidence review for the U.S. Preventive Services Task Force. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Agency for Healthcare Research and Quality</i>,
Evidence Synthesis No. 154. AHRQ Publication No. 17-05229-EF-1. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Gøtzsche, P.C. 2015a. Commentary: Screening: a seductive paradigm that
has generally failed us. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">International
Journal of Epidemiology</i> 244(1): 278-80. doi: 10.1093/ije/dyu267.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">———. 2015b. Mammography screening is harmful and should be abandoned. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Journal of the Royal Society of Medicine</i>
108(9): 341–345. doi:10.1177/0141076815602452<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Hoffman, T.C., and C. Del Mar. 2017. Clinicians’ expectations of the
benefits and harms of Treatments, Screening, and Tests: A Systematic Review<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. JAMA Internal Medicine</i> 177(3):407-419.
doi: 10.1001/jamainternmed.2016.8254.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ilic, D., M.M. Neuberger, M.
Djulbegovic, and P. Dahm. 2013. Screening for prostate cancer. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cochrane Database of Systematic Reviews</i>,
Issue 1. Art. No.: CD004720. doi: 10.1002/14651858.CD004720.pub3<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Jørgensen, K.J., and P.C. Gøtzsche. 2009. Overdiagnosis in publicly
organised mammography screening programmes: systematic review of incidence
trends. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">BMJ</i> 339:b2587. doi:
10.1136/bmj.b2587<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Keating, N.L., and L.E. Pace. 2018.
Breast cancer screening in 2018: time for shared decision making. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">JAMA</i>. doi:10.1001/jama.2018.3388<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Narod, S.A., J. Iqbal, and A.B. Miller. 2015. Why have breast cancer
mortality rates declined? <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Journal of
Cancer Policy</i> 5: 8-17 https://doi.org/10.1016/j.jcpo.2015.03.002<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nickel, B., R. Moynihan, A. Barratt,
et al. 2018. Renaming low risk conditions labelled as cancer. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">BMJ </i>362:k3322 doi: 10.1136/bmj.k3322<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Prasad, V., J. Lenzer, and D.H. Newman. 2016. Why cancer screening has
never been shown to “save lives”—and what we can do about it. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">BMJ</i> 352:h6080 doi: 10.1136/bmj.h6080<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Raffle, A.E., and J.A.M. Gray. 2007. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Screening:
evidence and practice</i>. Oxford University Press. </span><span lang="EN-US" style="background: white;">ISBN 978-0-19-921449-5</span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sandhu, G.S., and G.L Adriole. 2012. Overdiagnosis of prostate cancer. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Journal of the National Cancer Institute
Monographs</i> (45):146–151<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Stacey, D., F. Légaré, K. Lewis, et al. 2014. Decision aids for people
facing health treatment or screening decisions. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cochrane Database of Systematic Reviews</i> CD001431.doi: 10.1002/14651858.CD001431.pub5<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Wegwarth, O., and G. Gigerenzer. 2018. The barrier to informed choice in
cancer screening: Statistical Illiteracy in Physicians and Patients. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Recent Results in Cancer Research </i>210:
207-221. doi: 10.1007/978-3-319-64310-6_13.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Wegwarth, O., L.M. Schwartz, S. Woloshin, et al. 2012. Do physicians
understand cancer screening statistics? A national survey of primary care
physicians in the United States. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Annals
of Internal Medicine</i> 156:340-9. doi:
10.7326/0003-4819-156-5-201203060-00005.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></span></div>
<div class="Normal1" style="line-height: normal;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Welch, H.G., and W.C. Black. 2010. Overdiagnosis in cancer. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Journal of the National Cancer Institute </i>102:605–613</span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="Normal1">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
</div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-318463787118461562018-04-13T13:36:00.001-03:002018-04-13T13:36:37.428-03:00O Legado Científico de Stephen Hawking<div style="text-align: justify;">
<b>por Sean Caroll</b><br />
fonte: <a href="http://www.preposterousuniverse.com/blog/2018/03/16/stephen-hawkings-scientific-legacy/" target="_blank">Preposterous Universe</a><br />
tradução: Felipe Nogueira<br />
<br />
Stephen Hawking é o raro cientista que também é uma celebridade e um fenômeno cultural. Mas ele também é o raro fenômeno cultural cuja celebridade é inteiramente merecida. Suas contribuições podem ser caracterizadas de forma bem simples: Hawking contribuiu mais para o nosso entendimento da gravidade do que qualquer outro físico desde Albert Einstein. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Gravidade" é uma palavra importante aqui. Durante grande parte da carreira de Hawking, a física teórica como comunidade esteve muito mais interessada na física de partículas e em outras forças da natureza - eletromagnetismo e as forças forte e fraca. A gravidade "clássica" (ignorando as complicações da mecânica quântica) foi descoberta por Einstein na sua teoria da relatividade geral, e a gravidade quântica (criando uma versão quântica da relatividade geral) parecia muito difícil. Aplicando seu prodigioso intelecto à força mais conhecida da natureza, Hawking foi capaz de chegar a diversos resultados que surpreenderam completamente a comunidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por aclimatação, o resultado mais importante de Hawking é a realização que buracos negros não são completamente negros - eles emitem radiação, da mesma maneira como objetos comuns. Antes desse artigo famoso, ele provou teoremas importantes sobre buracos negros e singularidades, e depois estudou o universo como um todo. Em cada fase de sua carreira, as contribuições dele foram centrais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O Período Clássico</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto trabalhava na sua tese de doutorado em Cambridge no meio da década de 1960, Hawking ficou interessado na questão da origem e o destino final do universo. A ferramenta certa para investigar esse problema é a relatividade geral, a teoria de Einstein do espaço, tempo e gravidade. De acordo com a relatividade geral, o que percebemos como "gravidade" é uma consequência da curvatura do espaço-tempo. Entendendo como a curvatura é criada por massa e energia, podemos prever como o universo evolui. Isso pode ser visto como o período "clássico" do Hawking, contrastando a relatividade geral clássica com suas investigações posteriores na teoria quântica dos campos e na gravidade quântica. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por volta da mesma época, Roger Penrose em Oxford provou um resultado impressionante: de acordo com a relatividade geral, sob amplas circunstâncias, espaço e tempo colapsariam em si mesmos formando uma <i>singularidade</i>. Se a gravidade é a curvatura do espaço-tempo, uma singularidade é um momento no tempo quando essa curvatura se torna infinitamente grande. Esse teorema mostrou que singularidades não eram apenas curiosidades, elas são uma característica importante da relatividade geral. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O resultado de Penrose se aplicava a buracos negros <span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "georgia" , "times new roman" , "times" , serif; font-size: 17px;">—</span> regiões de espaço-tempo cujo campo gravitacional é tão forte que nem a luz não consegue escapar. Dentro de um buraco negro, a singularidade se esconde no futuro. Hawking pegou a ideia de Penrose e virou ao contrário, mirando no universo passado. Ele mostrou que, sob circunstâncias gerais parecidas, o espaço deve ter surgido a partir de uma singularidade: o Big Bang. Cosmólogos modernos falam (de forma confusa) tanto sobre o "modelo" de Big Bang, que é uma teoria muito bem sucedida que descreve a evolução de um universo em expansão ao longo de bilhões de anos, quanto sobre a "singularidade" do Big Bang, o que ainda não afirmamos entender.<br />
<br />
Hawking então mudou seu foco para buracos negros. Um outro resultado interessante de Penrose demonstrou que é possível extrair energia de um buraco negro em rotação, essencialmente sangrando seu spin até que não esteja mais em rotação. Hawking foi capaz de demonstrar que, embora é possível extrair energia, a área do horizonte de eventos circundante ao buraco o negro sempre aumentará em qualquer processo físico. Esse "teorema de área" foi importante por si só, mas foi também evocativo de uma área completamente separada da física: termodinâmica, o estudo do calor.<br />
<br />
A termodinâmica obedece um conjunto de leis famosas. Por exemplo, a primeira lei diz que a energia é preservada, enquanto a segunda lei diz que a entropia <span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "georgia" , "times new roman" , "times" , serif; font-size: 17px;">—</span> uma medida do nível de desordem do universo <span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "georgia" , "times new roman" , "times" , serif; font-size: 17px;">—</span> nunca diminui para um sistema isolado. Trabalhando com James Bardeen e Brandon Carter, Hawking propôs um conjunto de leis para a "mecânica de buraco negro", em uma analogia similar com a termodinâmica. Assim como na termodinâmica, a primeira lei da mecânica de buraco negro garante que a energia é preservada. A segunda lei é o teorema de área de Hawking, que a área do horizonte de eventos nunca diminui. Em um outras palavras, a área do horizonte de eventos é análoga à entropia de um sistema termodinâmico - ambos tendem a aumentar com o tempo.<br />
<b><br /></b>
<b>Evaporação do Buraco Negro</b> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Hawking e seus colaboradores estavam orgulhosos das leis da mecânica de buraco negro, mas eles vinham essas leis simplesmente como uma analogia formal, não uma conexão literal entre gravidade e termodinâmica. Em 1972, um estudante de pós-graduação na Universidade da Princeton chamado Jacob Bekenstein sugeriu que tinha algo a mais além de uma analogia. Bekenstein, usando como base alguns engenhosos experimentos de pensamento, sugeriu que o comportamento de buracos negros não apenas <i>parecia </i>com<i> </i>termodinâmica, de fato <i>é</i> termodinâmica. Em particular, buracos negros têm entropia.<br />
<br />
Como muitas ideias agressivas, essa ideia foi recepcionada com resistência por parte dos especialistas - e nesse momento, Stephen Hawking era o especialista do mundo em buracos negros. Hawking estava cético e por boas razões. Se a mecânica de buraco negro é apenas uma forma de termodinâmica, isso quer dizer que buracos negros possuem temperatura. E objetos que possuem temperatura emitem radiação - a famosa "radiação do corpo negro" que desempenhou um papel central no desenvolvimento da mecânica quântica. Então, se Bekenstein estivesse certo, isso implicaria que buracos negros não são realmente negros (embora o próprio Bekenstein não foi tão longe assim).<br />
<br />
Para endereçar esse problema seriamente, é preciso olhar além da relatividade geral, uma vez que a teoria de Einstein é puramente "clássica" - ela não incorpora os <i>insights </i>da mecânica quântica. Hawking sabia que os físicos Russos Alexander Starobinsky e Yakov Zel'dovich tinham investigado os efeitos quânticos na vizinhança de buracos negros e tinham previsto um fenômeno chamado "superradiância". Assim como Penrose tinha demonstrado que é possível extrair energia de um buraco negro em rotação, Starobinsky e Zel'dovich mostraram que um buraco negro em rotação pode emitir radiação espontaneamente via mecânica quântica. Hawking não era um especialista nas técnicas da teoria quântica de campos, que na época eram o território dos físico de partículas e não de relativistas gerais. Mas ele era um estudioso rápido e se lançou na difícil tarefa de entender os aspectos quânticos de buracos negros, para que ele pudesse encontrar o erro de Bekenstein.<br />
<br />
Em vez disso, ele se surpreendeu, e no processo virou a física teórica de cabeça para baixo. O que eventualmente Hawking descobriu era que Bekenstein estava certo — buracos negros <i>têm</i> entropia —e que as implicações extraordinárias dessa ideia eram verdade — buracos negros não são completamente negros. Nos referimos à "entropia de Bekenstein-Hawking" de buracos negros, que emitem "radiação Hawking" nas suas "temperaturas Hawking".<br />
<br />
Há uma maneira boa e informal de entender a radiação Hawking. A mecânica quântica diz (entre outras coisas) que não é possível atribuir um estado clássico definitivo para um sistema; há sempre uma incerteza intrínseca naquilo que veremos ao olharmos para o sistema. Isso é verdade até para o espaço vazio - quando se olha perto o suficiente, aquilo que pensamos ser espaço vazio está repleto de "partículas virtuais" <span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "georgia" , "times new roman" , "times" , serif; font-size: 17px;">—</span> constantemente vindo a existir e deixando de existir. Hawking demonstrou que, na vizinha de um buraco negro, um par de partículas virtuais podem se separar, uma caindo no buraco negro e a outra escapando como radiação. Surpreendentemente, a partícula em queda tem uma entropia negativa se medida por um observador externo ao buraco negro. O resultado é que a radiação leva gradualmente a massa do buraco negro - o buraco negro evapora.<br />
<br />
O resultado de Hawking tinha implicações óbvias e profundas relacionadas à maneira como pensamos sobre buracos negros. Em vez de ser um ponto final cósmico, onde matéria e energia desaparecem para sempre, eles são objetos dinâmicos que eventualmente vão evaporar completamente. Mas mais importante para a física teórica, essa descoberta lançou uma questão que ainda não sabemos a resposta: quando matéria cai dentro de um buraco negro e o buraco negro evapora, para onde vai a informação?<br />
<br />
Se queimarmos uma enciclopédia, podemos pensar que a informação contida na enciclopédia é perdida para sempre. Mas de acordo com a mecânica quântica, a informação não está nada perdida; se pudéssemos capturar cada fragmento de luz e cinza que saíram do fogo, em teoria é possível reconstruir tudo que foi queimado, até o conteúdo impresso nas páginas do livro. Mas buracos negros, se o resultado de Hawking for considerado ao pé da letra, parecem destruir a informação, pelo menos da perspectiva do mundo externo. Esse impasse é o "enigma da perda de informação de buracos negros" e tem chateado os físicos por décadas.<br />
<br />
Nos últimos anos, o progresso no entendimento da gravidade quântica (apenas no nível de experimento de pensamento) tem convencido mais pessoas de que a informação é realmente preservada. Em 1997, Hawking fez uma aposta com os físicos Americanos Kip Thorne e John Preskill; Hawking e Thorne disseram que a informação é destruída, Preskill disse que a informação era preservada de alguma forma. Em 2007, Hawking admitiu que perdeu a aposta, dizendo que buracos negros não destroem a informação. Entretanto, Thorne ainda não concedeu a sua parte da aposta e o próprio Preskill pensa que a concessão de Hawking foi prematura. A radiação e entropia de buracos negros continuam sendo princípios que guiam a nossa busca por um melhor entendimento da gravidade quântica. <br />
<br />
<b>Cosmologia Quântica</b><br />
<br />
O trabalho de Hawking na radiação de buracos negros se baseava em uma combinação de ideias quânticas e clássicas. No seu modelo, o buraco negro em si era tratado classicamente, de acordo com as regras da relatividade geral; enquanto isso, as partículas virtuais próximas ao buraco negro eram tratadas usando as regras da mecânica quântica. O objetivo final de muitos físicos é construir uma verdadeira teoria da gravidade quântica, na qual o espaço-tempo seria parte de um sistema quântico.<br />
<br />
Se há um lugar onde a mecânica quântica e a gravidade têm um papel central, é na origem do universo. E foi nessa questão, não surpreendente, que Hawking dedicou a parte final da sua carreira. Ao fazer isso, ele estabeleceu a agenda para o projeto ambicioso dos físicos de entender de onde o nosso universo veio.<br />
<br />
Na mecânica quântica, um sistema não tem uma posição ou velocidade; seu estado é descrito por uma "função de onda", que nos diz a probabilidade de mensurarmos uma posição ou velocidade específica ao observamos o sistema. Em 1983, Hawking e James Hartle publicaram um artigo entitulado simplesmente "A Função de Onda do Universo". Eles propuseram um procedimento simples onde - em principio! - o estado de todo o universo poderia ser calculado. Não sabemos se a função de onda Hartle-Hawking é realmente a correta descrição do universo. De fato, porque ainda não temos uma completa teoria quântica da gravidade, não sabemos nem se o procedimento faz sentido. Mas o artigo deles mostrou que podemos falar do início do universo de uma forma científica.<br />
<br />
Estudar a origem do universo oferece a expectativa de conectar a gravidade quântica a características observáveis do universo. Cosmólogos acreditam que pequenas variações na densidade de matéria originada de tempos bem iniciais gradualmente cresceram na distribuição de estrelas e galáxias que observamos hoje. Uma teoria completa da origem do universo pode ser capaz de prever essas variações e executar esse programa é a maior ocupação de físicos atualmente. Hawking fez uma série de contribuições a esse programa, a partir da sua função de onda do universo e no contexto do modelo do "universo inflacionário" proposto por Alan Guth.<br />
<br />
Apenas falar sobre a origem do universo é um passo provocante. Isso lança a expectativa de que ciência pode ser capaz de prover uma completa e auto-contida descrição da realidade - uma expectativa que vai além da ciência, até os reinos da filosofia e teologia. Hawking, sempre provocante, nunca se esquivou dessas implicações. Ele gostava de lembrar de uma conferência de cosmologia organizada pelo Vaticano, na qual o Papa João Paulo II supostamente disse aos cientistas para não investigar a origem do universo, "porque esse foi o momento da criação e então o trabalho de Deus". Repreensões como essa não frearam Hawking; ele viveu sua vida em uma incansável busca nas questões mais fundamentais que a ciência pode atacar. <br />
</div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-77452021637866405882018-04-13T13:36:00.000-03:002018-04-13T13:36:22.954-03:00O Presente Mais Profundo de Hawking à Física<div style="text-align: justify;">
por Sean Carroll</div>
<div style="text-align: justify;">
fonte: <a href="https://www.nytimes.com/2018/03/15/opinion/stephen-hawking-quantum-gravity.html" target="_blank">NY Times</a></div>
<div style="text-align: justify;">
tradução: Felipe Nogueira</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Stephen Hawking se foi, mas ele deixou algo incrivelmente precioso: um enigma intricado e frustrante, e que os cientistas lutarão para solucionar nos próximos anos. O enigma do Dr. Hawking é uma peça importante da talvez maior pergunta na física atualmente: como podemos conciliar a gravidade com a mecânica quântica?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os anos iniciais do século XX presenciaram duas incríveis revoluções científicas. Uma foi a teoria da relatividade. Liderados por Albert Einstein, os físicos descartaram o espaço e tempo absolutos de Isaac Newton e os substituíram por um contínuo e unificado espaço-tempo quadridimensional. São as dobras e ondulações do espaço-tempo, descobriu Einstein, que dão origem ao que experimentamos como a força da gravidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A outra revolução — até mais profunda que relatividade — foi a mecânica quântica. Quando examinamos o comportamento de partículas sub-atômicas, descobrimos que elas não podem ser descritas com a linguagem precisa da física clássica. Em vez disso, as partículas sub-atômicas aparecem como ondas de probabilidades e o melhor que podemos fazer é calcular a chance de uma específica medição retornar um ou outro resultado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gradualmente, tudo que sabemos sobre o mundo físico foi sendo colocado dentro da mecânica quântica. O comportamento da matéria, eletricidade e magnetismo, e as forças sub-atômicas funcionando dentro do núcleo de átomos — tudo encaixou elegantemente no paradigma quântico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A única exceção é a gravidade. Por razões técnicas e conceituais, a visão de Einstein do espaço-tempo curvado vem resistido teimosamente à conciliação com as regras da mecânica quântica. A busca por uma teoria que unifique os dois paradigmas uma teoria da "gravidade quântica" — é talvez o projeto mais ambicioso na física teórica moderna.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Teórica" é uma palavra importante nesse contexto, porque é praticamente impossível fazer experimentos que diretamente revelem qualquer coisa sobre a gravidade quântica. A mecânica quântica se revela na escala sub-atômica, enquanto a gravidade se torna perceptível apenas quando temos massas astronomicamente grandes. Não há situação facilmente acessível onde as duas são importantes ao mesmo tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É aqui que Stephen Hawking aparece. Quando experimentos reais são elusivos, nos voltamos para experimentos de pensamento. Na década de 1970, Dr. Hawking descreveu a mãe de todos os experimentos de pensamento, um que mantem os físicos acordados a noite.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O experimento de pensamento de Hawking começa com um buraco negro. De acordo com a relatividade de Einstein, um buraco negro é uma região de espaço-tempo onde a gravidade se tornou tão forte que nada consegue escapar. Mas o Dr. Hawking se perguntou como que partículas quânticas se comportam na vizinha de tal objeto. Afinal, a mecânica quântica é uma teoria de probabilidades; talvez o impossível de acordo com Einstein seja possível no mundo quântico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, de fato, é possível. Os cálculos do Dr. Hawking relevaram, como ele colocou de forma maliciosa, que "buracos negros não são tão negros". Eles na realidade emitem um contínuo feixe de partículas, conhecidas como radiação Hawking. Essas partículas carregam fragmentos da massa do buraco negro, que então evaporará completamente, um fenômeno conhecido como evaporação Hawking. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, este é o experimento de pensamento: jogue um livro em um buraco negro. O livro carrega informação. Talvez a informação seja sobre física ou a trama de um romance — pode ser qualquer tipo de informação. Mas até onde sabemos, a radiação Hawking que sai do buraco negro é a mesma independente do que entrou no buraco negro. A informação é aparentemente perdida — para aonde que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, temos o "enigma da perda de informação em buracos negros", talvez o presente mais profundo do Dr. Hawking para a física. Em questão está o destino do princípio da conservação de informação. Sem a relatividade geral, a mecânica quântica prevê que a informação é preservada; de forma similar, sem a mecânica quântica, a relatividade geral prevê que a informação é preservada, mesmo que alguma parte fique escondida no buraco negro. É, então, estranho que a junção das duas teorias acarrete no desaparecimento da informação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por um longo período, Dr. Hawking argumentou, contra a intuição de outros líderes na física, que a informação é simplesmente apagada do buraco negro e que teríamos que aprender a lidar com isso. Mas eventualmente ele mudou de ideia (algo que ele sempre fazia com vontade), concedendo em 2004 que a informação está provavelmente retida na radiação que sai do buraco negro. A questão, no entanto, está muito longe de estar resolvida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O experimento de pensamento da perda da informação do Dr. Hawking é maior pista que temos de como a gravidade quântica deve operar. Mesmo não tendo uma teoria completa ainda, sabemos muito sobre a mecânica quântica e sabemos muito sobre a gravidade. Isso é suficiente para nos convencer que radiação Hawking é real, mesmo que nunca tenha sido observada diretamente. Isso significa que qualquer teoria da gravidade quântica terá de explicar de alguma forma como a informação escapa do buraco negro ou como é destruída.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A radiação do buraco negro e o enigma da perda da informação certamente não são as únicas contribuições do Dr. Hawking à física moderna. Voltando ao alicerce mais firme da relatividade clássica, ele provou uma série de teoremas fundamentais sobre o comportamento de buracos negros e expansão do universo. De forma mais especulativa, Dr. Hawking e o físico James Hartle propuseram uma candidata para a "função de onda do universo", o estado quântico descrevendo toda a realidade. No meio termo, Dr. Hawking fez contribuições para perguntas profundas como a origem da estrutura do universo e se é possível construir uma máquina do tempo (Não é, ele argumentou).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele fez isso tudo em adição, é claro, ao seu alcance a uma audiência popular compartilhando com ela sua paixão pela física e os mistérios do universo. Dr. Hawking foi um cientista extraordinariamente influente, assim como um ser humano corajoso e determinado. Eles nos deixou muita coisa para pensar. </div>
<div style="text-align: justify;">
--</div>
<div style="text-align: justify;">
Sean Carroll (@seancarroll) é um físico teórico no Instituto de Tecnologia da Califórnia e autor do livro <i>The Big Picture: On the Origins of Life, Meaning, and the Universe Itself</i>. </div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-15063942573172927292018-03-07T19:07:00.001-03:002018-03-13T14:10:13.688-03:00Os Cães Ficaram Mais Espertos Através da Domesticação? Entrevista com Dr. Brian Hare<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-gssvKfaWWUk/WpdgV_yAMQI/AAAAAAAARdM/gQmrl3Hsktozjtr7uuhADJrwBSe5lUBGQCEwYBhgL/s1600/Hare%2Binterview.PNG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="279" data-original-width="785" height="140" src="https://2.bp.blogspot.com/-gssvKfaWWUk/WpdgV_yAMQI/AAAAAAAARdM/gQmrl3Hsktozjtr7uuhADJrwBSe5lUBGQCEwYBhgL/s400/Hare%2Binterview.PNG" width="400" /></a></div>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">publicado na </span><a href="https://www.skeptic.com/magazine/archives/22.4/" style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;" target="_blank"><i>Skeptic </i>volume 22 number 4</a><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">(<a href="http://skepticismandscience.blogspot.com.br/2018/03/canine-cognition.html" target="_blank">english version</a>)</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">por Felipe Nogueira<a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK13"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK12"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK11"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK10"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK9"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK8"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK7"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK6"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK7;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK8;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK9;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK10;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK11;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK12;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK13;"><o:p></o:p></span></span></span></span></span></span></span></a></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-S67fXVKDI-o/WpYzTnTuZ_I/AAAAAAAARcQ/vI6FNHt924Ecrb4KIPyT1IwZEDW0HS3jwCLcBGAs/s1600/magv22n4_lg.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><img border="0" data-original-height="775" data-original-width="600" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-S67fXVKDI-o/WpYzTnTuZ_I/AAAAAAAARcQ/vI6FNHt924Ecrb4KIPyT1IwZEDW0HS3jwCLcBGAs/s320/magv22n4_lg.jpg" width="247" /></span></a><span style="mso-bookmark: OLE_LINK6;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK7;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK8;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK9;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK10;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK11;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK12;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK13;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Dr.
Brian Hare é um Professor Associado do Departamento de Antropologia Evolutiva na
Universidade de Duke e no Centro de Neurociência Cognitiva. Hare é pioneiro e especialista na área de psicologia dos cães.
Junto com Vanessa Woods, Brian Hare escreveu sobre a revolução no estudo da
cognição canina no fascinante livro <i>Seu Cachorro É Um Gênio! Como os Cães
São Mais Inteligentes do Que Se Pensa</i>. Na palavra dos autores, o livro é
“como a ciência cognitiva passou a entender a genialidade dos cães através de
jogos experimentais, sem usar outra tecnologia além de brinquedos, vasilhames,
bolas, e tudo o mais que houvesse em uma garagem”</span><span style="font-family: inherit;">. <o:p></o:p></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK6;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK7;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK8;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK9;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK10;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK11;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK12;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK13;"><span style="line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="mso-bookmark: OLE_LINK6;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK7;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK8;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK9;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK10;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK11;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK12;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK13;"><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-bookmark: OLE_LINK6;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK7;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK8;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK9;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK10;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK11;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK12;"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK13;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Hare
e outros pesquisadores mostraram diversas vezes que os cachorros são bons em
entender as intenções de comunicação dos humanos. Com a ajuda de um brilhante experimento com raposas iniciado por Dmitri Belyaev em 1950 que continua até os
dias de hoje, a pesquisa de Hare descobriu o que permitiu aos cães desenvolverem
essa habilidade impressionante: domesticação. Depois de 45 gerações, as raposas
de Belyaev no grupo experimental tinham orelhas caídas, rabos enrolados e eram
muito melhores na leitura dos gestos humanos do que as raposas no grupo
controle. A questão é que Belyaev não selecionou pelas melhores raposas em ler
os gestos humanos; em vez disso, ele selecionou as raposas menos medrosas e
mais amigas em relação aos humanos. Como Hare e Woods escreveram no livro: “A domesticação,
ao selecionar para procriação as raposas mais amigáveis, provocara uma
evolução cognitiva”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Para entender ainda mais as
limitações e flexibilidades da cognição canina, pesquisadores têm criado
laboratórios dedicados, como o Centro de Cognição Canina de Duke, criado por
Hare.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-oPSCJMYOeVA/WpYz_hYTqFI/AAAAAAAARcY/CUk4r4qlSlEvQ_4HCFRlq22SnhQVnHOmQCLcBGAs/s1600/Bh1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-oPSCJMYOeVA/WpYz_hYTqFI/AAAAAAAARcY/CUk4r4qlSlEvQ_4HCFRlq22SnhQVnHOmQCLcBGAs/s320/Bh1.jpg" width="320" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dr. Brian Hare</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira: </span></i></b><span style="line-height: 200%;"><b>No seu livro, você fala da
genialidade dos cães. O que você quer dizer com ser um gênio?</b></span><b><span style="line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK15"></a><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:</span></i></b><i><span style="line-height: 200%;"> </span></i><span style="line-height: 200%;">Se
fossemos falar de QI alto, ou quem seria recrutado pela NASA,
teríamos um livro bem pequeno. Na minha opinião, a grande descoberta na
revolução da cognição é que a cognição não é um traço dimensional único. Na
realidade, é todo um conjunto de habilidades que podem variar de forma
independente e nem sabemos quantas existem. Por exemplo, uma pessoa pode ser ótima
em matemática, mas uma péssima comunicadora. Em relação às espécies, cada uma evoluiu
para resolver um conjunto de problemas que as ajudaram a sobreviver e reproduzir
em seus ambientes particulares; os cães não são diferentes. O meu livro <i>Seu
Cachorro É Um Gênio</i> tenta explicar como uma espécie que parece ser bem comum é tão bem sucedida. Os cachorros são bem sucedidos de uma perspectiva evolutiva porque, em todos os lugares que há pessoas, há cães. É o
mamífero mais bem sucedido – depois dos humanos e talvez vacas. É isso que o
livro explora: os cães possuem algum tipo de genialidade psicológica ou cognitiva? Sim, eles mostram um nível incomum de sofisticação para
resolução de problemas.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 200%;"></span></span><br /><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 200%;"></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira: </span></i></b><span style="line-height: 200%;"><b>Conte como começou a pesquisar a
cognição dos cachorros</b><i>.</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK23"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK22"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK21"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK20"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK19"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK18"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK17"></a><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:</span></i></b><span style="line-height: 200%;"> O psicologista do desenvolvimento
Michael Tomasello, meu orientador de pesquisa na época, estava me explicando como
a comunicação gestual é muito importante no desenvolvimento humano. Ele pensava
não ser apenas crucial para evolução humana, mas algo único dos humanos. A
teoria dele era que as crianças desenvolveram a habilidade de usar os gestos
humanos e entender intenções de comunicação. Então, eu disse para ele que meu
cachorro também conseguia fazer isso. Foi quando eu aprendi o que é a ciência,
porque mesmo sendo uma ideia importante de como os humanos evoluíram, Tomasello
ficou curioso. Ele me disse: “vou te ajudar a achar uma forma de provar que
estou errado”. Isso é incrível! Quando descobrimos que ele estava errado sobre
os cachorros, ele ficou empolgado, nos dizendo para fazer mais experimentos. As
pessoas acham que a ciência envolve pessoas em jalecos de laboratórios criando
ideias geniais, mas na realidade é uma maneira de refutar ideias. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;"></span></i></b><br /><b><i><span style="line-height: 200%;"></span></i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira:</span></i></b><span style="line-height: 200%;"> <b>Como
foi o primeiro experimento com cães?</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:</span></i></b><span style="line-height: 200%;"> Usamos uma técnica poderosa, mas
muito simples: tínhamos dois recipientes e escondemos comida em um deles. Então
apontamos para onde escondemos, tentando ajudar o cachorro<sup>1</sup>. Grandes
primatas são péssimos nessa tarefa. Eles não mostram muita flexibilidade
cognitiva, já que eles precisam aprender o gesto. E, todas as vezes que você
usa um novo gesto, eles precisam aprender de novo. Em comparação, crianças por
volta de um ano de idade entendem gestos que eles nunca viram antes, mostrando
um grau de flexibilidade não observado nos grandes primatas. Fizemos com os
cães a mesma série de experimentos que foi realizada com primatas e
crianças. A grande surpresa foi que cães são mais parecidos com as crianças.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-mbBK1gsQ3NM/WpiZ_aYwLNI/AAAAAAAARhc/z6n9Lezgvggsl6LdmBhYK6Tv1cs3CD9mgCLcBGAs/s1600/Hare_int_img1_pt.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="525" height="444" src="https://1.bp.blogspot.com/-mbBK1gsQ3NM/WpiZ_aYwLNI/AAAAAAAARhc/z6n9Lezgvggsl6LdmBhYK6Tv1cs3CD9mgCLcBGAs/s640/Hare_int_img1_pt.PNG" width="640" /></a></div>
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Esse foi
um experimento controlado: os cachorros não estavam usando olfato, nem reagindo
ao movimento. Na ciência, há dois passos. Primeiro, é preciso demonstrar um
fenômeno. Seja ondas gravitacionais ou cachorros seguindo gestos, você
precisa demonstrar o fenômeno. Então, tenta-se explicar. Frequentemente, as
pessoas estão preocupadas em explicar antes mesmo de demonstrar que o fenômeno
existe. Após demonstrarmos que os cães estavam seguindo o gesto de apontar, nós
queríamos saber se eles apenas sentiram o cheiro da comida escondida.
Descobrimos que lobos, raposas e cães preferem usar seus olhos. Quando eles não
conseguem a informação que precisam pela visão, aí que eles usam olfato. Nesses
experimentos, descobrimos que os cães priorizam as informações da visão e
memória em comparação com o olfato. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira:
</span></i></b><span style="line-height: 200%;"><b>Um dos experimentos
fascinantes mencionado no livro usa uma barreira opaca. Poderia elaborar?</b></span><b><span style="line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 200%;"><b><i><span style="line-height: 32px;">Hare: </span></i></b><span style="line-height: 32px;">Esse<b><i> </i></b></span><span style="line-height: 32px;">é o trabalho da Juliane Kaminsky, Michael Tomasello e Josep Call<sup>2</sup>. Eles colocaram uma bola atrás de cada uma de duas barreiras, uma opaca e uma transparente. O cachorro pode ver as duas bolas. Na condição experimental, um humano está no lado oposto das barreiras e pede para o cachorro buscar a bola. O surpreendente é que os cachorros não pegaram a bola da barreira opaca, que o humano não consegue ver através; eles favoreceram a bola da barreira transparente. Na condição de controle, onde humano e o cão estão no mesmo lado, vendo a mesma coisa, os cães escolhem a bola de forma aleatória. Esse experimento sugere que os cachorros sabem o que os humanos conseguem e não conseguem ver.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-9GiwJf5dQqc/WpiUbVbAh9I/AAAAAAAARhI/9nJU3cy7UNsZk_k-CVkVyA_qsPp-QEx9ACLcBGAs/s1600/Hare_int_img3_pt.PNG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="682" height="561" src="https://1.bp.blogspot.com/-9GiwJf5dQqc/WpiUbVbAh9I/AAAAAAAARhI/9nJU3cy7UNsZk_k-CVkVyA_qsPp-QEx9ACLcBGAs/s640/Hare_int_img3_pt.PNG" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b style="font-family: georgia, "times new roman", serif;"><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira: </span></i></b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><b>Quais
são as possíveis explicações para os cães serem tão bom em ler os gestos
humanos?</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:</span></i></b><b><span style="line-height: 200%;"> </span></b><span style="line-height: 200%;">Um nível de explicação é que os cachorros aprenderam lentamente, já que eles viram esses
gestos muitas vezes. Essa ideia pode ser testada usando um gesto que os cães
nunca viram antes, como apontar com o pé. Pode se usar um gesto doido, como
colocar um objeto em cima de um recipiente onde está a comida escondida.
Crianças humanas e cachorros seguem esses gestos, mas chimpanzés não. Com isso,
essa hipótese de aprender devagar foi descartada. A parte difícil é como saber
se os cães realmente possuem uma estratégia flexível sofisticada, uma teoria da
mente, o que significa que eles estão pensando no pensamento de outros
indivíduos? A melhor evidência sobre animais que possuem teoria da mente vem
dos grandes primatas e talvez pássaros, como corvos. Em relação aos cachorros,
na realidade, não temos o experimento conclusivo para eliminar explicações
alternativas. Então, não temos evidências extraordinárias que os cachorros
possuem teoria da mente. Por exemplo, o experimento da barreira opaca, onde o
cachorro sabe o que pessoa consegue e não consegue ver, não foi replicado.
Quando estamos estudando algo como a teoria da mente, buscamos múltiplos
experimentos onde o animal mostra o mesmo tipo de habilidade. Temos isso com
grandes primatas, mas não temos isso ainda com os cachorros. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira:
</span></i></b><span style="line-height: 200%;"><b>De onde vêm
as habilidades impressionantes dos cachorros?</b></span><span style="line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:
</span></i></b><span style="line-height: 200%;">Testamos
várias hipóteses. A primeira era que como os cachorros são parentes dos lobos,
que são inteligentes e talvez fossem bons em ler os gestos humanos. A outra foi
experiência: eles interagiram conosco e aprenderam devagar. Finalmente,
consideramos se foi algo ocorrido durante a domesticação. E a evidência
favorece a domesticação: a seleção dos mais amigáveis com humanos foi o que
permitiu aos cachorros serem mais habilidosos na leitura e na utilização dos
humanos para resolver problemas. Isso foi uma surpresa: por que ser selecionado
por ser amigável torna alguém mais inteligente? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira: </span></i></b><span style="line-height: 200%;"><b>Como
que a pesquisa de Belyaev com as raposas ajudaram a responder essa pergunta?</b></span><b><span style="line-height: 200%;">
<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:
</span></i></b><span style="line-height: 200%;">Esse brilhante experimento foi conduzido por um grupo de cientistas na Sibéria
liderado por </span><span style="line-height: 200%;">Dmitri Belyaev. Eles tinham dois grupos de raposas
separados: o grupo experimental e o grupo controle. O grupo controle foi
procriado de forma aleatória. No grupo experimental, Belyaev selecionou pelas raposas
mais receptivas ou aquelas mais gostavam da interação com as pessoas. Em outras palavras, Belyav selecionou pelas raposas mais amigáveis
e deixou que procriassem. Depois de muitas gerações, o grupo experimental de
raposas mostrou uma alta frequência de características que Belyaev não
selecionou, como orelhas caídas, caudas enroladas e pelagem multicolorida. As
raposas também tinham mudanças psicológicas relacionadas à redução da agressão
e aumento da atitude amigável. O experimento foi importante para nossa pesquisa
porque eles tinham uma população que havia sido domesticada experimentalmente.
Era uma grande oportunidade para testar a ideia de que a domesticação realmente
é a seleção contra a agressão e pelos mais amigáveis com as pessoas. Faz
sentido: como você pode ter um animal domesticado, se ele apenas quer te atacar
ou é tão medroso que não consegue chegar perto de você? As raposas também nos
levaram às perguntas sobre a psicologia: Essa habilidade impressionante de ler
os gestos humanos e de usar os humanos como ferramentas sociais é também um
produto da seleção pelos mais amigáveis? A resposta é “sim”: as raposas
domesticadas agiram como cachorros na questão da habilidade de ler os gestos
humanos, enquanto as raposas do grupo controle se comportaram mais como lobos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="background: white; color: #222222; line-height: 200%;">Nogueira:</span></i></b><b><span style="background: white; color: #222222; line-height: 200%;"> </span></b><span style="background: white; color: #222222; line-height: 200%;"><b>No seu livro, você
menciona que “sem experimento, estaríamos escorregando da ciência para o campo
da ficção”. Poderia elaborar por que precisamos de experimentos?</b></span><span style="background: white; color: #222222; line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:
</span></i></b><span style="line-height: 200%;">Publicamos
um artigo na <i>Science </i>eliminando as
duas primeiras hipóteses<sup>4</sup>. A primeira era que as habilidades
impressionantes dos cachorros de interpretar os gestos humanos evoluíram nos
lobos e foram herdadas. Segunda: muita experiência deu essas habilidades aos
cachorros. Não encontramos evidências para essas hipóteses. Então, favorecemos
a hipótese da domesticação. Não tínhamos evidência para ela, só tínhamos
evidência contra as duas outras hipóteses. Se Belyaev não tivesse feito seu
experimento de domesticação, estaríamos empacados nesse ponto. O trabalho de
Belyaev estabeleceu a possibilidade de testar se a domesticação tornou os
cachorros capazes de ler os gestos humanos. Fizemos um experimento com as
raposas e ficamos surpresos: mesmo elas não sendo selecionadas para serem mais
inteligentes ou melhores no uso dos gestos humanos, elas eram como um resultado
de serem selecionadas por serem amigáveis. Tínhamos evidência direta que foi a
domesticação<sup>5</sup>. As pessoas pensam que domesticamos os cachorros e
tornamo-los mais inteligentes, mas não significa que é verdade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira: </span></i></b><span style="line-height: 200%;"><b>Se
isso não é verdade, o que provavelmente aconteceu?</b></span><b><span style="line-height: 200%;">
<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 32px;">Hare:</span></i></b><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 200%;"> As pessoas pensam que criamos os cães como a nossa imagem. A melhor evidência
sugere que os animais tinham uma vantagem se eles fossem amigáveis com pessoas;
eles iriam reproduzir mais. Eu estava comendo em uma área externa de um
restaurante e tinha pardais roubando comida a poucos centímetros de mim. Esses
pardais estão comendo bastante, estão bem alimentados e saudáveis. Isso porque eles
não têm medo das pessoas. Eu acho que algo similar a isso ocorreu com os
cachorros. Em algum ponto da evolução humana, os humanos criaram uma nova fonte
de comida. Se um animal fosse amigo o suficiente e não tivesse medo da
população humana, ele seria um grande vencedor evolutivo. Então, uma população
de lobos nos escolheu, não fomos nós que os escolhemos. Uma vez que os
caçadores-coletores competiam com lobos, não fazia sentido trazer um animal
como um lobo perto das suas crianças. Os lobos perceberam, assim como os
pássaros do restaurante, que os restos ao redor dos acampamentos humanos são um
recurso ótimo. Depois de algumas poucas gerações, eles mostrariam mudanças morfológicas,
como aquelas que vimos nas raposas, possibilitando as pessoas diferenciar entre
esses lobos e aqueles lobos que competíamos. Essa teria sido uma grande
vantagem seletiva. <o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira:</span></i></b><b><span style="line-height: 200%;">
</span></b><span style="line-height: 200%;"><b>Como
a evolução está relacionada com essas mudanças?</b></span><b><span style="line-height: 200%;">
<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare: </span></i></b><span style="line-height: 200%;">A seleção contra a agressão e por
ser amigável com as pessoas criou várias mudanças além daquelas na morfologia e
psicologia. Uma vez que existiam essas diferenças, a seleção pode agir nelas
também. A questão é que essas novas mudanças não foram criadas; os humanos não
pensaram em criar cães com orelhas caídas, por exemplo. Alguns indivíduos
tinham orelhas caídas devido à seleção contra a agressividade. Com isso, as
pessoas poderiam procriar esses indivíduos para criar mais orelhas caídas. Em
outras palavras, tiramos vantagem da variância criada pela seleção contra a
agressividade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A evolução não é nada diferente da gravidade. Se eu soltar
uma bola, não posso impedir a sua queda, é imparável. A evolução também é
imparável. O fato de não conseguimos ver a evolução não significa que não
esteja ocorrendo o tempo todo. Outro exemplo é um cervo que vem comer no
quintal da minha casa. Normalmente, cervos próximos aos humanos não é uma boa
ideia. Se alguém vive a alguns quilômetros da minha casa, um cervo no seu
quintal rapidamente vai virar jantar. Mas, onde eu moro no subúrbio,
todo mundo pensa que os cervos são fofos e adoráveis. Onde eu moro, há uma
maior proporção de cervos com diferentes cores de pelos, há mais cervos brancos
e albinos. As pesquisas mostram que os cervos que estão invadindo áreas urbanas
são maiores, mais sociais e possuem mais descendentes do que aqueles vivendo
distantes dos humanos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira: </span></i></b><i><span style="line-height: 200%;"><b>Esse
processo de domesticação que ocorreu com os cães provavelmente ocorreu com
outros animais, o que chamamos de convergência da evolução. O que encontramos,
por exemplo, quando comparamos chimpanzés e bonobos em relação à agressividade
e atitude com os estranhos? </b><o:p></o:p></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Hare:
</span></i></b><span style="line-height: 200%;">Os bonobos serviram como um caso de teste para a
hipótese de que foi a seleção natural, e não a seleção artificial, que causou a
domesticação. Chamamos de autodomesticaçao: as espécies através da seleção
natural interagindo com o ambiente terminaram como animais domesticados. Muitas
mudanças entre lobos e cachorros são encontradas entre chimpanzés e bonobos. Os
chimpanzés são como os lobos da família dos primatas. Se estivermos falando de
características morfológicas e comportamentais, os bonobos são como os cães dos
primatas. </span><span style="line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-oJbAMqHxDiI/Wpiaj8zwSeI/AAAAAAAARhk/-iVNaUAb7vUjajjLYIM7WIh1K-FkrrrrgCLcBGAs/s1600/Hare_int_img2_pt.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="505" data-original-width="665" height="484" src="https://2.bp.blogspot.com/-oJbAMqHxDiI/Wpiaj8zwSeI/AAAAAAAARhk/-iVNaUAb7vUjajjLYIM7WIh1K-FkrrrrgCLcBGAs/s640/Hare_int_img2_pt.PNG" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira</span></i></b><i><span style="line-height: 200%;">:</span></i><span style="line-height: 200%;"> <b>Nesta revista <i>Skeptic</i>, defendemos o pensamento baseado
em evidência. Como você comunicou com o público, qual você acha que é a melhor
abordagem para trazer as pessoas do pensamento baseado na fé para o pensamento
baseado em evidências, para, por exemplo, aumentar a aceitação da evolução?</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><i><span style="line-height: 200%;">Hare:
</span></i></b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;">Nos
Estados Unidos, as pessoas pensam que os Cristãos têm um problema com a
evolução, mas a Igreja Católica diz que a evolução é consistente com a doutrina
Católica. As pessoas adoram a formar grupos contrários: a ciência é algo que
outras pessoas fazem. A resposta típica dessa briga entre grupos é que se
alguém é religioso e de fé, essa pessoa não pode acreditar na ciência porque a
ciência é anti-religião. As pessoas usam estratégias para atacar a ciência, ou
pensamento evolutivo, como se fossem o grupo externo. Como alguém que estuda
evolução, a primeira coisa a ser notada é que humanos evoluíram para enxergar
grupos distintos em todos os lugares. Se dissermos algo do tipo “você é
religioso e você não é como eu sou”, acabou a conversa. Como um comunicador da
ciência, eu vou dizer que a Igreja Católica não tem problema com a minha
pesquisa com o objetivo de desligar essa resposta da diferenciação de grupos. O
objetivo do meu livro <i>Seu Cachorro É Um
Gênio</i> é empolgar pessoas que nunca leram sobre evolução e ciência cognitiva
para lerem, porque elas se importam com cachorros. Darwin iniciou <i>A Origem das Espécies</i> intencionalmente
com um capítulo sobre domesticação, porque ele sabia que as pessoas eram
familiarizadas e não se sentiam ameaçadas por esse tema. Acho que temos de fazer o
mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 200%;"> </span><span style="line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><span style="line-height: 200%;">Nogueira:</span></i></b><span style="line-height: 200%;">
Obrigado por essa ótima entrevista e continue com sua pesquisa fascinante! </span></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 200%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
</div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpLast" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-O1wTL0HRBOQ/Wp_28GNnLCI/AAAAAAAARrM/AgC6T6mDaRE5EB1tXpXdRQs0Udgd-ysDACLcBGAs/s1600/SeuCachorroEUmGenio.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="316" data-original-width="221" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-O1wTL0HRBOQ/Wp_28GNnLCI/AAAAAAAARrM/AgC6T6mDaRE5EB1tXpXdRQs0Udgd-ysDACLcBGAs/s200/SeuCachorroEUmGenio.png" width="138" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Referências<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.2pt; text-justify: inter-ideograph;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">1.<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Hare
B, Tomasello M. 2005. Human-like social skills in dogs? Trends in Cognitive
Sciences 9: 439–444. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16061417. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.2pt; text-justify: inter-ideograph;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">2.<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Kaminski
J, Bräuer J, Call J, Tomasello M. 2009. Domestic dogs are sensitive to a
human’s perspective. Behaviour 146: 979-998 https://doglab.shh.mpg.de/
pdf/Kaminski_et_al_2009a_dogs_sensitive_humans _perspective.pdf. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.2pt; text-justify: inter-ideograph;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">3.<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Hare,
B</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"> </span><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Hare, B., Homo sapiens Evolved via Selection for
Prosociality. Annu Rev Psychol. 68:155-186:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27732802<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.2pt; text-justify: inter-ideograph;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">4.<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Hare
B., M. Brown, C. Williamson, and M. Tomasello. 2002. “The domestication of
social cognition in dogs.” <i>Science</i>. 298: 1634-6.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.2pt; text-justify: inter-ideograph;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">5.<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Hare
B., et al. 2005. “Social cognitive evolution in captive foxes is a correlated
by-product of experimental domestication.” <i>Current Biology</i>. 15: 226-30. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="ListaColorida-nfase11CxSpLast" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<br />Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-15469612794468408532017-10-04T01:52:00.003-03:002017-10-04T14:15:07.745-03:00Existe um consenso científico sobre armas de fogo -- e a NRA não vai gostar<div style="text-align: justify;">
<b>por David Hemenway</b></div>
<div style="text-align: justify;">
fonte: <a href="http://www.latimes.com/nation/la-oe-hemenway-guns-20150423-story.html">Los Angeles Times</a></div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Felipe Nogueira</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após a tragédia de Sandy Hook, jornalistas me ligaram com frequência perguntando por informações sobre armas de fogo. Eles queriam saber se leis de armas mais rigorosas reduzem a taxa de homicídio (eu disse que elas reduzem) e se leis de posse armas mais permissivas reduzem a taxa de crimes em geral (eu disse que não reduzem). Descobri que, nas suas matérias, os jornalistas escrevem que eu disse uma coisa e que outros pesquisadores de armas de fogo disseram o oposto. Fiquei incomodado com essa situação reportada da "minha palavra contra a dele" - porque eu sabia que a evidência científica estava do meu lado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dos jornalistas com quem reclamei me disse que ele cobriu mudança climática por muitos anos. Ele me explicou que os jornalistas só foram capazes de parar com o relato "balanceado" dessa questão quando achados objetivos indicaram que a grande maioria dos cientistas pensa que a mudança climática está ocorrendo e que é causada pelos humanos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, decidi determinar objetivamente, através de questionários, se existia um consenso científico sobre armas de fogo. O que achei não agradará a National Rifle Association.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu primeiro passo foi juntar uma lista de cientistas relevantes. Decidi que, para estar apto para responder o questionário, o pesquisador deveria ter publicado sobre armas de fogo em um periódico científico com revisão por pares e que o pesquisador deveria ser um cientista em atividade - alguém que tenha publicado um artigo nos últimos quatro anos. Eu estava interessado em ciência social e questões políticas, então queria que os artigos fossem relevantes diretamente. Não estava interessado em cientistas fazendo pesquisa em ciência forense, história, tratamento médico, questões psiquiátricas, engenharia ou armas diferentes das armas de fogo (por exemplo, pistola de pregos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A maioria dos cientistas que estava publicando artigos relevantes era das áreas de criminologia, econômica, política pública, ciência política e saúde pública. Como normalmente há muito mais autores em artigos de saúde pública que nos de criminologia, para ter uma lista balanceada, decidi incluir apenas o primeiro autor. Estudantes de graduação que trabalham para mim identificaram mais de 300 primeiros autores distintos e encontraram mais de 280 endereços de email.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No mês de Maio de 2015, começamos a enviar pequenos questionários mensais. A primeira pergunta de cada questionário perguntava se cada um concordava com uma afirmação particular relacionada às armas de fogo. As pergunta seguintes pediam para avaliar a qualidade da literatura científica, assim como o seu próprio nível de familiaridade com a literatura científica com aquele tópico em particular. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b>"É claro que é possível encontrar pesquisadores que estão do lado da NRA, acreditando que as armas tornam nossa sociedade mais segura, em vez de mais perigosa. Como mostrei, entretanto, eles são a minoria." </b></span></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, por exemplo, um questionário perguntou se ter uma arma em casa aumenta o risco de suicídio. Um grande parcela das 150 pessoas que responderam, 84%, disse sim. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse resultado não é tão surpreendente assim, porque a evidência cientifica é abundante. Inclui uma dezena de estudos em nível do indivíduo que investigam por que algumas pessoas cometem suicídios e outras não e quase o mesmo número de estudos em nível de área ampla que tentam explicar diferenças nas taxas de suícidio entre cidades, estados e regiões. Esses estudos de área descobriram que as diferenças nas taxas de suicídio ao longo do país são menos explicadas pelas diferenças nas taxas de saúde mental ou na idealização de suicídio do que pelas diferenças nos níveis de posse de arma de fogo dentro das residências. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma meta-análise de estudos científicos sobre armas e suicídios, publicada em 2014 e conduzida por pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco, concluiu que o acesso à arma de fogo aumenta o risco de suicídio. Similarmente, a Estratégia Nacional de Prevenção de Suicídio de 2012 da <i>National Action Alliance for Suicide Prevention</i> e do Cirurgião Geral dos Estados Unidos concluiu que "acesso à arma de fogo é um fator de risco para suicídio nos Estados Unidos". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como eu disse, eu não fiquei surpreso com os resultados desse questionário. Mesmo assim, foi bom poder documentar que a grande maioria dos pesquisadores de armas chegou à mesma conclusão sobre armas de fogo e suicídio através de suas leituras individuais da literatura científica. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Também encontrei ampla confiança de que uma arma em uma residência casa aumenta o risco de uma mulher vivendo nessa residência ser vítima de homicídio (72% concordam, 11% discordam) e que uma arma na casa torna-a um local mais perigoso (64%) ao invés de um local mais seguro (5%). Existe um consenso de que as armas não são usadas em defesa pessoal mais do que são usadas no crime (73% vs. 8%) e que uma mudança para leis mais permissivas de porte de arma não reduziu a taxa de crime (62% vs. 9%). Finalmente, há consenso que leis mais rígidas de armas reduzem homicídio (71% vs. 12%). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É claro que é possível encontrar pesquisadores que estão do lado da NRA, acreditando que as armas tornam nossa sociedade mais segura, em vez de mais perigosa. Como mostrei, entretanto, eles são a minoria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O consenso científico nem sempre está certo, mas é o melhor guia que nós temos para entender o mundo. Será que os jornalistas poderiam por favor parar de fingir que os cientistas, assim como políticos, estão igualmente divididos sobre as armas? Não estamos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
----</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>David Hemenway é professor na Escola de Saúde Pública de Harvard e diretor do Harvard Injury Control Research Center</i></div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-64704902013566491362017-07-22T21:06:00.002-03:002017-07-25T01:20:40.677-03:00What the Health: Um filme com uma ideologia<div style="text-align: justify;">
<b>por Harriet Hall</b><br />
fonte: <a href="https://sciencebasedmedicine.org/what-the-health-a-movie-with-an-agenda/">Science-Based Medicine.org</a><br />
tradução: Felipe Nogueira<br />
<br />
O documentário "What the Health" expõe o conto de fadas que todas as principais doenças (doença cardíaca, diabetes, câncer e muitas outras) podem ser evitadas e curadas através da eliminação de carne e laticínios da dieta. É uma descarada polêmica para o veganismo, enviseado e enganador, não sendo uma fonte confiável de informação científica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-X-pPpcjEf18/WXPoaDRlB6I/AAAAAAAAEw0/JiWSagO8N2QTZFtvEtRvbNd40fIbK9AhQCLcBGAs/s1600/p13958316_p_v8_aa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="960" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-X-pPpcjEf18/WXPoaDRlB6I/AAAAAAAAEw0/JiWSagO8N2QTZFtvEtRvbNd40fIbK9AhQCLcBGAs/s320/p13958316_p_v8_aa.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas pessoas me pediram para revisar o documentário <i>What the Health</i>, e como estava disponível através da minha assinatura do Netflix, então assisti, fazendo anotações. A tese do documentário é que carne e laticínios estão nos matando e que todas as principais doenças podem ser evitadas e curadas adotando uma dieta baseada em plantas. Apresenta testemunhos emotivos e estudos científicos selecionados e sugere que a maioria das organizações de saúde e agências governamentais foram "compradas" pela Big Food (indústria alimentícia) e Big Pharma (indústria farmacêutica) e estão conspirando para esconder a verdade do público. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O documentário começa com o aforismo de Hipócrates "Que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio". Hipócrates morreu em 370 A.C. e antes disso havia muita coisa no caminho da medicina eficaz e antes da ciência ter aprendido muito sobre alimentos (como a existência de vitaminas). Então, Hipócrates dificilmente é uma autoridade com credibilidade, mas mesmo que fosse, o apelo à autoridade é uma falácia lógica. O filme tenta convencer os telespectadores que alimento é remédio, e que alimento é todo remédio que precisamos para prevenir e curar obesidade, diabetes, doença cardíaca, câncer, e várias outras doenças crônica. Não me convenceu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O produtor do filme, Kip Anderson, se descreve como um ex-hipocondríaco que antigamente assumia que ele estava destinado pela sua genética a desenvolver doença cardíaca, câncer e diabetes, assim como outros da família dele. Em algum momento na vida, ele foi exposto à crença de que uma alimentação saudável pode prevenir e curar todas essas doenças. Essa foi uma revelação completa e ele se sentiu traído. Ele diz, "a sensação era de que essa informação tinha sido escondida". Ele prosseguiu, entrevistando médicos e outros que acreditavam nessa crença, além de encontrar no Google informações que apoiavam a crença. O viés da confirmação foi eficiente, como sempre é. Ele falhou em obedecer a minha Lei da <i>SkepDoc</i>: antes de aceitar uma afirmação, tente descobrir quem discorda e por que. A maioria de nós não acredita que todas essas doenças podem ser evitadas e curadas pela dieta, porque não há evidências para isso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>Carne processada</b> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele cita um resumo de estudos epidemiológicos mostrando que comer uma única porção de carne processada por dia aumenta o risco de câncer de cólon em 18%. Em primeiro lugar, estudos epidemiológicos apenas mostram correlação, não causalidade. Segundo, esse aumento de 18% é no risco relativo, não no risco absoluto. Terceiro, não leva em consideração a taxa base de câncer de cólon. <a href="http://www.uicc.org/how-interpret-iarc-findings-red-and-processed-meat-cancer-risk-factors">Em uma estimativa</a>, o seu risco de desenvolver câncer de cólon até 65 anos é 2,9%, caso você não coma carne processada, e 3,4% se você comer uma porção ao dia. Então, de 100 pessoas que evitam carne processada, 2,9 desenvolverão câncer de cólon. De 100 pessoas que comem uma porção ao dia, 3,4 desenvolverão câncer de cólon: a diferença em risco absoluto é um caso a mais de câncer de 200 pessoas, o que soa muito menos alarmante que o cenário dos 18%. E pode haver muitos fatores de confusão que influenciam o real risco de uma pessoa, como genética, consumo de sal (carne processada como bacon possui um alto conteúdo de sal), tabagismo, e outros fatores que podem ser mais comuns em pessoas que comem muitas carnes processadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele faz um grande alarde da classificação de carne processada da IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) como carcinogênico do Grupo 1, o mesmo grupo de cigarro, amianto e plutônio. O documentário interpreta isso como se cachorros-quentes e bacons fossem tão perigosos quanto cigarros, mas isso simplesmente não é verdade. <a href="http://www.uicc.org/how-interpret-iarc-findings-red-and-processed-meat-cancer-risk-factors" target="_blank">Cigarros aumentam o risco de câncer de pulmão em 1900%!</a> A página de informações da OMS afirma claramente que a classificação no Grupo 1 é baseado na força da evidência de que carne processada causa câncer, não no nível do risco. NÃO significa que tudo nesse grupo é igualmente perigoso. Eles concluíram que carne processada causa câncer de cólon, mas que havia evidências insuficientes de uma associação com câncer de estômago. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a OMS NÃO recomendou que as pessoas parassem de comer carne. Eles explicaram, "comer carne tem conhecidos benefícios para saúde. Muitas recomendações nacionais de saúde recomendam as pessoas a limitar o consumo de carne processada e vermelha, que estão ligadas ao aumento no risco de morte por doença cardíaca, diabetes, e outras doenças". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>Carne vermelha</b> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A IARC classificou carne vermelha como carcinogênico do Grupo 2, mas isso apenas quer dizer que que há evidências limitadas para uma associação com câncer colorretal e possivelmente câncer pancreático e de próstata. Eles explicam: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Evidências limitadas significam que uma associação positiva foi observada entre a exposição a esse agente e câncer, mas outras explicações para essas observações (tecnicamente chamadas acaso, viés e fatores de confusão) não puderam ser eliminadas. </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Cheque de realidade: o documentário apresenta uma versão alarmista da informação que tem sido amplamente aceita por décadas e faz parte de diretrizes nutricionais. O consenso é que carne processada deve ser limitada; mas os dados sobre carne vermelha não processada não são claros. Apenas veganos recomendam a eliminação total de carne. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">Mortes evitáveis </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O documentário afirma que a alimentação causa a maioria das doenças e que 70% das mortes são evitáveis através de mudanças no estilo de vida. Eles dizem que obesidade é uma "sentença de morte" que certamente vai levar à diabetes e frequentemente ao câncer. <a href="http://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2608221">Um estudo recente</a> analisou a associação entre fatores da dieta e mortalidade por doença cardiovascular e doença cardíaca. Como um todo, dez fatores relacionados à dieta foram responsáveis por 45,4% das mortes. Apenas 0,4% dessas mortas foram associadas com alto consumo de carnes vermelhas não processadas e 8,2% com um alto consumo de carnes processadas. Baixo consumo de frutas e vegetais foram associadas com 7,5% e 7,6% das mortes respectivamente. <a href="https://www.cancer.org/latest-news/cdc-lifestyle-changes-can-reduce-death-from-top-5-causes.html">De acordo com o CDC</a>, algo entre 20 e 40% das cinco principais causas de morte podem ser prevenidas por mudanças no estilo de vida, mas não apenas mudanças na dieta. O cigarro é a causa número de mortes evitáveis, e não dieta inadequada; outros fatores de estilo de vida importantes são uso de álcool, falta de exercício, exposição ao sol, e não usar de cintos de segurança e capacetes. A estimativa de 70% é um exagero; a verdadeira proporção de mortes evitáveis pelo estilo de vida é <a href="http://time.com/84514/nearly-half-of-us-deaths-can-be-prevented-with-lifestyle-changes/">provavelmente menor que 50%</a>. E a dieta tem um impacto relativamente pequeno comparado ao outros fatores de estilo de vida. O documentário nos diz que fatores da dieta são mais importantes que tabagismo, mas claramente isso não é verdade. Nos diz que dietas baseadas em plantas vão parar e reverter doença cardíaca e que câncer de mama pode ser evitado pela dieta. Como eu gostaria!</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>Diabetes</b> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estamos no meio de uma epidemia de diabetes (de adulto/tipo II). O documentário nos diz que diabetes não é causada por açúcar: carne e gordura causam diabetes. Diz que carboidratos não engordam, apenas gorduras. Diz que o corpo não pode converter carboidrato em gordura (sim, pode!). Eles mencionam um estudo de Harvard mostrando que um porção de carne processada ao dia aumenta o risco de diabetes em 51%, mas <a href="http://circ.ahajournals.org/content/early/2010/05/17/CIRCULATIONAHA.109.924977">essa revisão sistemática de 2017</a> diz que aumenta o risco em 19%. E lembre, isso é risco relativo, não risco absoluto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O documentário diz que o risco de diabetes do tipo 1 aumenta pela exposição a laticínios na juventude, mas <a href="https://link.springer.com/article/10.1007/s00394-009-0008-z">esse estudo</a> diz o oposto. Exposição precoce não é um fator de risco e pode na verdade reduzir o risco. Esses são apenas dois de muitos exemplos de como o documentário seleciona apenas os estudos que apoiam suas crenças e ignora informação contraditória. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">Carne de frango</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A carne de frango é melhor que a carne vermelha? Eles dizem, "É uma questão se você prefere tomar um tiro ou ser enforcado". Dizem que carne de frango é a principal fonte de colesterol na dieta americana e a principal fonte de sódio porque os frangos recebem injeções de água salgada. Eles nos contam que o risco de câncer de próstata é quatro vezes maior com consumo de carne de frango. (Não é verdade: <a href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4741082/">essa meta-análise não encontrou nenhuma associação</a>). Um comediante saiu de um evento da ADA (American Diabetes Association) onde serviam frango, dizendo que era como servir álcool numa reunião dos Alcoólicos Anônimos. O documentário diz que a carne de frango é carcinogênico e restaurantes de fast-food podem ser exigidos de anunciarem essa afirmação. Mas advinha? Frutas e vegetais também possuem carcinogênicos! Mas eles não recomendam alertarem os veganos sobre os carcinogênicos que eles estão ingerindo pelas plantas. Claramente, um peso, duas medidas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">Ovos</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O documentário nos diz que gemas de ovos são pura gordura e colesterol (não é verdade; elas contem metade das proteínas do ovo junto com vitaminas, aminoácidos essenciais e outros nutrientes). Um "especialista" nos diz que gema de ovo tinge nossas células vermelhas (!?), afinam o sangue, e alteram níveis de hormônio. Eles afirmam que comer um ovo diminui a longevidade tanto quanto fumar 5 cigarros. Eu duvido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>Queijo</b> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eles nos dizem que queijo é um dos piores alimentos; eles descrevem como "pus de vaca coagulado" É viciante, metaboliza em um composto que se liga a receptores de heroína no cérebro. Pode causar síndrome da morte súbita infantil ou autismo. 450 drogas são administradas nos animais e as companhias escondem informação sobre o que há nos seus produtos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">Peixe</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eles dizem que as diretrizes nutricionais estão erradas em sugerir a substituição de carne vermelha por peixe. Peixe contem mercúrio, PCBs, colesterol, pesticidas, herbicidas. Peixes de cativeiro contém antibióticos e antifúngicos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">Leite</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Eles dizem que leite de vaca é "terrível". Está cheio de coisas ruins, como gorduras saturadas, colesterol, e pus. Um pediatra diz que causa eczema, acne, constipação, refluxo e anemia ferropriva em crianças. Ele diz que é o alimento mais alergênico. Laticínios estão relacionados com muitos tipos de câncer, assim como asma, esclerose múltipla, diabetes do tipo 1, e doenças reumatológicas e autoimunes. Leite não constrói ossos fortes: pessoas que bebem leite têm mais fraturas e não vivem muito. Não devemos beber leite: a intolerância à lactose é a norma em adultos. Americanos africanos têm alta prevalência de intolerância à lactose. O governo os encoraja a consumir leite, mesmo sabendo que isso irá adoecê-los; isso seria um tipo de "racismo institucionalizado". Mencionam também racismo em conjunto com a pulverização em fazendas de suínos, afirmando que a poluição é maior onde há comunidades Africo Americanas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O<span style="font-size: large;">utras afirmações questionáveis</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Comer "toxinas de bactérias de carne morta" causa um imediato surto de inflamação, levando a imediato danos em minutos, estreitando nossas artérias e reduzindo a capacidades das artérias de relaxarem pela metade (?!). Comer carne causa dano no cérebro que é diagnosticado erradamente como Alzheimer. A doença da vaca louca está matando pessoas e o governo não admite. Muitos estudos são financiados pelas indústrias da carne, ovo e laticínios para deliberadamente criar dúvida, assim como a indústria do cigarro fez quando disse "a dúvida é o nosso produto". As recomendações de dieta do Governo vêm de um painel composto de representantes da indústria. O governo aprisiona as pessoas que vão contra eles e até criminaliza pessoas por simplesmente tirar uma foto ou filmar o que ocorrer dentro de uma indústria de animal. Os delatores são silenciados por leis "ag-gag". Aparentemente, o governo está em comparação com as indústrias farmacêutica, alimentícia e com organizações como American Diabetes Association (ADA) e American Cancer Society (ACS); todos motivados em fazer dinheiro, não em manter as pessoas saudáveis. Somos anatomicamente frugívoros (comedores de frutas), não onívoros: você pode saber isso porque não temos o tipo de dente necessário para um carnívoro rasgar, morder sua presa até a morte. (Eles esquecem que temos cérebros e ferramentas que nos equipam para caçar, matar e cozinhar carne, sem a menor necessidade de caninos e garras. Prova adicional que somos frugívoros é que achamos batidos feito com frutas mais saborosos que os feitos com carne!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">Criticas à medicina convencional</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Eles são bem críticos à medicina convencional. Els mencionam os mesmos <a href="http://www.csicop.org/si/show/defending_science-based_medicine_44_doctor-bashing_arguments_and_rebuttals" target="_blank">argumentos fracos para críticar médicos</a> que debancamos muitas vezes. Os médicos não estão interessados em prevenção (absurdo! <a href="https://sciencebasedmedicine.org/if-you-think-doctors-dont-do-prevention-think-again/" target="_blank">Foram eles inventaram a prevenção</a>). Médicos não consideram as causas subjacentes da doença (eles sempre consideram, quando há evidência para uma causa subjacente). Médicos condenam pacientes a tomar medicações para o resto da vida; se você seguir a recomendação deles, você nunca vai melhorar (se você seguir o conselho, você pode não ser curado de uma doença incurável, mas viverá mais). As pessoas que tomam estatinas ainda tem ataque cardíaco (verdade, mas eles têm menos ataques). Médicos não aprendem sobre nutrição (absurdo, eles entendem os princípios, mas deixam a recomendação individual de dieta para nutricionistas). A indústria farmacêutica e os médicos investiram bastante em manter as pessoas doentes (mesmo se eles não se importassem com seus pacientes, certamente teriam investido bastante em ficar eles mesmos saudáveis e manter saudáveis seus amigos e entes queridos). <br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">Ligando para American Cancer Society</span></b><br />
<br />
Nas primeiras de muitas vinhetas de ligaçãoes telefônicas, o produtor do filme, Kip Anderson, liga para American Cancer Society perguntando o motivo pelo qual eles não avisam sobre os perigos da carne vermelha no site da sociedade. Ele é colocado em espera, mas eventualmente é concedido uma entrevista. A entrevista é cancelada e a sociedade para de responder quando percebem que ele apenas quer argumentar com eles sobre dieta e câncer. Não fiquei surpresa. A recomendação da sociedade é baseada em avaliações por especialistas de toda evidência publicada e não é provável que eles mudem de ideia porque um único indivíduo, que não é cientista, com um propósito aparece para argumentar com eles.<br />
<br />
O truque da ligação telefônica é repetido com a American Diabetes Association. O produtor quer saber por que eles não colocam claramente no site que carne vermelha causa diabetes e como eles conseguem incluir uma receita de camarão enrolado com bacon! Ele eventualmente consegue entrevistar um portavoz da ADA, que responde educadamente que há evidências insuficientes que a dieta pode curar diabetes, e diz "nós recomendamos uma dieta saudável". Ele reconhece que há estudos, mas argumenta que muitos deles não foram replicados ou estão errados; é por isso que fazemos revisão por pares. O produtor Anderson continua mencionando estudos individuais até que o porta-voz perde a paciência e interrompe a entrevista, explicando que não quer entrar numa discussão. Anderson interpreta isso como se a ADA não tivesse interessada em prevenção ou cura.<br />
<br />
Então, ele liga para a American Heart Association, perguntando por que eles incluem uma receita de bife e ovos. Ele obtém uma resposta similar. Ele interpreta essas inquisições telefônicas sem respostas como obstrução e uma tentativa organizada de esconder a verdade. Ele descobre que a ACS, ADA e AHA e outras organizações convencionais são financiadas em parte por produtores de alimento, como Dannon, Kraft, Tyson e cadeias de restaurante fast-food como KFC. Ele diz que não podemos confiar nessas organizações, porque estão pegando dinheiro das companhias que causam as doenças que eles querem prevenir.<br />
<br />
Como um analogia, eu não consigo parar de pensar como a American Academy of Pediatrics responderia a uma ligação aleatória exigindo que seu site avisasse que vacinas podem causar autismo e reclamando que médicos não podem ser confiáveis, porque são pagos pela indústria farmacêutica que vendem vacinas. Eu não os culparia, caso desligassem o telefone.<br />
<b><br /></b>
<b><span style="font-size: large;">Os benefícios de uma dieta vegana</span></b><br />
<b><br /></b>
A American Diabetes Association fez <a href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19562864" target="_blank">uma declaração sobre dietas veganas/vegetarianas</a>, listando vários benefícios para saúde, mas lembrando que há variabilidade nas dietas e a necessidade de avaliar individualmente a adequação nutricional. <br />
<br />
O filme afirma que os pacientes que sofrem com artrite reumatóide podem parar de tomar suas medicações, mas <a href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20430134" target="_blank">essa revisão sistemática</a> concluiu que os efeitos das intervenções nas dietas são incertos.<br />
<br />
Muitos dos argumentos para o veganismo não são relacionados à saúde, mas morais. Animais sofrem pelo confinamento, as condições são insalubres, eles produzem gazes do efeito estufa e são ruins para o ambiente.<br />
<b><br /></b>
<b><span style="font-size: large;">Testemunhos</span></b><br />
<b><br /></b>
Eles entrevistas pessoas que viraram veganas cujos testemunhos são inacreditáveis. Uma mulher obesa foi ao médico por causa de asma; depois de um exame PCR (não é indicado!), o médico dela supostamente disse que "ela estava próxima de um ataque cardíaco em 30 dias". Acho difícil de acreditar que algum médico faria tal previsão. Ela supostamente apresentou remissão completa da asma e dor crônica apenas duas semanas adotando uma dieta baseada em plantas; ela foi capaz de parar seus remédios da asma, dor, doença cardíaca e depressão.<br />
<br />
Atletas de elite que viraram veganos relatam melhorias nas recuperações de lesões e uma performance de "100%". Uma paciente afirmou que dieta baseada em plantas curou seu câncer de tireoide em um 1 ano. Uma paciente agendada para substituição bilateral de quadril disse que foi capaz de andar sem dor e parar todas suas medicações após duas semanas. Permaneço cética.<br />
<br />
O produtor do filme fornece o seu próprio testemunho que "dentro de poucos dias eu pude sentir meu sangue correndo pelas minhas veias com uma nova vitalidade" (eu não consigo sentir o sangue correr pelas minhas veis; você consegue?) Ele se recusa comer até um pequeno pedaço de alimento animal, não por questões de saúde, mas porque ele não consegue apoiar uma indústria que está causando tanto sofrimento em comunidades, famílias e todas as vidas no planeta. Ele rejeita o argumento "tudo em moderação" porque a evidência não mostra que comer pequenas porções de alimento animal é saudável.<br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">Conclusão: espetáculo, não ciência </span></b><br />
<b><br /></b>
Há indiscutíveis vantagens à saúde de uma dieta baseada em platas, mas a evidência é insuficiente para recomendar que todo mundo adote uma dieta vegana. O documentário <i>What the Health</i> não é balanceado, mas é uma polêmica alarmista e enviesada. Faz "contagem de cerejas" nos estudos científicos, exagera, e faz afirmações não verdadeiras, se baseia em testemunhos e entrevistas com "especialistas" questionáveis, e falha em colocar a evidência em perspectiva. Não apresenta nenhuma evidência para apoiar a afirmação que uma dieta vegana pode prevenir e curar a maioria das doenças. Simplesmente não é uma fonte confiável de informações de saúde.<br />
<br />
O consenso de cientistas, médicos, e nutricionistas é que uma dieta vegana pode ser saudável, mas não é a única dieta saudável. Nós como sociedade devemos comer mais plantas, mas não precisamos rejeitar totalmente comida animal. Uma dieta saudável pode incluir ovo, leite, queijo, peixe, marisco, alguma carne vemelha e até uma pequena quantidade de carne processada. Certamente não há evidências claras que nos convenceria que todo mundo deveria completamente abandonar alimento animal. Não precisamos cortar ovos, bacon e um steak ocasional. Há riscos para quase tudo que fazemos (até carcinogênicos em uma dieta vegana) e a maioria de nós aceitaria um pequeno risco hipotético para poder consumir as comidas que gostamos. Até melhores evidências aparecerem, acho que a abordagem "moderação em todas as coisas" é bem razoável. </div>
<a href="https://sciencebasedmedicine.org/wp-content/uploads/2017/07/p13958316_p_v8_aa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><br /></a>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-21128989734745048712017-04-23T11:53:00.000-03:002017-04-23T11:53:41.086-03:00Jerry Coyne sobre tabus na ciência, ceticismo, e a incompatibilidade entre fé e fato<b>por Malhar Mali</b><br />
Fonte: <a href="https://areomagazine.com/2017/03/10/jerry-coyne-on-taboos-in-science-skepticism-and-the-incompatibility-of-faith-and-fact/">Areo Magazine</a><br />
tradução: Felipe Nogueira<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://areomagazine.files.wordpress.com/2017/03/publicity-photo-1_2.jpg?w=1120" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="276" src="https://areomagazine.files.wordpress.com/2017/03/publicity-photo-1_2.jpg?w=1120" width="320" /></a></div>
Jerry Coyne é professor emérito no Departamento de Ecologia e Evolução na Universidade de Chicago. Como um cientista produtivo e comentarista em uma grande variedade de tópicos, Dr. Coyne construiu uma reputação não apenas pela sua inquisição científica e livros, mas também pelas suas críticas ao criacionismo, design inteligente, religião e, recentemente, infrações nos princípios de liberdade de expressão. Ele participou do podcast <i>Waking Up with Sam Harris</i>, do programa <i>The Rubin Report </i>e tem palestrado ao redor do mundo sobre evolução e os méritos da ciência. Seu trabalho foi premiado pelas revistas <i>The Atlantic, Forbes </i>e<i> Scientific American. </i>Eu conversei com ele sobre tabus no campo dele, sobre a defesa da liberdade de expressão, e seus pensamentos sobre a co-existência da ciência e religião. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A seguir é a nossa conversa transcrita e editada para torná-la mais clara. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Malhar Mali: Vamos falar sobre a liberdade de explorar ideias na ciência. As diferenças entre gênero e raça são tabus ou tópicos indiscutíveis? O quanto isso vem das humanas? Me lembro de uma leitura com o título "A Construção Social da Raça" onde o autor, Ian Lopez, argumentou eloquentemente que a raça não é uma realidade biológica e que isso é uma "construção social".</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jerry Coyne: Essa é uma questão difícil e um campo minado ideologicamente. Muitas críticas anti-científicas vem das humanas - por pós-modernistas, na grande maioria. Isso é um pouco curioso porque pós-modernistas não acham que alguma verdade seja privilegiada. Então se você diz que "raça é biológico" isso é menos verdade do que "raça é uma construção social"? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Antropologistas culturais e Esquerdistas também possuem problema com isso. E eu sou um Esquerdista, mas também um cientista e eu não gosto de algumas perguntas serem consideradas inúteis ou tabus se elas são perguntas respondíveis cientificamente. Por exemplo, a questão da raça: em uma época - antes dos humanos começarem a misturar e antes da haver transportes, há aproximadamente 200 anos - havia grupos de população distintos sexualmente. Isso representava isolados humanos que migraram pelo mundo. Os Norte e Sul Americanos, Polinésios, Asiáticos Ocidentais, Africanos, etc. Nessa época, eles eram bem distinguíveis. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Atualmente, devido a indefinição causada pelo transporte e miscigenação, não vemos a mesma diferenciação - mas mesmo assim vemos alguma diferenciação genética ao redor do mundo. Você pode chamá-las de raças populacionais, mas eu chamaria de "populações geneticamente distintas" apenas para evitar a ideologia. As diferenças genéticas não são grandes. Isso porque deixamos a Africa apenas 60.000 anos atrás e não teve tempo suficiente para diferenças genéticas profundas ocorrem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas os puristas ideologicamente vão além. Eles dizem, "Não há praticamente nenhuma diferença biologicamente entre grupos de pessoas". E isso está errado. As diferenças fisiológicas, a cor da pele, a cor do olho, etc, são biológicas e genéticas. Há diferenças. A questão é se existe outras diferenças ainda não encontradas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E isso é aonde a ideologia nega qualquer raça, etnia, ou qualquer diferença biológica, porque eles acham que isso vai levar ao racismo. Mas é possível afirmar que há diferenças biológicas entre populações, sem afirmar que há uma superioridade inata de um grupo sobre o outro. Mas essas pessoas acham que não somos espertos o suficiente para perceber isso. O mesmo ocorre com estudos de gêneros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todo mundo sabe que há diferenças biológicas entre machos e fêmeas. Se nada além, pelo comportamento sexual. Essas são diferenças evoluídas e adaptativas. Se olharmos para animais, no geral, os machos não são muito discriminantes em relação ao que eles procuram sexualmente, enquanto as fêmeas são discriminantes. E isso ocorre por boas razões evolutivas. Nós temos isso na nossa espécie também, mas para humanos é dito que é uma construção social, por exemplo, um resultado do condicionamento social. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há sem dúvida outras diferenças de gênero também. Não sou completamente familiarizado com cada detalhe da literatura, mas é difícil não aceitar essa premissa quando vemos que nossos corpos evoluíram para serem diferentes - por que, afinal, os homens são maiores do que as mulheres? - então porque não outros aspectos dos humanos. As diferenças no tamanho corporal provavelmente resultaram da competição entre homens por mulheres. E se há diferenças morfológicas entre homem e mulher que evoluíram nos últimos seis milhões de anos da nossa história, por que negamos diferenças psicológicas? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente, isso está relacionado ao terceiro tabu, que é a psicologia evolucionária. Há alguns comportamentos humanos que psicólogos evolucionários argumentam que são os remanescentes da seleção natural nos nossos ancestrais. A premissa é simples: como nossos corpos, nossa mente também possui traços de nossos ancestrais. Isso não é controverso - a questão é quais comportamentos? Essa é a tarefa da psicologia evolucionária. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há pessoas como [o biólogo] PZ Myers que diz "eu rejeito a premissa da psicologia evolucionária". Quando ele diz isso, está rejeitando toda a premissa de qualquer evolução em nossa espécie. A visão deles é: estamos sozinhos, supostamente porque temos cultura, então estamos isentos do ancestral biológico nos nossos corpos e comportamentos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>MM: Eu vejo isso como a versão da Esquerda do criacionismo. Que nós nascemos como folhas de papel em branco (tábulas rasas).</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
JC: Isso é que [o psicólogo] Steven Pinker cobre no seu excelente livro <i>Tábula Rasa</i>. Eu sou um Esquerdista. Eu não gosto de sexismo. Eu não gosto de discriminação de gênero. Mas eu acho bem interessante pensar sobre as diferenças entre homens e mulheres e eu quero saber o quanto delas são biológicas. Eu quero saber sobre qualquer diferença entre groups étnicos humanos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Algumas dessas perguntas são difíceis de responder. Mas não quer dizer que elas são inacessíveis. Há algumas perguntas que você pode não querer investigar porque elas tem um potencial efeito prejudicial maior. Por exemplo: Os Judeus possuem alguma base genética para adquirir dinheiro? Por que alguém iria querer pesquisar essa pergunta? Apenas porque alimenta um esteriótipo que já está presente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu acho que nenhuma pergunta é tabu. Algumas perguntas são potencialmente mais prejudiciais que outras. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>MM: Mudando de assunto, parece que aquilo que os céticos deveriam estar focados muda constantemente. Nos anos 90 e início dos anos 2000, era a direita-cristã e contra criacionismo. Na última década mais ou menos, tem sido Islamismo, misturando com pós-modernismo e a "cultura da vitimização" na Academia. Você acredito que é agora o tempo para focarmos mais atenção no Trump e na sua administração - ou o cenário é mais complicado?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
JC: Muitos da Esquerda parecem pensar que devemos concentrar todas as nossas energias em uma questão apenas. Isso é enganoso. Eu certamente consigo perceber feministas ocidentais tentando eliminar o sexismo dos Estados Unidos, mas não se preocupando muito com a mutilação feminina - mesmo que isso seja um problema maior, certamente na questão de danos. Não podemos consertar tudo de uma vez, e com frequência é mais fácil lidar com problemas na nossa cultura do em que em outros lugares. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acredito que o perigo mais prejudicial nos Estados agora é o Trump e sua administração. Não há muito o que possamos fazer. Não podemos "impeachmar" esse cara. Podemos escrever para nossos senadores e representantes, mas a maioria dessas pessoas são conservadoras. Então, vou dedicar um percentual da minha energia para isso, mas eu também vou gastá-la chamando a atenção para os excessos da Esquerda - principalmente porque eu tenho mais influência nos liberais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b> </b></div>
<div style="text-align: justify;">
O que não gosto é as pessoas dizendo que você precisa prestar atenção nisso e param de prestar atenção naquilo. Eu vejo isso isso sempre no meu site. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>MM: Vejo alguns críticos que adotam essa posição. Os liberais estão gastando muito tempo focando na locura dos campus das universidades e nas infrações no princípio de liberdade de expressão. Eu sempre penso: bem, milhões de dólares estão sendo gastos quase todos os dias na crítica do Trump e sua administração por praticamente todas as mídias. Cada ação dele é analisada. O que mais você pode dizer que ainda não foi dito? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
JC: Todo mundo escreve sobre o Trump. Eu passo o meu feed de notícias e tudo é sobre o Trump. O que posso dizer que as pessoas ainda não disseram sobre o Trump? Há muitos megafones contra o Trump. Olhe para os vencedores do Óscar, falando em voz alta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas nem muitas pessoas estão falando sobre liberdade de expressão - especialmente na Esquerda. A liberdade de expressão pode desaparecer mais rápido do que as pessoas pensam. O Trump agora entrou no negócio de infringir a liberdade de expressão em muitas maneiras, atráves de agências do governo, ou acusando a mídia como <i>New York Times</i> de ser "notícia falsa". Então, um foco geral na Primeira Emenda é saudável para o país como um todo. Acredite, eu já tenho a minha parcela de criticismo ao Trump. Eu o desprezo, mas quando você diz algo diversas vezes, não há muito mais a ser dito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>MM: Concordo. Próximo tópico: você é um grande proponente contra a ideia da co-existência da religião e ciência - contra a hipótese [do paleontólogo] Steven Jay Gould, você falar sobre isso? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
JC: Há duas maneiras que as pessoas dizem que a ciência e religião são compatíveis. A primeira é dizer que há cientistas religiosos e pessoas religiosas que gostam de ciência. Isso é verdade. Mas isso não é compatibilidade, é compartimentalização. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que quero dizer sobre "incompatibilidade" é que a ciência e religião fazem afirmações sobre o que é verdade. A religião faz afirmações sobre a existência de um Deus, do inferno, etc. Cada religião tem as suas afirmações fatuais e afirmações de moralidade. Essas afirmações são as vezes incompatíveis. Apenas isso te diz que há algo errado com a religião. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A principal incompatibilidade é que na ciência - mas não na religião - temos métodos de descobrir se suas afirmações são ou não verdade. Então, a incompatibilidade entre a ciência e religião é a incompatibilidade entre a superstição e racionalidade. É a incompatibilidade entre a metodologia que ciência usa para encontrar verdade - que é o método científico - versus a metodologia que a religião usa: revelação, autoridade, escritura, e dogma. Além disso, os resultados de tais busca pela verdade são diferentes. Religião fala de muitas "verdades" que não são verdadeiras: a Arca de Noé, O Dilúvio, Maomé voando no seu cavalo com asas, todas essas coisas. Então os resultados são incompatíveis, a metodologia é incompatível, e a filosofia é incompatível também (a ciência rejeitou o sobrenatural como uma explicação possível; a religião aceita).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A ciência rejeitou o sobrenatural porque na prática não foi mostrado que funciona. A afirmação do Gould é que você pode aceitar ciência e religião ao mesmo tempo. Um exemplo seria Francis Collins, o diretor do Instituto Nacional de Saúde, que é um cristão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas isso não prova compatibilidade. Quando Francis Collins entra no seu laboratório, ele vira um ateu. Ele não vai usar nada do sobrenatural na pesquisa dele. Mesmo assim, quando ele entra pelas portas da igreja dele no Domingo, ele aceita uma maneira diferente de julgar a verdade. Ele aceita mitos sobre ressurreição e salvação, para os quais não há qualquer evidência - essa é a incompatibilidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A solução do Stephen Jay Gould foi analisar religião e ciência - fé e fato - separadamente. Ele disse que ciência e religião são compatíveis porque não são áreas interferentes, são magistérios não interferentes ou "MNI" como ele chamou. Na opinião dele, o escopo da ciência é fazer afirmações sobre a realidade, enquanto o escopo da religião é falar sobre significados, morais e valores. Porque elas operam em áreas diferentes, afirmou Gould, elas são compatíveis e podem co-existir sem antagonismo. Ele está errado sobre isso, porque a religião se recusa a não fazer afirmações sobre o mundo real! O que é um criacionismo, o qual 40% dos Americanos aderem, se não uma afirmação sobre a origem e desenvolvimento da vida e como veio a existir? Religião constantemente faz afirmações factuais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A grande oposição à afirmação do Gould de que a religião não faz afirmações sobre a religião vem de teólogos. No meu livro, eu documento diversas afirmações feitas por pessoas religiosas que dizem "Nós fazemos afirmações sobre a relidade. Está nas nossas escrituras!". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A afirmação do Gould de que religião não faz a afirmação é completamente falho. Não sei da onde ele tirou isso. Não acho que ele realmente acreditava nisso, porque eu conhecia ele. Acho que ele estava apenas tentando ser legal com as pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A outra afirmação - que significados, morais e valores são julgados pela religião - também é falho porque temos essa história de investigação secular na ética, moralidade, e valores da vida, iniciando com os Gregos, passando por Spizona, Kant, Hume, e nos dias de hoje temos Peter Singer, John Rawls, Anthony Grayling, todos os quais são filósofos seculares. Eles falam sobre moralidade e maneiras de viver sem sequer mencionar Deus, porque eles são ateus. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No seu livro, Gould percebeu de repente que há essa tradição secular. Mas então ele diz, "Dane-se. Nós vamos apenas construir esse tipos de discussões como 'religiosos em sua natureza'. Ele requintou seu argumento apenas redefinindo o que religião é. Peter Singer e Anthony Grayling, pelos padrões de Gould, podem ser chamados de religiosos, mesmo sendo completamente ateus! Então, a ideia toda não funciona. Eu resenhei o livro do Gould <i>Rock of Ages </i>para o <i>The Times Literary Supplement</i> e basicamente disse que todo o livro não funciona. Essa é uma falsa reconciliação entre a ciência e a religião. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Religião e ciência não são compatíveis. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-60716353421292041042017-04-22T18:36:00.000-03:002017-04-23T12:06:26.276-03:00Tratar o vício como uma doença do cérebro promove injustiça social<b>por Carl L. Hart</b><br />
fonte: <a href="https://www.nature.com/articles/s41562-017-0055">Nature Human Behaviour</a><br />
tradução: Felipe Nogueira<br />
<br />
<b>A visão do uso e dependência de drogas como uma doença cerebral serve para perpetuar políticas de drogas discriminatórias, custosas e não realistas, argumenta Carl L. Hart.</b><br />
<br />
<a href="https://www.nature.com/article-assets/npg/nathumbehav/2017/s41562-017-0055/images_hires/relative/s41562-017-0055-i1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://www.nature.com/article-assets/npg/nathumbehav/2017/s41562-017-0055/images_hires/relative/s41562-017-0055-i1.jpg" width="262" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Mais de 25 anos atrás, comecei estudar neurociência porque pensava que essa abordagem iria unicamente corrigir o “problema das drogas”. Nessa época, eu acreditava que a pobreza e o crime na comunidade pobre de onde eu vim era um resultado direto do vício em drogas; então, eu raciocinei que se eu pudesse curar o vício, especialmente através de manipulações neurais, eu poderia corrigir a pobreza e o crime na minha comunidade. Mas, aprendi que enquanto a cocaína – e outras drogas recreativas – alteram temporariamente a função de neurônios específicos nos cérebros de todos que ingerem a droga, a vasta maioria dos usuários nunca fica viciada. E em relação ao pequeno percentual dos indivíduos que ficam viciados, doenças psiquiátricas coexistentes e fatores socioeconômicos são responsáveis por uma proporção substancial desses casos de vício. Até hoje, não foi identificado substrato biológico que diferencie pessoas não viciadas de indivíduos viciados. </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A noção de que o vício em drogas é uma doença cerebral é cativante, mas vazia: praticamente não há dados em humanos indicando que o vício é uma doença do cérebro, da mesma maneira que, por exemplo, Huntington ou Parkinson são doenças do cérebro. Com essas doenças, é possível olhar o cérebro de indivíduos afetados e fazer previsões precisas sobre a doença envolvida e seus sintomas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não estamos perto de sermos capazes de distinguir os cérebros de pessoas viciadas daqueles de indivíduos não viciados. Apesar disso, a perspectiva do “cérebro doente” tem uma influência grande no financiamento e direcionamento da pesquisa, assim como o uso e o vício em drogas são vistos na sociedade. Por exemplo, o recém-lançado e multimilionário estudo longitudinal <i>Adolescent Brain Cognitive Development</i> (<a href="https://addictionresearch.nih.gov/abcd-study">https://addictionresearch.nih.gov/abcd-study</a>) busca primariamente por dados de neuro-imagem para melhor entender o vício entre adolescentes. O estudo coleta informações genéticas e mensura o uso de drogas e resultado acadêmico, mas falta uma consideração de importantes fatores sociais. Notavelmente, nunca houve um financiamento ambicioso como esse focado em determinantes psicossociais ou consequências (por exemplo, estado empregatício, discriminação racial, características do bairro, políticas) do uso ou vício em drogas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa situação contribui para política de drogas prejudiciais, custosas e irrealistas. Se o real problema com o vício em drogas, por exemplo, é a interação entre a droga em si e o cérebro do indivíduo, então a solução desse problema está entre uma de duas abordagens. Remover as drogas da sociedade através da polícia e aplicação das leis (por exemplo, sociedades livre de drogas) ou focar exclusivamente no cérebro ‘viciado’ do individuo como o problema. Em ambos os casos, não há necessidade ou interesse em entender o papel de fatores socioeconômicos na manutenção do uso de drogas ou mediando o vício em drogas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os efeitos prejudiciais de usar a aplicação da lei como um meio primário de lidar com uso de drogas são bem documentados. Milhões são presos anualmente por posse de drogas e a abominável prática de racismo floresce na aplicação de tais políticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a posse de maconha foi responsável por quase metade das 1,5 milhão de prisões relacionadas às drogas, e negros são quatro vezes mais prováveis de serem presos por posse de maconha do que brancos, mesmo que ambos os grupos usem maconha em taxas similares.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma insidiosa premissa da teoria do cérebro doente é que qualquer uso de certas drogas é considerado patológico, até mesmo o uso recreativo, não problemático que caracteriza a experiência da grande maioria daqueles que ingerem essas drogas. Por exemplo, em uma popular campanha americana antidroga, é implicado que apenas um uso de metanfetamina é suficiente para causar danos irrevogáveis: <a href="http://www.methproject.org/ads/tv/deep-end.html">http://www.methproject.org/ads/tv/deep-end.html</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nos anos 80, o uso de crack foi culpado por tudo desde extrema violência até altas taxas de desemprego, mortes prematuras, e abandono de crianças. Até mais assustador, o vício na droga era dito que ocorria apenas após um único uso. Especialistas em drogas com vertentes em neurociência se manifestaram. “A melhor maneira para reduzir a demanda”, o professor de psiquiatria da Universidade de Yale Frank Gawin, foi citado na revista <i>Newsweek </i>(16 de Junho de 1986), “seria Deus redesenhar o cérebro humano para mudar a maneira como a cocaína reage com certos neurônios”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Neuro-observações” sobre drogas com nenhum fundamento em evidência eram perniciosas: elas ajudaram a moldar um ambiente no qual havia um objetivo irrealista e injustificado de eliminar certos tipos de uso de drogas a qualquer custo para marginalizar cidadãos. Em 1986, o Congresso dos Estados Unidos passou uma legislação definindo penalidades que eram literalmente 100 vezes mais duras para violações relacionadas ao crack (pedra de cocaína) do que para o pó de cocaína. Mais de 80% daqueles sentenciados por ofensas relacionadas ao crack eram negros, apesar do fato de que a maioria dos usuários era branca. Hoje, muitos acham as leis referentes a pedra/pó de cocaína repugnantes porque elas exageram os efeitos danosos do crack e são aplicadas em uma maneira racialmente discriminatória, mas poucos examinam criticamente o papel exercido pela comunidade científica apoiando as premissas subjacentes a essas leis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por sua parte, a comunidade científica tem ignorado a vergonhosa discriminação racial que ocorre na aplicação das leis referentes às drogas. Os próprios pesquisadores são esmagadoramente brancos e não têm de viver com as consequências de suas ações. Eu não tenho esse luxo. Todas as vezes que eu olho para meus filhos ou volto para o local que passei minha juventude, sou forçado a lidar com a dizimação resultamte da discriminação racial que é tão desenfreada na aplicação das leis referentes às drogas e é instigada por argumentos com uma fraca base em evidências científicas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não podemos mais permitir que neuro exageros determinem nossas prioridades de financiamento e rumo da pesquisa em drogas, moldem nossas visões nem nossas políticas de drogas. As apostas são muito altas e o custo humano é incalculável. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b>Informações sobre o autor</b><br />
Carl L. Hart é o professor Dirk Ziff e diretor do Departamento de Psicologia, e Professor no Departamento de Psiquiatria na Universidade de Columbia, em Nova York.<br />
<br />
<br />
<br />Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-39947913542124598992017-03-04T01:53:00.002-03:002017-10-05T18:30:13.749-03:00Eventos adversos na manipulação ou mobilização da coluna cervical<div class="" data-block="true" data-editor="fjqf4" data-offset-key="65pjc-0-0" style="background-color: white;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="65pjc-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<div class="" data-block="true" data-editor="fjqf4" data-offset-key="65pjc-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="65pjc-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">por Felipe Nogueira</span></span></span><br />
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></span>
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Um estudo publicado em janeiro deste ano revisou os eventos adversos após manipulação ou mobilização* da cervical [1].
Foram incluídos 144 estudos, com 227 casos de eventos adversos identificados:
</span></span></span><br />
<ul>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Em 66%, os eventos adversos ocorreram após um quiroprata.</span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Em 95% dos casos, houve manipulação da cervical*. </span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><b style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">A dissecção da artéria cervical foi relatada em 57% dos casos!</b></span></span></li>
</ul>
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
*Manipulação envolve movimentos de alta velocidade e pequena amplitude, sem controle do paciente. A mobilização envolve movimentos de baixa velocidade que podem ser evitados pelo paciente [2].
Referências:
1 . Kranenburg HA, et al. Adverse events associated with the use of cervical spine manipulation or mobilization and patient characteristics: A systematic review. Musculoskelet Sci Pract. 2017 Jan 23;28:32-38. doi: 10.1016/j.msksp.2017.01.008. [Epub ahead of print]
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28171776
2. Sran M, Khan K. Spinal manipulation versus mobilization. CMAJ. 2002 Jul 9; 167(1): 13–14. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC116626/</span></span></span></div>
</div>
</div>
</div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-16289773464656267762016-11-30T01:21:00.000-02:002016-11-30T02:55:47.794-02:00Produtos homeopáticos nos EUA terão avisos de que não funcionampor Felipe Nogueira<br />
<br />
Parece mentira, mas não é. Produtos homeopáticos nos Estados Unidos serão obrigados a conter um aviso no rótulo de que não funcionam. Essa foi a decisão da <a href="https://www.ftc.gov/news-events/press-releases/2016/11/ftc-issues-enforcement-policy-statement-regarding-marketing">Comissão Federal do Comércio</a> (FTC - <i>Federal Trade Commission</i>).<br />
<br />
De acordo com o <a href="https://www.ftc.gov/system/files/documents/public_statements/996984/p114505_otc_homeopathic_drug_enforcement_policy_statement.pdf">relatório oficial da FTC</a>, produtos homeopáticos não são baseados em métodos científicos atuais e também não são aceitos por médicos especialistas atuais. Como não há estudos científicos mostrando a eficácia de produtos homeopáticos, a FTC acredita que propagandas afirmando efeito terapêutico de tais produtos podem ser enganosas ao consumidor. <br />
<br />
A mudança é a seguinte. A FTC permite explicações adicionais para prevenir afirmações de serem enganosas. Logo, produtos homeopáticos poderão conter essa explicação adicional.<br />
<br />
Para a FTC, a promoção de um produto homeopático sem respaldo de evidências científicas não será considerada enganosa caso tal promoção comunique claramente aos consumidores que: <br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<ol>
<li> não há evidências científicas que o produto funciona e </li>
<li> que as alegacoes do produto são baseadas apenas em teorias da homeopatia de 1700 não aceitas pela maioria dos médicos especialistas atuais.</li>
</ol>
</blockquote>
<div>
A FTC deixou claro que não basta dizer que o produto é baseado em teorias homeopáticas: </div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
A afirmação de que um produto é baseado em teorias homeopáticas tradicionais pode alertar alguns consumidores em relação ao embasamento das afirmações de eficácia do produto. No entanto, como muitos consumidores não entendem o que é a homeopatia, a Comissão não acredita que tal afirmação sozinha alerta adequadamente os consumidores de que as afirmações de eficácia do produto não são respaldadas por evidências científicas e poderia, na verdade, aumentar a credibilidade aparente da afirmação. </blockquote>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
De forma similar, a Comissão acredita que a afirmação que a eficácia do produto "não foi avaliada pela Food and Drug Administration" não lida adequadamente com o potencial da falta de respaldo para afirmações de eficácia do produto(...) Finalmente, a Comissão acredita que <b>a simples afirmação de que a eficácia do produto não é apoiada por evidências científicas não transmite o verdadeiro respaldo limitado para tal afirmação e que, para evitar consumidores enganados, provavelmente é necessario explicação que não é aceita pela medicina moderna. </b> </blockquote>
</blockquote>
-----<br />
<b> Matérias publicadas sobre o assunto: </b><br />
<br />
<a href="http://scientific%20american/">Scientific American</a> (em inglês)<br />
<br />
<a href="http://brasil.elpais.com/brasil/2016/11/28/ciencia/1480357633_240491.html?id_externo_rsoc=fb_BR_CM">El País</a> (em português)<br />
<br />
<a href="http://edzardernst.com/2016/11/the-end-of-a-free-ride-for-homeopathy-in-the-us/">Site do Ezard Ernst</a> (em inglês)<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b>Os arquivos publicados pela FTC</b>:<br />
<br />
<a href="https://www.ftc.gov/news-events/press-releases/2016/11/ftc-issues-enforcement-policy-statement-regarding-marketing">Comunicado oficial no site da FTC</a><br />
<br />
<a href="https://www.ftc.gov/system/files/documents/public_statements/996984/p114505_otc_homeopathic_drug_enforcement_policy_statement.pdf">Relatório</a> (já citado acima)<br />
<br />
<a href="https://www.consumer.ftc.gov/blog/homeopathy-not-backed-modern-science">Post no blog da FTC com o título "Homeopatia: Não respaldada pela ciência moderna"</a><br />
<br />
<a href="https://www.ftc.gov/system/files/documents/reports/federal-trade-commission-staff-report-homeopathic-medicine-advertising-workshop/p114505_otc_homeopathic_medicine_and_advertising_workshop_report.pdf">Relatório da FTC sobre o Workshop em Medicina Homeopática e Propaganda</a><br />
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<br /></blockquote>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-41728750446516230642016-11-02T03:45:00.001-02:002019-02-27T00:02:01.749-03:00Tempo Quântico<!--[if !mso]>
<style>
v\:* {behavior:url(#default#VML);}
o\:* {behavior:url(#default#VML);}
w\:* {behavior:url(#default#VML);}
.shape {behavior:url(#default#VML);}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div align="right" style="background: white; line-height: 17.05pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></div>
<div align="center" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<em><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #222222; font-size: 14.0pt; font-style: normal;">Tempo Quântico</span></b></em></div>
<div align="center" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -35.4pt;">
<em><span style="color: #222222; font-style: normal;">Capítulo 11 do livro “<a href="https://www.amazon.com/Eternity-Here-Quest-Ultimate-Theory/dp/0452296544" target="_blank"><i><span style="color: #4db2ec;">From Eternity to Here</span></i></a>”,
<b>por Sean Carroll </b></span></em><em><span style="color: #222222; font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-size: 11.0pt; font-style: normal;"></span></em></div>
<div align="center" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<b><em><span style="color: #222222; font-style: normal;">Tradução:
Felipe Nogueira e Iran Filho</span></em></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #222222;"></span></i><br />
<b><em><span style="color: #222222; font-style: normal;">Fonte: </span></em></b><span style="color: #222222;"><b><a href="https://www.preposterousuniverse.com/eternitytohere/quantum/" target="_blank">Preposterous Universe (</a></b></span><b><em><span style="color: #222222; font-style: normal;"><a href="https://www.preposterousuniverse.com/eternitytohere/quantum/" target="_blank">Blog do Sean Carroll)</a> </span></em></b></div>
<div align="center" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 49.55pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<em><span style="color: #222222; font-size: 10.0pt; font-style: normal;">Doçura é por convenção, amargo é por convenção, quente é por convenção,
frio é por convenção, cor é por convenção; na verdade existem apenas átomos e o
vazio.</span></em><span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;"></span></div>
<div align="right" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 56.65pt; margin-top: 0cm; text-align: right; text-indent: 49.65pt;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">- Demócrito<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn1" name="_ednref1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[i]</span></span></span></span></a><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Muitas pessoas que passaram pelos cursos de introdução à
física na escola ou faculdade podem não concordar com a afirmação, "a
mecânica Newtoniana faz sentido intuitivo para nós". Elas podem se lembrar
do assunto como um carrossel desconcertante de polias, vetores e planos
inclinados e pensar que o "sentido intuitivo" é a última coisa que a
mecânica newtoniana deve ser acusada de fazer.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Mas, enquanto o processo de
realmente calcular alguma coisa no âmbito da mecânica Newtoniana — seja fazendo
um problema de lição de casa, ou levando astronautas à lua — pode ser
ferozmente complicado, os conceitos subjacentes são bastante simples. O mundo é
feito de coisas tangíveis que podemos observar e reconhecer: bolas de bilhar,
planetas, polias. Essas coisas exercem forças, ou chocam-se umas nas outras, e
seus movimentos mudam em resposta a essas influências. Se o Demônio de Laplace
soubesse todas as posições e momentos de cada partícula do universo, poderia
prever o futuro e o passado com perfeita fidelidade; sabemos que isso está fora
das nossas capacidades, mas podemos imaginar conhecer as posições e momentos de
algumas bolas de bilhar em uma mesa sem atrito, e, pelo menos em princípio,
podemos imaginar fazer o cálculo. Depois disso, é só uma questão de
extrapolação e coragem para abranger todo o universo.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">A mecânica Newtoniana é
normalmente referida como a mecânica “clássica” pelos físicos, que querem
enfatizar que não é apenas um conjunto de regras específicas estabelecidas por
Newton. A mecânica clássica é uma maneira de pensar sobre a estrutura profunda
do mundo. Diferentes tipos de coisas — bolas de beisebol, moléculas de gás,
ondas eletromagnéticas — seguem diferentes regras específicas, mas essas regras compartilham o mesmo padrão. A essência desse padrão é que tudo tem algum
tipo de "posição", e algum tipo de "<em>momentum</em>", e
que a informação pode ser usada para prever o que vai acontecer a seguir.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Essa estrutura é repetida em uma
variedade de contextos: a própria teoria da gravitação de Newton, a teoria de
Maxwell do século XIX da eletricidade e magnetismo e a relatividade geral de
Einstein todas se encaixam no quadro clássico. A mecânica clássica não é uma
teoria particular; é um paradigma, uma forma de conceituar o que é uma teoria
física, e que demonstrou uma surpreendente gama de sucesso empírico. Depois que
Newton publicou sua obra-prima em 1687,<span class="apple-converted-space"> </span><em>Philosophiae
Naturalis Principia Mathematica</em>, tornou-se quase impossível imaginar fazer
física de outra maneira. O mundo é feito de coisas, caracterizadas por posições
e momentos, empurradas por determinados conjuntos de forças; o trabalho da
física era classificar os tipos de coisas e descobrir o que as forças eram, e com
isso o trabalho estaria concluído.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Mas agora nós sabemos mais: a mecânica
clássica não está correta. Nas primeiras décadas do século XX, os físicos
tentaram entender o comportamento da matéria em escalas microscópicas e foram
gradualmente forçados a concluir que as regras teriam de ser derrubadas e
substituídas por outra coisa. Essa outra coisa é a <i>mecânica quântica</i>, provavelmente o maior triunfo da inteligência
humana e da imaginação de toda a história. A mecânica quântica oferece uma
imagem de mundo radicalmente diferente daquela da mecânica clássica, algo
que os cientistas nunca teriam seriamente contemplado se os dados experimentais
tivessem deixado alguma escolha. Hoje, a mecânica quântica goza do estatuto que
a mecânica clássica tinha no início do século XX: passou por uma variedade
de testes empíricos e a maioria dos pesquisadores está convencida de que as definitivas
leis da física são quânticas em sua natureza.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Mas, apesar de seus triunfos, a
mecânica quântica permanece um tanto misteriosa. Os físicos são completamente
confiantes em como eles <i>usam</i> a
mecânica quântica — eles podem construir teorias, fazer previsões e testes
contra experimentos sem haver qualquer ambigüidade ao longo do caminho. E, no
entanto, não estamos completamente certos de que sabemos o que a mecânica
quântica realmente <i>é</i>. Há um campo
respeitável de esforço intelectual, ocupando o tempo de um número substancial
de cientistas e filósofos talentosos, que recebe o nome de "interpretações
da mecânica quântica". Um século atrás, não havia um campo tal como
"interpretações da mecânica clássica" — a mecânica clássica é
perfeitamente fácil de interpretar. Nós ainda não temos certeza de qual é a
melhor maneira de pensar e falar sobre a mecânica quântica.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Essa ansiedade de interpretação decorre da única
diferença básica entre a mecânica quântica e a mecânica clássica, que é, ao
mesmo tempo, simples e tremendamente profunda em suas implicações:</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 6pt 1cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">De
acordo com a mecânica quântica, o que podemos <i>observar</i> sobre o mundo é apenas um pequeno subconjunto do que
realmente <i>existe</i>.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">As tentativas de explicar esse princípio muitas vezes o
diluem de tal maneira que se torna irreconhecível.<span class="apple-converted-space"> </span><em><span style="font-style: normal;">“É como aquele seu amigo que tem um sorriso muito
bonito, exceto quando você tentar tirar a sua foto, o sorriso sempre
desaparece”</span></em>. A mecânica quântica é muito mais profunda do que isso.
No mundo clássico, pode ser difícil obter uma medida precisa de alguma
quantidade; temos de ter muito cuidado para não perturbar o sistema que estamos
olhando. Mas não há nada na física clássica que nos impeça de ser cuidadosos.
Na mecânica quântica, por outro lado, existe um obstáculo intransponível para
fazer observações completas e não perturbadoras de um sistema físico. Isso simplesmente
não pode ser feito, em geral. O que exatamente acontece quando você tenta
observar alguma coisa, e o que realmente conta como uma “medição” — esses são o
lócus do mistério. Isso é o que é proveitosamente conhecido como o “problema da
medição”, tanto quanto um automóvel cair de um penhasco e quebrar em pedaços
nas rochas centenas de pés abaixo pode ser conhecido como “o problema com o
carro”. Teorias físicas bem sucedidas, supostamente, não deveriam ter ambiguidades
como essa; a primeira coisa que se pergunta sobre as teorias é se elas são
claramente definidas. A mecânica quântica, apesar de todos os seus êxitos
inegáveis, não chegou lá ainda.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Nada disso deve ser levado com
tanta preocupação, num sentido que todo o inferno está a solta ou que os
mistérios da mecânica quântica oferecem uma desculpa para acreditar no que você
quiser. Em particular, a mecânica quântica não significa que você pode mudar a
realidade apenas pensando sobre isso, ou que a física moderna redescobriu
alguma antiga sabedoria budista<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn2" name="_ednref2" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;">[ii]</span></span></span></a>. Há ainda regras, e nós
sabemos como as regras operam nos regimes de interesse para nossa vida
cotidiana. Mas nós gostaríamos de compreender como as regras operam em todas as
situações concebíveis.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">A maioria dos físicos modernos
lida com os problemas de interpretação da mecânica quântica por meio da
estratégia milenar de "negação". Eles sabem como as regras funcionam
em casos de interesse, eles podem colocar a mecânica quântica para trabalhar em
circunstâncias específicas e alcançar um incrível acordo com o experimento, mas
eles não querem ser incomodados com perguntas irritantes sobre todos os meios,
ou se a teoria está perfeitamente bem definida. Para os nossos propósitos neste
livro, muitas vezes será uma boa estratégia. O problema da seta do tempo estava
lá, disponível para Boltzmann e seus colaboradores, antes da mecânica quântica
ser inventada; podemos ir muito longe falando sobre entropia e cosmologia sem
nos preocupar com os detalhes da mecânica quântica.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Em algum momento, no entanto,
precisamos encarar o problema. A seta do tempo é, afinal, um quebra-cabeça
fundamental, e é possível que a mecânica quântica desempenhe um papel crucial
na resolução desse quebra-cabeça. E há outra coisa de interesse mais direto:
Esse processo de medição, onde todas as confusões de interpretação da mecânica
quântica podem ser encontradas, têm a propriedade notável de ser <i>irreversível</i>. Sozinha entre todas as
leis bem aceitas da física, a medição quântica é um processo que define a seta
do tempo: uma vez que você fizer isso, você não pode desfazer. E isso é um
mistério.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">É muito possível que essa
misteriosa irreversibilidade seja precisamente o mesmo personagem que a
misteriosa irreversibilidade na termodinâmica, conforme codificado na Segunda
Lei: é uma consequência de fazer aproximações e jogar fora informação, mesmo
que os processos profundos subjacentes sejam todos individualmente reversíveis.
Defenderei esse ponto de vista neste capítulo. Mas o assunto permanece
controverso entre os especialistas. A única coisa certa é que nós temos que
enfrentar o problema da medição, se estivermos interessados na seta do tempo.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><strong><span style="color: #222222;">O gato quântico</span></strong><span style="color: #222222;"></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Graças ao estiloso experimento mental de Erwin
Schrödinger, tornou-se tradicional em discussões sobre mecânica quântica usar
gatos como exemplos <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn3" name="_ednref3" title="">[iii]</a>.</span></span></span>
O gato de Schrödinger foi proposto para ajudar a ilustrar as dificuldades
envolvidas no problema de medição, mas vamos iniciar com os recursos básicos da
teoria antes de mergulhar nas sutilezas. E nenhum animal será prejudicado em
nossos experimentos mentais.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Imagine que a sua gata, Senhora
Gatinha, tem dois lugares favoritos em sua casa: o sofá e sob a mesa da sala de
jantar. No mundo real, há um número infinito de posições no espaço que poderiam
especificar a localização de um objeto físico, como um gato; Da mesma forma, há
um número infinito de momentos, mesmo se o seu gato tender a não se mover muito
rápido. Nós vamos simplificar as coisas de forma dramática, a fim de chegar ao
coração da mecânica quântica. Então, vamos imaginar que podemos especificar
completamente o estado da Senhora Gatinha – como seria descrita na mecânica
clássica — dizendo se ela está no sofá ou debaixo da mesa. Estaremos jogando
fora qualquer informação sobre a sua velocidade, ou qualquer conhecimento de que
parte exatamente do sofá ela está, e estaremos desconsiderando quaisquer
posições possíveis que não são "sofá" ou "mesa". Do ponto
de vista clássico, estamos simplificando a Senhora Gatinha para um sistema de dois
estados. (Sistemas de dois estados realmente existem no mundo real, por
exemplo, o giro de um elétron ou fóton pode apontar para cima ou para baixo, o estado quântico de um sistema de dois estados é descrito por um<span class="apple-converted-space"> </span><em><span style="font-style: normal;">“</span>qubit</em><em><span style="font-style: normal;">”</span></em>).</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Aqui está a primeira grande
diferença entre a mecânica quântica e a mecânica clássica: "A localização da
gata". Na mecânica quântica, não existe tal coisa como na mecânica
clássica, ou seja, pode acontecer que não saibamos onde a Senhora Gatinha está
e, portanto, podemos acabar dizendo coisas como: "Eu acho que há uma
chance de 75 por cento que ela esteja debaixo da mesa". Mas isso é uma
afirmação sobre nossa ignorância, e não sobre o mundo; há realmente um fato
sobre onde a gata está, quer saibamos ou não.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Na mecânica quântica, não há
nenhum fato sobre onde a Senhora Gatinha (ou qualquer outra coisa) está
localizada. O espaço de estados na mecânica quântica simplesmente não funciona
dessa forma. Em vez disso, os estados são especificados por algo chamado de<span class="apple-converted-space"> </span><em><span style="font-style: normal;">função de onda</span></em>. E a função de onda não
diz coisas como "o gato está no sofá" ou "o gato está debaixo da
mesa". Em vez disso, ela diz coisas como "se estivéssemos olhando,
haveria uma chance de 75 por cento que nós iríamos encontrar o gato debaixo da
mesa, e uma chance de 25 por cento que iríamos encontrar o gato no sofá".</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Essa distinção entre
"conhecimento incompleto" e "indeterminação quântica
intrínseca" vale a pena ser detalhada. Se a função de onda nos diz que há
uma chance de 75 por cento de observar a gata debaixo da mesa e uma chance de
25 por cento de observá-la no sofá, isso não significa que há realmente uma
chance de 75 por cento da gata estar debaixo da mesa e uma chance de 25 por
cento de estar no sofá. Não existe tal coisa como "onde a gata está".
Seu estado quântico é descrito por uma superposição das duas possibilidades
distintas que teríamos na mecânica clássica. Não é o mesmo que "são ambas
verdadeiras ao mesmo tempo"; é que não há um "verdadeiro" lugar
onde a gata está. A função de onda é a melhor descrição que temos da realidade da
gata.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Está claro por que isso é difícil
de aceitar à primeira vista. Para ser franco, o mundo não se parece nada com
isso. Vemos gatos e planetas e até mesmo elétrons em posições particulares,
quando olhamos para eles, não em superposições de diferentes possibilidades
descritas por funções de onda. Mas essa é a verdadeira magia da mecânica
quântica: o que vemos não é o que há. A função de onda realmente existe, mas
nós não a vemos quando olhamos; vemos as coisas como se estivessem em uma
particular configuração clássica comum.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Nada além da física clássica é
mais do que suficiente para jogar basquete ou pôr satélites em órbita. A
mecânica quântica possui um "limite clássico" em que os objetos se
comportam da mesma maneira caso Newton estivesse certo o tempo todo, e o limite
inclui todas as nossas experiências diárias. Para objetos, tais como gatos que
são macroscópicos em tamanho, nós nunca iremos encontrá-los em superposições de
forma "75 por cento aqui, 25 por cento lá"; é sempre "99.9999999
por cento (ou muito mais) aqui, 0,0000001 por cento (ou muito menos) lá".
A mecânica clássica é uma aproximação à forma como o mundo macroscópico opera,
mas uma aproximação muito boa. O mundo real é executado pelas regras da
mecânica quântica, mas a mecânica clássica é mais do que suficiente para nos
levar através da vida cotidiana. É somente quando começamos a considerar os
átomos e as partículas elementares que as consequências da mecânica quântica
simplesmente não podem ser evitadas.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><strong><span style="color: #222222;">Como as funções de onda funcionam</span></strong><span style="color: #222222;"></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Você pode se perguntar como sabemos que algo disso é
verdade. Qual é a diferença, afinal, entre "há uma chance de 75 por cento
de observar o gato debaixo da mesa" e "há uma chance de 75 por cento
da gata estar debaixo da mesa"? Parece difícil imaginar um experimento que
possa distinguir entre essas possibilidades, a única maneira que sabermos onde
está seria olhando para ela, afinal. Mas há um fenômeno extremamente importante
que mostra a diferença, conhecido como interferência quântica. Para entender o
que isso significa, temos que fazer um sacrifício e cavar um pouco mais
profundamente na forma funções de onda realmente funcionam.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Na mecânica clássica, o estado de
uma partícula é uma especificação da sua posição e sua dinâmica, onde podemos
pensar nesse estado, conforme especificado por um conjunto de números. Para uma
partícula no espaço tridimensional comum, existem seis números: a posição em
cada uma das três direções, e o impulso em cada uma das três direções. Na
mecânica quântica, o estado é especificado por uma função de onda, que também
pode ser considerada como uma série de números. O trabalho desses números é nos
dizer, para qualquer observação ou medição que poderíamos nos imaginar fazendo,
a probabilidade de obter um determinado resultado. Então você pode,
naturalmente, achar que os números que precisamos são apenas as próprias
probabilidades: a chance da Senhora Gatinha ser observada no sofá, a chance de
que ela vai ser observada sob a mesa, e assim por diante.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Como veremos, não é assim que a
realidade opera. Funções de onda são realmente como ondas: a típica função de
onda oscila através do espaço e do tempo, bem como uma onda na superfície de
uma lagoa. Isso não é tão óbvio em nosso exemplo simples, onde existem apenas
dois possíveis resultados observacionais: "no sofá" ou "debaixo
da mesa". Mas isso torna-se mais claro quando consideramos observações com
contínuos resultados possíveis, como a posição de um gato real em uma sala
real. A função de onda é como uma onda em uma lagoa, exceto que é uma onda
sobre o espaço de todos os resultados possíveis de uma observação — por
exemplo, todas as posições possíveis em um quarto.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Quando vemos uma onda em uma
lagoa, o nível da água não fica inteiramente mais elevado do que se a lagoa estivesse inalterada; às vezes a água sobe, e às vezes ela desce. Se
fôssemos descrever a onda matematicamente, para cada ponto na lagoa, devemos
associar a uma amplitude – a altura em que a água foi deslocada – e essa
amplitude às vezes seria positiva e às vezes seria negativa. As funções de onda
na mecânica quântica funcionam da mesma maneira. Para cada resultado possível
de uma observação, a função de onda atribui um número, o que chamamos de
amplitude, e que pode ser positivo ou negativo. A função de onda completa é
composta de uma amplitude particular para cada resultado observacional
possível; esses são os números que especificam o estado na mecânica quântica,
assim como as posições e momentos especificam o estado na mecânica clássica. Há
uma amplitude da Senhora Gatinha estar debaixo da mesa, e outra que ela está no
sofá.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Há apenas um problema com tal
organização: o que nos importa são probabilidades, e a probabilidade de algo
acontecer nunca é um número negativo. Por isso, não pode ser verdade que a
amplitude associada a um determinado resultado observacional é igual a probabilidade
de obter esse resultado e, em vez disso, deve haver uma forma de calcular a
probabilidade de se saber o que a amplitude é. Felizmente, o cálculo é muito
fácil! Para chegar à probabilidade, você eleva a amplitude ao quadrado.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><span style="color: #222222; font-style: normal;">(probabilidade
de observar </span><span style="color: #222222;">X</span></em><em><span style="color: #222222; font-style: normal;">)</span></em><span class="apple-converted-space"><span style="color: #222222;"> </span></span><span style="color: #222222;">=<span class="apple-converted-space"> </span><em><span style="font-style: normal;">(amplitude atribuída a </span>X</em><em><span style="font-style: normal;">)</span></em><sup>2</sup>.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Então, se a função de onda da
Senhora Gatinha atribui uma amplitude de 0,5 a possibilidade de observarmos ela
no sofá, a probabilidade de que a veremos é: (0,5)<sup>2 </sup>= 0,25, ou 25
por cento. Mas, fundamentalmente, a amplitude também poderia ser -0,5 , e
gostaríamos de obter exatamente a mesma resposta: (-0,5)<sup>2 </sup>= 0,25. Isso
pode parecer um inútil pedaço de redundância em duas amplitudes diferentes
correspondendo a mesma situação, mas desempenha um papel fundamental na forma
como os estados evoluem na mecânica quântica.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn4" name="_ednref4" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;">[iv]</span></span></span></a> </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><strong><span style="color: #222222; line-height: 150%;">Interferência</span></strong><strong><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></strong></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Agora que sabemos que as funções de onda podem atribuir
amplitudes negativas para possíveis resultados de observações, podemos voltar à
questão de por que sempre precisamos falar sobre funções de onda e
superposições, em primeiro lugar, ao invés de apenas atribuir probabilidades a
diferentes resultados diretamente. A razão é a interferência, e esses números
negativos são cruciais para a compreensão da forma como a interferência ocorre —
nós podemos adicionar duas amplitudes (não nulas) juntas e obter zero, o que
não poderíamos fazer se as amplitudes nunca fossem negativas.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Para ver como isso funciona,
vamos complicar o nosso modelo de dinâmica de felinos apenas um pouco. Imagine
que vemos a Senhora Gatinha saindo do quarto do segundo andar. De nossas
observações anteriores de seus passeios pela casa, sabemos um pouco como essa gata
quântica opera. Sabemos que, uma vez que ela se instala no andar de baixo, ela
vai inevitavelmente terminar ou no sofá ou debaixo da mesa, em nenhum outro
lugar. (Isso é, seu estado final é uma função de onda descrevendo uma
superposição de estar no sofá e estar debaixo da mesa). Mas vamos dizer que nós
também sabemos que ela tem duas rotas possíveis para sair da cama do andar de
cima para qualquer lugar do andar de baixo que ela escolher descansar: ela ou
vai parar na sua tigela de comida para comer ou no seu <em><span style="font-style: normal;">arranhador</span></em><span class="apple-converted-space"> para </span>afiar suas garras. No mundo real,
todas essas possibilidades são adequadamente descritas pela mecânica clássica,
mas no nosso mundo idealizado do experimento mental imaginamos que os efeitos
quânticos desempenham um papel importante.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Agora vamos ver o que realmente
observamos. Nós vamos fazer a experiência de duas maneiras separadas. Em
primeiro lugar, quando vemos a Senhora Gatinha começando no andar de baixo,
podemos muito calmamente esgueirar-nos por trás dela para ver qual o caminho
que ela irá tomar, seja para a tigela de comida ou o arranhador. Ela realmente
tem uma função de onda descrevendo uma superposição de ambas as possibilidades,
mas quando fazemos uma observação, sempre encontramos um resultado definitivo.
Nós somos tão tranquilos quanto possível, de modo que não a perturbamos; se
você quiser, podemos imaginar que colocamos câmeras espiãs ou sensores a laser.
A tecnologia utilizada para descobrir se ela vai na tigela ou no arranhador é
completamente irrelevante; o que importa é que a observamos.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Observamos a gata visitando a
tigela exatamente na metade das vezes, e o arranhador exatamente metade das vezes.
(Assumimos que ela visita um ou o outro, mas nunca ambos, apenas para manter
que as coisas sejam tão simples quanto possível). Qualquer observação em
particular não revela a função de onda, é claro; ela só pode nos dizer que
observamos a gata parada no arranhador ou na tigela naquele determinado tempo.
Mas imagine que nós fazemos essa experiência um número muito grande de vezes,
para que possamos ter uma ideia confiável de quais são as probabilidades.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Mas não paramos por aí. Em
seguida, deixamos a gata continuar para o
sofá ou mesa, e depois que ela tiver tempo para fazer a sua parada, olhamos
novamente para ver em que lugar ela termina. Mais uma vez, fazemos a
experiência tantas vezes que podemos descobrir as probabilidades. O que encontramos
agora é que não importa se ela parou no arranhador, ou em sua tigela de comida;
em ambos os casos, observamos ela terminar no sofá exatamente na metade das vezes,
e debaixo da mesa exatamente na metade das vezes, de forma completamente
independente se ela antes visitou a tigela ou o arranhador. Aparentemente, o
passo intermediário ao longo do caminho não importa muito; não importa qual
alternativa observou-se ao longo do caminho, a função de onda final atribui
igual probabilidade para o sofá e a mesa.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Em seguida, vem a parte
divertida. Desta vez, nós simplesmente optamos por não observar o passo
intermediário da Senhora Gatinha ao longo de sua viagem; nós não controlamos se
ela para no arranhador ou na tigela de comida. Nós apenas esperamos até que ela
esteja parada no sofá ou debaixo da mesa, e olhamos para onde ela está,
reconstruindo as probabilidades finais atribuídas pelas funções de onda. O que
esperamos encontrar?</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Em um mundo regido pela mecânica
clássica, sabemos o que devemos ver. Quando fizemos a nossa espionagem sobre
ela, tivemos o cuidado de que nossas observações não iriam afetar o
comportamento da Senhora Gatinha, e na metade
das vezes encontramos ela no sofá e na metade das vezes debaixo da mesa, não
importa o caminho que ela percorreu. Obviamente, mesmo que não observamos o que
ela faz ao longo do caminho, não devemos nos importar — em ambos os casos terminamos
com probabilidades iguais para a etapa final, e por isso, mesmo se não
observarmos o estágio intermediário, devemos ainda acabar com probabilidades
iguais.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Mas isso não ocorre.. Isso não é
o que vemos, nesse mundo idealizado do nosso experimento mental, onde a nossa
gata é um objeto verdadeiramente quântico. O que vemos, quando optamos por não
observar se ela vai para a tigela de alimento ou arranhador, é que ela termina
no sofá 100 por cento do tempo! Nós nunca a encontramos debaixo da mesa — a
função de onda final atribui uma amplitude zero para tal possível resultado.
Aparentemente, se tudo isso é para ser acreditado, a própria presença das
nossas câmeras de espionagem mudaram a sua função de onda, de alguma forma
dramática. As possibilidades estão resumidas na tabela.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<table border="1" cellpadding="0" cellspacing="0" class="LightShading1" style="border-collapse: collapse; border: medium none; margin-left: 47.95pt;">
<tbody>
<tr>
<td style="border-color: black -moz-use-text-color; border-style: solid none; border-width: 1pt medium; padding: 0cm 5.4pt; width: 216.1pt;" valign="top" width="288"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><b><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">Qual caminho nós
vemos a Senhora Gatinha tomar</span></b></em><b><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></b></span></span></div>
</td>
<td style="border-color: black -moz-use-text-color; border-style: solid none; border-width: 1pt medium; padding: 0cm 5.4pt; width: 150.8pt;" valign="top" width="201"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><b><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">Probabilidades
Finais</span></b></em><b><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></b></span></span></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="background: silver none repeat scroll 0% 0%; border: medium none; padding: 0cm 5.4pt; width: 216.1pt;" valign="top" width="288"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><b><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">Arranhador</span></b></em><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></span></span></div>
</td>
<td style="background: silver none repeat scroll 0% 0%; border: medium none; padding: 0cm 5.4pt; width: 150.8pt;" valign="top" width="201"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">50% Sofá, 50%
Mesa</span></em><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></span></span></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="border: medium none; padding: 0cm 5.4pt; width: 216.1pt;" valign="top" width="288"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><b><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">Tigela de comida</span></b></em><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></span></span></div>
</td>
<td style="border: medium none; padding: 0cm 5.4pt; width: 150.8pt;" valign="top" width="201"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">50% Sofá, 50% Mesa</span></em><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></span></span></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="-moz-border-bottom-colors: none; -moz-border-left-colors: none; -moz-border-right-colors: none; -moz-border-top-colors: none; background: silver none repeat scroll 0% 0%; border-color: -moz-use-text-color -moz-use-text-color black; border-image: none; border-style: none none solid; border-width: medium medium 1pt; padding: 0cm 5.4pt; width: 216.1pt;" valign="top" width="288"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><b><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">Nós não vimos</span></b></em><em><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;"></span></em></span></span></div>
</td>
<td style="-moz-border-bottom-colors: none; -moz-border-left-colors: none; -moz-border-right-colors: none; -moz-border-top-colors: none; background: silver none repeat scroll 0% 0%; border-color: -moz-use-text-color -moz-use-text-color black; border-image: none; border-style: none none solid; border-width: medium medium 1pt; padding: 0cm 5.4pt; width: 150.8pt;" valign="top" width="201"><div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><span style="color: #222222; font-style: normal; line-height: 150%;">100% Sofá, 0%
Mesa</span></em><span style="color: #222222; line-height: 150%;"></span></span></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Esse não
é apenas um experimento mental; esse experimento foi realizado. Não com gatos
reais, que são inequivocamente macroscópicos e bem descritos pelo limite
clássico; mas com fótons individuais, no que é conhecido como a “experiência da
dupla fenda”. Um fóton passa por duas fendas possíveis e se não olharmos em
qual fenda ele atravessa, temos uma função de onda final; mas se o fizermos,
temos uma outra completamente diferente, não importa o quão discreto nossas
medições forem.</span></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-x5K2ZE5iN_I/WBl8Cy2bh4I/AAAAAAAADXc/nmLUABrsx9QYwKyCBx6TY9qzulStWAubgCLcB/s1600/Tempo%2BQuantico%2BFig%2B57.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="355" src="https://3.bp.blogspot.com/-x5K2ZE5iN_I/WBl8Cy2bh4I/AAAAAAAADXc/nmLUABrsx9QYwKyCBx6TY9qzulStWAubgCLcB/s400/Tempo%2BQuantico%2BFig%2B57.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.75pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 7.1pt; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt; text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Figura 57: Evoluções alternativas para a função de
onda da Senhora Gatinha. No topo, observamos sua parada no arranhador, depois
ela pode ir ou para mesa ou para o sofá, ambos com amplitude positiva. No meio,
observamos a gata ir para a tigela de comida, depois ela pode ir ou para a mesa
ou para o sofá, mas dessa vez a tabela tem uma amplitude negativa (ainda com
uma probabilidade positiva). No canto inferior, não observamos sua jornada
intermediária, por isso, adiciona-se as amplitudes duas possibilidades. Terminamos
com uma amplitude zero para a tabela (uma vez que as contribuições positivas e
negativas cancelam-se) e a amplitude positiva para o sofá.</span></div>
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Veja como explicar o que está acontecendo. Vamos imaginar
que nós observamos se a Senhora Gatinha para na tigela ou no arranhador, e nós a
vemos parada no arranhador. Depois que ela faz isso, ela evolui para uma
superposição de estar no sofá e estar debaixo da mesa, com igual probabilidade.
Em particular, devido a detalhes na condição inicial da Senhora Gatinha e
certos aspectos da dinâmica quântica felina, a função de onda final atribui
amplitudes <i>positivas</i> iguais para a
possibilidade do sofá e da mesa. Agora vamos considerar a outra etapa
intermediária, que nós a vemos parada na tigela de comida. Nesse caso, a função
de onda final atribui uma amplitude negativa para a mesa, e uma positiva para o
sofá — números iguais, mas com sinais opostos, de modo que as probabilidades sejam
exatamente as mesmas.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn5" name="_ednref5" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;">[v]</span></span></span></a> </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Mas se nós não a observarmos na
junção arranhador/tigela de comida, em seguida, (pelas luzes da nossa
experiência mental) ela estará em uma superposição das duas possibilidades nesse
passo intermediário. Nesse caso, as regras da mecânica quântica nos instruem
para adicionar as duas possíveis contribuições para a função de onda – uma do
percurso onde ela parou no arranhador, e uma da tigela do alimento. Em ambos os
casos, as amplitudes para acabar no sofá eram números positivos, para que elas
se reforçassem mutuamente. Mas as amplitudes para acabar debaixo da mesa eram
opostas para os dois casos intermediários - ao serem adicionadas juntas, elas
precisamente se cancelaram. Individualmente, os dois possíveis caminhos
intermediários da Senhora Gatinha nos deixaram com uma probabilidade diferente
de zero para ela acabar debaixo da mesa; mas quando ambos os caminhos eram permitidos
(porque não observamos qual ela percorreu), as duas amplitudes interferiram.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">É por isso que a função de onda precisa
incluir números negativos, e é assim que nós sabemos que a função de onda é “real”,
não apenas um dispositivo de contabilidade para manter o controle de
probabilidades. Temos um caso explícito de onde as probabilidades individuais
teriam sido positivas, mas a função de onda final recebeu contribuições de duas
etapas intermediárias, o que acabou cancelando-se mutuamente.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Vamos recuperar o fôlego para
apreciar o quão profundo isto é, do nosso preconceituoso ponto de vista treinado
classicamente. Para qualquer instanciação particular do experimento, somos
tentados a perguntar: será que a Senhora Gatinha irá parar na tigela de comida;
ou no arranhador? A única resposta aceitável é: não. Ela não faz nenhum dos
dois. Ela estava em uma superposição de ambas as possibilidades, o que sabemos
porque ambas as possibilidades deram contribuições cruciais para a amplitude da
resposta final.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Gatos reais são objetos
macroscópicos complicados que consistem em um grande número de moléculas, e as
suas funções de onda tendem a estar muito fortemente concentradas em torno de
algo que se assemelha a nossa noção clássica de uma “posição no espaço”. Mas no
nível microscópico, toda essa conversa de funções de ondas, superposições e interferência torna-se
descaradamente demonstrável. A mecânica quântica nos parece estranha, mas é a
forma como a natureza funciona.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><strong><span style="color: #222222;">O colapso da função de onda</span></strong><span style="color: #222222;"></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">O que tende a incomodar as pessoas nessa discussão — por
uma boa razão — é o papel crucial desempenhado pela observação. Quando
observamos o que a gata estava fazendo na sua bifurcação arranhador/tigela de
comida, nós obtivemos uma resposta para o estado final; quando não observamos,
obtivemos uma resposta bem diferente. Não é assim que a física deveria
funcionar; o mundo deveria evoluir de acordo com as leis da natureza,
independente se estamos observando ou não. O que conta como uma “observação”,
afinal? Se configurássemos câmeras de monitoramento ao longo do percurso, mas
nunca olhássemos para os vídeos? Isso contaria como observação? (Sim,
contaria). E o que exatamente aconteceu quando fizemos a nossa observação? </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Essas são perguntas importantes e
as respostas não estão totalmente claras. Não há consenso na comunidade física
o que realmente constitui uma observação (ou "medição") na mecânica quântica,
nem o que acontece quando uma observação é feita. Esse é o problema da medição
e é o foco principal de pessoas que gastam seu tempo pensando nas
interpretações da mecânica quântica. Há tantas interpretações no mercado, e
vamos discutir duas: a figura mais ou menos padrão, conhecida como “interpretação
de Copenhague”, e uma visão que parece (para mim) um pouco mais respeitável e
provável de conformar-se a realidade, que recebe o proibido nome de “interpretação
de muitos mundos”. Vamos dar uma olhada na interpretação de Copenhague primeiro.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn6" name="_ednref6" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;">[vi]</span></span></span></a> </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">A interpretação de Copenhague é
assim chamada porque Niels Bohr, que em muitas maneiras foi o padrinho da
mecânica quântica, ajudou a desenvolvê-la no seu instituto em Copenhague na
década de 1920. A história verdadeira dessa perspectiva é complicada e certamente
envolve grandes contribuições de Werner Heisenberg, outro pioneiro da mecânica quântica.
Mas, </span></span></span><span style="color: #222222; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-indent: 37.7953px;">para os nossos propósitos atuais,</span><span style="color: #222222; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-indent: 1cm;"> a história é menos crucial do que o status
da visão de Copenhague, consagrada nos livros-texto como a figura padrão. Todo físico
aprende essa interpretação primeiro e então contempla alternativas (ou escolhe
nao fazer isso, como pode ser o caso). </span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">A interpretação de Copenhague é
tão fácil apresentar quanto difícil de engolir: quando um sistema quântico está
sujeito a uma medição, a sua função de onda <i>colapsa</i>.
Isso é, a função de onda instantaneamente muda da descrição de uma superposição
com vários resultados observacionais possíveis para uma função de onda
completamente diferente, que atribui 100 por cento de probabilidade para o
resultado que foi medido, 0 por cento para o restante. Esse tipo de função de
onda, concentrada inteiramente em único resultado observacional, é conhecido
como auto-estado (<i>eigenstate</i>). Uma
vez que o sistema está nesse auto-estado, você pode continuar fazendo o mesmo
tipo de observação e você sempre vai obter a mesma resposta (a não ser que
alguma coisa tire o sistema do auto-estado e o coloque em outra superposição). Não podemos dizer com certeza qual auto-estado
o sistema terá quando uma observação for feita; é um processo inerentemente
estocástico e o melhor que podemos fazer é atribuir uma probabilidade a
resultados diferentes.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Podemos aplicar essa ideia para a
história da Senhora Gatinha. De acordo com a interpretação de Copenhague, a
nossa escolha de observar se a Senhora Gatinha parou na tigela de comida ou no arranhador
teve um efeito dramático sobre a sua função de onda, não importa quão
sorrateiros fomos na nossa observação. Quando nós não olhamos, ela estava em
uma superposição das duas possibilidades, com igual amplitude; quando ela em
seguida mudou-se para o sofá ou para a mesa, somadas as contribuições de cada
um dos passos intermediários, descobrimos que não havia interferência. Mas se
nós escolhermos observá-la ao longo do caminho, nós colapsaremos sua função de
onda. Se a observarmos parada no arranhador, uma vez que a observação foi
feita, ela estava em um estado que já não era uma superposição, ela tinha 100
por cento de chance de estar no arranhador e 0 por cento na tigela de comida. Igualmente,
se a vermos parada na tigela de comida, só que com as amplitudes invertidas. Em
ambos os casos, não havia mais nada para interferir, e sua função de onda
evoluiu para um estado que deu iguais probabilidades da gata acabar no sofá ou
debaixo da mesa <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn7" name="_ednref7" title="">[vii]</a>.</span></span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Há boas e más notícias sobre essa
história. A boa notícia é que ela se ajusta aos dados. Se imaginarmos o colapso
das funções de onda cada vez que fizemos uma observação, não importa quão
discreto nossa estratégia observacional seja <span style="text-indent: 37.7953px;">—</span> e que elas acabam em auto-estados que atribuem 100 por cento de
probabilidade para o resultado observado, contabilizamos com sucesso por todos
os vários fenômenos quânticos físicos conhecidos.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">A má notícia é que esta história
mal faz sentido. O que conta como uma "observação"? Poderia a própria
gata ou um ser não-vivo fazerem uma observação? Certamente não queremos sugerir
que o fenômeno da consciência, de alguma forma, desempenha um papel crucial nas
leis fundamentais da física? (Não, nós não sugerimos isso). E será que o
suposto colapso realmente acontece instantaneamente, ou é gradual, mas apenas
muito rápido?</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><strong><span style="color: #222222;">Irreversibilidade</span></strong><span style="color: #222222;"></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">No
fundo, a única coisa que erramos sobre a interpretação de Copenhague da
mecânica quântica é que ela trata “observar” como um tipo completamente
diferente de fenômeno natural, o que requer uma lei separada da natureza. Na
mecânica clássica, tudo o que acontece pode ser explicado por sistemas de
evolução de acordo com as leis de Newton. Mas se interpretarmos o colapso da
função de onda ao pé da letra, um sistema descrito pela mecânica quântica
evolui de acordo com dois tipos completamente distintos de regras:</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 51.75pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">1.<span style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-synthesis: weight style; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="color: #222222;">Quando
não estamos olhando, uma função de onda evolui de forma harmoniosa e
previsível. O papel que as leis de Newton desempenham na mecânica clássica é
substituído pela <i>equação de Schrödinger</i>
na mecânica quântica, que opera de uma forma precisamente análoga. Dado o
estado do sistema em qualquer momento, pode-se utilizar a equação de
Schrödinger para evoluir o sistema de forma confiável para o futuro e o
passado. A evolução conserva informações, e é completamente reversível.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 51.75pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">2.<span style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-synthesis: weight style; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="color: #222222;">Quando
observamos uma função de onda, ela colapsa. O colapso não é suave, nem
perfeitamente previsível, e a informação não é conservada. A amplitude (ao quadrado)
associada com qualquer resultado particular nos diz a probabilidade de que a
função de onda entrará em colapso para um estado que está concentrado
inteiramente nesse resultado. Duas funções de onda diferentes podem muito
facilmente colapsar para o mesmo estado depois de uma observação ser feita; portanto,
o colapso da função de onda não é reversível.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Loucura!
Mas funciona. A interpretação de Copenhague leva conceitos que parecem ser nada
mais do que aproximações úteis para alguma verdade subjacente mais profunda- distinguindo
entre um “sistema” que é verdadeiramente<span class="apple-converted-space"> </span><em><span style="font-style: normal;">quântico</span></em><span class="apple-converted-space"> </span>e um “observador” que é essencialmente
clássico <span style="text-indent: 37.7953px;">—</span> e imagina que essas categorias desempenham um papel crucial na
arquitetura fundamental da realidade. A maioria dos físicos, mesmo aqueles que
usam a mecânica quântica todos os dias em sua pesquisa, se dão muito bem ao
falar a língua da interpretação de Copenhague, e escolhem não se preocupar com
os quebra-cabeças que ela apresenta. Outros, especialmente aqueles que pensam
cuidadosamente sobre os fundamentos da mecânica quântica, estão convencidos de
que temos de fazer melhor. Infelizmente, não há um forte consenso no momento
sobre qual possa ser esse melhor entendimento.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Para muitas pessoas, a quebra da
previsibilidade perfeita é uma característica preocupante da mecânica quântica.
(Einstein, entre eles, na qual se origina a sua queixa de que “Deus não joga
dados com o universo”). Se a interpretação de Copenhague está certa, não
poderia haver tal coisa como Demônio de Laplace em um mundo quântico; pelo
menos, não se esse mundo contivesse observadores. O ato de observar introduz um
elemento verdadeiramente aleatório para a evolução do mundo. Não <i>totalmente</i> aleatório <span style="text-indent: 37.7953px;">—</span> uma função de
onda pode atribuir uma probabilidade muito alta de observar uma coisa, e uma
probabilidade muito baixa de observar outra coisa. Mas é <i>irredutivelmente</i> aleatória, no sentido de que não há nenhum pedaço de
informação faltando que permitiria prever resultados com certeza, caso pudéssemos
ter tal informação em nossas mãos <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: #222222; line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn8" name="_ednref8" title="">[viii]</a>.</span></span></span> Parte da glória da
mecânica clássica tinha sido sua precisa confiabilidade — mesmo se o Demônio de
Laplace realmente não existir, nós sabíamos que ele poderia existir em
princípio. A mecânica quântica destrói essa esperança. Demorou muito tempo para
as pessoas se acostumarem com a ideia de que a probabilidade entra nas leis da
física de alguma forma fundamental, e muitos ainda estão incomodados pelo
conceito.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Uma das nossas perguntas sobre a
seta do tempo é como podemos conciliar a irreversibilidade dos sistemas
macroscópicos descritos pela mecânica estatística com a aparente
reversibilidade das leis microscópicas da física. Mas agora, de acordo com a
mecânica quântica, parece que as leis microscópicas da física não são
necessariamente reversíveis. O colapso da função de onda é um processo que
introduz uma seta intrínseca do tempo nas leis da física: as funções de onda
colapsam, mas elas não descolapsam. Se observarmos a Senhora Gatinha e ver que
ela está no sofá, nós sabemos que ela está em um auto-estado (100 por cento no sofá), logo após
fazermos a medição. Mas não sabemos em que estado ela estava antes de fazermos
a medição. Essa informação, aparentemente, foi destruída. Tudo o que sabemos é
que a função de onda deve ter tido alguma amplitude diferente de zero para a gata estar no sofá, mas não sabemos quanto, ou qual a amplitude para quaisquer
outras possibilidades poderia ter sido.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Assim, o colapso da função de
onda <span style="text-indent: 37.7953px;">—</span> se, de fato, esse é o caminho certo de pensar sobre a mecânica quântica —
define uma seta intrínseca do tempo. Pode isso ser usado para explicar de
alguma forma “a” seta do tempo, a seta termodinâmica que aparece na Segunda Lei
e a qual temos culpado pelas várias diferenças macroscópicas entre o passado e
o futuro?</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Provavelmente não. Embora a
irreversibilidade seja uma característica fundamental da seta do tempo, nem
todas as irreversibilidades são criadas iguais. É muito difícil ver como o
fato de que funções de onda colapsam pode, por si só, explicar a Hipótese do
Passado. Lembre-se, não é difícil entender por que a entropia aumenta; o que é
difícil de entender é porque ela sempre foi baixa, para começar. O colapso da
função de onda não parece oferecer qualquer ajuda direta para esse problema.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #222222;">Por outro lado, a mecânica
quântica é muito provável que desempenhe algum papel na explicação definitiva,
mesmo que a irreversibilidade intrínseca do colapso da função de onda não
resolva diretamente o problema por si só. Afinal de contas, acreditamos que as
leis da física são fundamentalmente quânticas mecanicamente em seu cerne. É a
mecânica quântica que define as regras e nos diz o que é e não é permitido no
mundo. É perfeitamente natural esperar que essas regras entrem em jogo quando
finalmente começarmos a entender por que nosso universo teve uma entropia tão
baixa perto do Big Bang. Nós não sabemos exatamente onde esta jornada está nos
levando, mas nós somos espertos o suficiente para prever que certas ferramentas
serão úteis ao longo do caminho.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="line-height: 19.5pt; margin: 0cm 0cm 19.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><em><b><span style="color: #222222; font-style: normal;">Incerteza</span></b></em><b><span style="color: #222222;"></span></b></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Nossa discussão das funções de onda tem ignorado
uma propriedade crucial. Dissemos que as funções de onda atribuem uma amplitude
para qualquer resultado de uma observação que podemos imaginar fazer. No nosso
experimento de pensamento, nos restringimos a apenas um tipo de observação <span style="color: #222222;">—</span> a localização da gata <span style="color: #222222;">—</span>
e apenas a dois possíveis resultados ao mesmo tempo. Um gato real, uma partícula
elementar, um ovo ou qualquer outro objeto possui um número infinito de
possíveis posições e a função de onda relevante em cada caso atribui uma
amplitude para cada possibilidade. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Mais importante, entretanto, é que podemos
observar coisas além de posições. Relembrando a nossa experiência com a mecânica
clássica, podemos observar o momento em vez da posição da nossa gata. E isso é
perfeitamente possível; o estado da gata é descrito por uma função de onda que
atribui uma amplitude para cada momento que possamos imaginar medir. Ao
mensurar e obter uma resposta, a função de onda colapsa em um “<span style="color: #222222;">auto-estado</span> de momento<span style="color: #222222;">”</span>,
onde o novo estado atribui uma amplitude diferente de zero apenas para o
momento específico que realmente foi observado. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Mas, se isso for verdade, você pode pensar:
o que nos impede de colocar a gata em um estado onde tanto a posição quanto o
momento são determinados exatamente, de uma forma equivalente a um estado
clássico? Em outras palavras, por que não podemos pegar um gato com uma função
de onda arbitrária, observarmos a sua posição para que a onda colapse em um
valor definido, e então observarmos seu momento para que a função de onda
colapse para um valor definido? Deveríamos ficar com algo completamente
determinado, sem nenhum pingo de incerteza.<span class="apple-converted-space"> </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> A resposta é que não há funções de
onda simultaneamente concentradas em um único valor de posição e também em um
único valor de momento. Na verdade, a esperança por um estado como esse é
bastante frustrante: se a função da onda estiver concentrada em único valor de
posição, a amplitude para diferentes momentos estará tão distribuída quanto
possível entre todas as possibilidades. E vice versa: se a função de onda
estiver concentrada em um único momento, ela estará amplamente distribuída
entre todas as posições.<span class="apple-converted-space"> </span>Então,
se observarmos a posição de um objeto, perdemos qualquer conhecimento sobre
qual é o seu momento, e vice versa <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn9" name="_ednref9" title="">[ix]</a>.</span></span></span>
(Se apenas medirmos a posição aproxidamente, em vez de exatamente, podemos
manter algum conhecimento do momento; isso é o que realmente acontece nas medições
macroscópicas do mundo real).<span class="apple-converted-space"> </span> </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Esse é o verdadeiro sentido do Princípio da
Incerteza de Heisenberg. Na mecânica quântica, é possível “saber exatamente”
qual é a posição de uma partícula <span style="color: #222222; text-indent: 37.7953px;">—</span><span style="text-indent: 37.7953px;"> </span>de forma mais precisa, é possível que a
partícula esteja em uma posição auto-estado, onde há 100 por cento de probabilidade
de encontrá-la em uma determinada posição. Da mesma forma, é possível “saber
exatamente” qual é o momento da partícula. Mas nunca sabemos precisamente a
posição e momento ao mesmo tempo. Então, quando vamos medir as propriedades que
a mecânica clássica atribui a um sistema <span style="color: #222222;">—</span> posição
e momento <span style="color: #222222; text-indent: 37.7953px;">—</span><span style="text-indent: 37.7953px;"> </span>não podemos dizer com certeza quais serão os resultados. Esse é o
principio de incerteza. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O princípio da incerteza implica que precisa
haver alguma distribuição da função de onda entre diferentes possíveis valores ou
da posição ou do momento, ou (usualmente) de ambos. Não importa qual tipo de sistema
estivermos analisando, há uma inescapável imprevisibilidade quântica quando
tentamos medir suas propriedades. Os dois observáveis se complementam: quando a
função de onda está concentrada na posição, ela está distribuída no momento, e
vice-versa. Sistemas macroscópicos reais que são bem descritos pelo limite
clássico da mecânica quântica se encontram em estados arranjados, onde há uma
pequena quantidade de incerteza tanto de sua posição quanto de seu momento.
Para sistemas suficientemente grandes, a incerteza é relativamente tão pequena que
não é percebida. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Tenha em mente que realmente não existe algo
como “a posição do objeto” ou “o momento do objeto” <span style="color: #222222;">—</span>
existe apenas a função de onda atribuindo amplitudes para os possíveis
resultados de observações. Entretanto, algumas vezes não resistimos e caímos na
linguagem das <i>flutuações quânticas</i> <span style="color: #222222;">—</span> dizemos que não podemos determinar o objeto em
uma posição única, porque o princípio da incerteza faz com que a posição flutue
um pouco. Essa é uma irresistível formulação linguística e não seremos tão restritos
a ponto de impedir seu uso, mas ela não reflete precisamente o que está
acontecendo. Não existe uma posição e um momento, cada um flutuando
individualmente. Existe apenas uma função de onda, que não pode ser
simultaneamente localizada em uma posição e um momento. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Nos capítulos finais, vamos explorar as
aplicações da mecânica quântica para sistemas bem maiores que partículas
isoladas ou até gatos isolados <span style="color: #222222;">—</span> a teoria
quântica de campos e até a gravidade quântica. Mas o arcabouço base da mecânica
quântica permanece o mesmo em qualquer caso. A teoria quântica de campos é o
casamento da mecânica quântica com a relatividade especial e explica as
partículas que enxergamos no nosso redor como características observáveis de
estruturas subjacentes <span style="color: #222222;">—</span> campos quânticos – que
constituem o mundo. O princípio da incerteza proíbe a determinação precisa da
posição e do momento de cada partícula, ou até mesmo o número exato de
partículas. Essa é a origem das “partículas virtuais”, que existem e deixam de
existir até mesmo no espaço vazio, que eventualmente darão origem ao fenômeno
da radiação Hawking dos buracos negros. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Uma coisa que não entendemos é a gravidade
quântica. A relatividade geral provê uma descrição extremamente bem-sucedida da
gravidade da maneira que a vemos operar no mundo, mas a teoria é construída sobre
uma fundação completamente clássica. A gravidade é a curvatura do espaço-tempo,
e em princípio podemos medir a curvatura do espaço-tempo tão precisamente
quanto gostaríamos. Quase todo mundo a acredita que essa é apenas uma
aproximação para uma teoria mais completa da gravidade quântica, onde o próprio
espaço-tempo é descrito por uma função de onda que atribui diferentes
amplitudes para diferentes quantidades de curvatura. Pode até ser o caso de
universos virem a existir e deixarem de existir, assim como as partículas
virtuais. Mas a busca pela construção de uma teoria completa da gravidade
quântica possui grandes obstáculos, tanto técnicos quanto filosóficos. Superar
esses obstáculos é a ocupação exclusiva de um grande número de físicos em
atividade. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b>A função de onda do universo</b></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Há uma maneira direta de lidar com as questões conceituais
associadas ao colapso da função de onda: simplesmente negar que isso sequer
acontece e insistir que a suave e ordinária evolução da função de onda é
suficiente para explicar tudo que o sabemos sobre o mundo. Essa abordagem <span style="color: #222222;">—</span> brutal em sua simplicidade e enriquecedora em
suas consequências <span style="color: #222222;">—</span> recebe o nome de “interpretações
de muitos mundos” da mecânica quântica e é a grande oponente da interpretação
de Copenhague. Para entender como essa interpretação funciona, precisamos fazer
um desvio na talvez mais profunda característica da mecânica quântica: emaranhamento.
</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Quando introduzimos a ideia da função de
onda, consideramos um sistema físico minimalista, consistindo de um único
objeto (uma gata). Obviamente, nós gostaríamos de ir além, e considerar
sistemas com múltiplas partes <span style="color: #222222;">—</span> talvez uma gata
e também um cachorro. Na mecânica clássica, isso não é um problema; se o estado
de um objeto é descrito pela sua posição e seu momento, o estado de dois objetos
é justamente o estado de ambos os objetos individuais <span style="color: #222222;">—</span>
duas posições e dois momentos. A coisa mais natural do mundo é imaginar que a
descrição correta de um gato e um cachorro na mecânica quântica é simplesmente
duas funções de ondas, uma para o gato e uma para o cachorro. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Não é isso o que acontece. Na mecânica
quântica, não importa quantas partes individuais constituem o sistema que
estamos considerando, existe apenas uma única função de onda. Até mesmo se
considerarmos o universo inteiro e tudo dentro dele, há apenas uma única função
de onda, às vezes conhecida redundantemente como a “função de onda do
universo”. As pessoas nem sempre gostam de falar desse jeito com medo de soar
excessivamente grandioso, mas no fundo é simplesmente assim que a mecânica
quântica opera. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Vamos ver como isso se desenrola quando o
nosso sistema consiste de uma gata e um cachorro, a Senhora Gatinha e o Senhor
Cão. Como anteriormente, imaginamos que, ao procurarmos pela Senhora Gatinha, só
há dois locais onde podemos achá-la: no sofá ou embaixo da mesa. Vamos imaginar
também que só há dois lugares que podemos encontrar o Senhor Cão: na sala de
estar ou no quintal. De acordo com o inicial (mas errado) palpite de que cada
objeto tem sua própria função de onda, descrevemos a localização da Senhora Gatinha
como a superposição de embaixo da mesa e no sofá, e descrevemos separadamente a
localização do Senhor Cão como uma superposição de sala de estar e no
quintal. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Mas em vez disso, a mecânica quântica nos instrui
a considerar todas as possíveis alternativas para todo o sistema <span style="color: #222222;">—</span> gata mais cachorro <span style="color: #222222;">—</span>
e atribui uma amplitude para cada possibilidade distinta. Para o sistema
combinado, há quatro respostas possíveis para a pergunta “O que vemos quando
procuramos pela gata e pelo cachorro?” As respostas podem ser resumidas da
seguinte forma: </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">(mesa, sala de estar)</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">(mesa, quintal)</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">(sofá, sala de estar)</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 17.05pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">(sofá, quintal)</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O primeiro registro dentro dos parênteses diz onde vemos a Senhora
Gatinha e o segundo diz onde vemos o Senhor Cão. De acordo com a mecânica quântica,
a função de onda do universo atribui a cada uma dessas possibilidades uma
distinta amplitude, que elevaríamos ao quadrado para sabermos a probabilidade
de observar tal alternativa. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Você pode estar se perguntando qual é a
diferença entre atribuir amplitudes para as localizações da gata e cachorro
separadamente, e atribuir amplitudes para as localizações combinadas. A
resposta é o emaranhamento <span style="color: #222222;">—</span> a propriedade que
qualquer parte do todo pode estar fortemente correlacionada com propriedades de
outras partes. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b>Emaranhamento</b></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Vamos imaginar que a função de
onda do sistema gata/cachorro atribua uma amplitude zero para a possibilidade
(mesa, quintal) e também amplitude zero para (sofá, sala de estar).
Esquematicamente, isso significa que o estado do sistema terá a seguinte forma:
</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">(mesa,
sala de estar) + (sofá, quintal)</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Isso significa que há uma
amplitude diferente de zero para que a gata esteja embaixo da mesa e que o
cachorro esteja na sala de estar, e também uma amplitude diferente de zero para
que a gata esteja no sofá e o cachorro no quintal. Essas são as únicas
possibilidades permitidas por esse estado particular, e vamos imaginar que elas
possuem amplitudes iguais. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Agora
perguntaremos: o que esperamos ver ao procurarmos apenas pela a Senhora Gatinha?
Uma observação colapsa a função de onda em uma das duas possibilidades, (mesa,
sala de estar) + (sofá, quintal), com igual probabilidade, 50 por cento para
cada. Se simplesmente não nos importarmos com o que o Senhor Cão está fazendo,
diríamos que há probabilidades iguais de observarmos a Senhora Gatinha embaixo
da mesa ou no sofá. Nesse sentido, é justo dizer que não temos a menor ideia
onde a Senhora Gatinha estará antes de olharmos. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Agora
vamos imaginar que procuramos pelo Senhor Cão. Novamente, há 50 por cento de chance
para cada possibilidade (mesa, sala de estar) + (sofá, quintal), então se não
nos importarmos com o que a Senhora Gatinha está fazendo, é justo dizer que não
temos a menor ideia onde o Senhor Cão estará antes de olharmos. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Aqui está
o truque: mesmo sem termos ideia onde estará o Senhor Cão antes de olharmos, se
escolhermos olhar primeiro para a Senhora Gatinha, uma vez que essa observação
estiver completa, saberemos exatamente onde estará o Senhor Cão, mesmo sem termos
olhado para ele. Essa é a mágica do emaranhamento. Digamos que vimos a Senhora
Gatinha no sofá. Isso quer dizer que, dada a forma da função de onda que
começamos, a função obrigatoriamente colapsou na possibilidade (sofá, quintal).
Com isso, sabemos com certeza (assumindo que estamos certo sobre a função de
onda inicial) que o Senhor Cão estará no quintal se procurarmos por ele. Nós
colapsamos a função de onda do Senhor Cão mesmo sem observá-lo. Ou, mais
corretamente, colapsamos a função de onda do universo, que possui importantes
consequências para o paradeiro do Senhor Cão, mesmo sem interagirmos diretamente
com ele. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Isso pode
ou não te surpreender. Esperançosamente, fomos tão claros e convincentes na
explicação do que são as funções de onda, que o fenômeno do emaranhamento
parece relativamente natural. E deveria ser: faz parte do maquinário da mecânica
quântica, e um número de experimentos inteligentes demonstraram sua validade no
mundo real. Entretanto, o emaranhamento pode levar a consequências que <span style="color: #222222; text-indent: 0px;">—</span> interpretadas
ao pé da letra </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> parecem
inconsistentes com o espírito da relatividade, se não inconsistentes com a
letra da lei. Vamos enfatizar: não há
nenhuma incompatibilidade real entre a mecânica quântica e a relatividade
especial (relatividade geral, onde a gravidade entra na jogada, é uma história
diferente). Mas há uma tensão entre elas que deixa as pessoas nervosas. Em
particular, as coisas parecem acontecer mais rápido do que a velocidade da luz.
Quando se investiga mais a fundo o que essas “coisas” são e o que “acontecer” significa,
você descobre que nada de errado está acontecendo </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> nada de fato se moveu mais rápido que a luz e
nenhuma informação real pode ser transportada para fora do cone de luz de
alguém. Mesmo assim, as pessoas ficam irritadas equivocadamente. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: normal; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: normal; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b>O
paradoxo EPR</b></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Vamos
voltar para a nossa gata e cão, imaginando que eles estão no estado quântico
descrito acima, uma superposição de (mesa, sala de estar) e (sofá, quintal).
Mas agora vamos imaginar que, se o Senhor Cão estiver lá fora no quintal, ele
não fica apenas sentado lá, ele foge. Ele também é bastante aventureiro e vive
no futuro, quando já existem foguetes frequentemente viajando a uma colônia
espacial em Marte. O Senhor Cão </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> na
alternativa na qual ele começa no quintal e não na sala de estar </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> foge para o porto espacial, entra num foguete e
voa para Marte, sem ser observado durante todo esse tempo. Apenas quando ele
sai do foguete e pula nos braços do seu velho amigo Billy, que se graduou no
ensino médio e se juntou às Corporações Espaciais, que o enviou para o Planeta
Vermelho em uma missão, é que o estado do Senhor Cão é realmente observado,
colapsando a função de onda. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">O que
estamos imaginando, em outras palavras, é que a função de onda descrevendo o
sistema gata/cachorro evoluiu de acordo com a equação de Schrödinger a partir de</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">(mesa, sala de estar) + (sofá,
quintal) </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">para</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">(mesa,
sala de estar) + (sofá, Marte)</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Não há de impossível nisso </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> implausível, talvez, mas desde que ninguém tenha
feito nenhuma observação durante o tempo que a evolução levou para ocorrer,
terminaremos com a função de onda nessa superposição. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Mas as
implicações são surpreendentes. Quando Billy vê o Senhor Cão saindo da
espaçonave em Marte, ele faz uma observação e colapsa a função de onda. Se Billy
sabia qual era a função de onda descrevendo o estado emaranhado da gata e do cachorro,
Billy sabe imediatamente que a Senhora Gatinha está no sofá e não embaixo da
mesa. A função de onda colapsou para a possibilidade (sofá, Marte). Não só
estado da Senhora Gatinha passou a ser conhecido mesmo que ninguém tenha
interagido com ela, ele foi aparentemente determinado instantaneamente, mesmo que
sejam necessários no mínimo alguns minutos viajando de Marte para a Terra mesmo
na velocidade da luz. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Essa
característica do emaranhamento </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> o fato
que o estado do universo, como descrito pela sua função de onda quântica,
parece alterar instantemente através do espaço, mesmo que a lição da
relatividade deveria ter sido de que não há uma definição única do que instantaneamente
significa <span style="color: #222222; text-indent: 0px;">—</span> intriga bastante as pessoas. Isso certamente intriga Albert
Einstein, que se juntou a Boris Podolsky e Nathan Rosen em 1935 para escrever
um artigo mostrando essa estranha possibilidade, conhecida como o “paradoxo
EPR” <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn10" name="_ednref10" title="">[x]</a>.</span></span></span>
Mas isso não é realmente um paradoxo; pode ir contra a nossa intuição, mas não
vai contra a nenhum requisito experimental ou teórico. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">A
importante característica do colapso aparentemente instantâneo de uma função de
onda distribuída através de distâncias imensas é que isso não pode ser
utilizado para transmitir informações acima da velocidade da luz. O que nos
chateia é que, antes de Billy observar o cachorro, a Senhora Gatinha aqui na
Terra não estava em uma localização definida </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> tínhamos
50/50 de chance de observá-la no sofá ou embaixo da mesa. Uma vez que Billy
tenha observado o Senhor Cão, agora nós temos uma chance de 100 por cento de observar
a Senhora Gatinha no sofá. Mas qual o problema? Nós não sabemos que Billy fez
tal observação </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> por tudo
que sabemos, se procurássemos pelo Senhor Cão, nós o acharíamos na sala de
estar. Para a descoberta do Billy fazer alguma diferença para nós, ele teria
que vir aqui nos dizer, ou enviar uma transmissão de rádio <span style="color: #222222; text-indent: 0px;">—</span> de um jeito ou de
outro, ele teria que ser comunicar conosco por maneiras convencionais mais
lentas que a luz. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">O
emaranhamento entre dois sistemas distantes nos parece misterioso, porque viola
nossas noções intuitivas de localidade </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> as
coisas só deveriam afetar coisas próximas, não coisas arbitrariamente
distantes. As funções de onda não operam dessa maneira; há uma função de onda
que descreve todo o universo de uma vez e isso é tudo. O mundo que observamos,
entretanto, ainda respeita uma localidade </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> mesmo
que funções de onda colapsam instantaneamente em todos os lugares, não podemos
tirar vantagem dessa característica para enviar sinais mais rápidos que a luz.
Em outras palavras, para as coisas afetarem a sua vida, ainda é verdade que
elas precisam estar próximas a você, e não arbitrariamente distantes. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Por outro lado, não deveríamos esperar
que essa noção ainda mais fraca de localidade seja um principio verdadeiramente
sagrado. No próximo capítulo, vamos falar um pouco sobre a gravidade quântica,
onde a função de onda se aplica para diferentes configurações do próprio
espaço-tempo. Nesse contexto, uma ideia como “objetos só podem afetar uns aos
outros casos eles estejam próximos” deixa de ter qualquer significado. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><span style="line-height: 150%;">Muitos
mundos, muitas mentes</span></b></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">A concorrente líder como uma
alternativa à visão de Copenhague da mecânica quântica é chamada <i>interpretação de muitos mundos</i>. “Muitos
mundos” é um nome assustador e enganoso para uma ideia bem direta. A ideia é a
seguinte: não existe isso de “colapso da função da onda”. A evolução dos
estados na mecânica quântica acontece assim como na mecânica clássica, obedecendo
a uma regra determinística </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> a
equação de Schrödinger </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> que
permite prever o futuro e o passado de qualquer estado com perfeita fidelidade.
E isso é tudo. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">O
problema com essa alegação é que nós aparentemente vemos funções de onda colapsando
o tempo todo, pelo menos observamos os efeitos do colapso. Podemos imaginar
configurar a Senhora Gatinha num estado quântico que possui iguais amplitudes
para encontrá-la no sofá ou embaixo da mesa; então quando procuramos por ela,
nós a vemos embaixo da mesa. Se olharmos novamente, nós iremos vê-la embaixo da
mesa 100 por cento do tempo; a observação original (na forma útil de falar
sobre essas coisas) colapsou a função de onda para um auto-estado-mesa. E essa
maneira de pensar possui consequências empíricas, todas as quais foram testadas
com sucesso em experimentos reais. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">A
resposta do defensor dos muitos mundos é que você simplesmente está pensando
sobre isso da maneira errada. Em especial, você se identificou de maneira
equivocada na função de onda do universo. Afinal, você faz parte do mundo
físico e consequentemente você está sujeito às regras da mecânica quântica. Não
está certo encaramos você como um clássico aparato observador; precisamos levar
em consideração o seu próprio estado na função de onda. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Então, de acordo com essa nova
história, não deveríamos começar com uma função de onda descrevendo a Senhora
Gatinha como uma superposição de (sofá) e (mesa); deveríamos incluir a sua
própria configuração na descrição. Em particular, a característica relevante da
sua descrição é o que você tem observado sobre a posição da Senhora Gatinha. Há
três estados que você pode estar. Você pode ter visto a Senhora Gatinha no
sofá, ter visto-a embaixo da mesa, ou você pode nem ter visto-a ainda. Para
começar, a função de onda do universo (pelo menos a parte que estamos
descrevendo aqui), dá a Senhora Gatinha igual amplitude para estar no sofá ou
embaixo da mesa, enquanto você está unicamente no estado de não ter olhado
ainda. Isso pode ser representado esquematicamente da seguinte forma:</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 21.25pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">(sofá,
você não olhou) + (mesa, você não olhou).
</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Agora você observa onde ela está. Na interpretação
de Copenhague, diríamos que a função de onda colapsa. Mas na interpretação de
muitos mundos, dizemos que o seu próprio estado está emaranhado com o estado da
Senhora Gatinha e o sistema combinado evolui para uma superposição: </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 21.25pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">(sofá, você vê a Senhora Gatinha no sofá) + (mesa, você vê a Senhora
Gatinha na mesa) </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Não há colapso; a função de onda
evolui suavemente e não há nada de especial com o processo de “observação”. Além
disso, o processo inteiro é reversível </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> dado o
estado final, podemos usar a equação de Schrödinger para unicamente recuperar o
estado original. Não há intrinsecamente uma seta quântica do tempo nessa
interpretação. Por muitas razões, essa é uma figura mais elegante e
satisfatória do mundo do que a figura de Copenhague. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">O
problema, entretanto, deve estar óbvio: o estado final tem você em uma superposição
de dois resultados diferentes. A dificuldade disso é que você, claro, nunca se
sentiu como se estivesse em uma superposição. Se você realmente fez uma
observação de um sistema que estava em uma superposição quântica, após a
observação, você sempre acreditaria que observou um resultado específico. O
problema com a interpretação de muitos mundos, em outras palavras, é que não
parece estar de acordo com a nossa experiência do mundo real. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Mas não
vamos nos precipitar. Quem é esse “você” do qual estamos falando? É verdade: a
interpretação de muitos mundos diz que a função de onda do universo evolui para
a superposição mostrada acima, com uma amplitude para que você veja a gata no
sofá e outra amplitude para você vê-la embaixo da mesa. Esse é o passo crucial:
O “você” que vê, sente e acredita não é essa superposição. Em vez disso, “você”
é uma dessas alternativas. Ou seja, agora existem dois “vocês” diferentes, um
que vê a Senhora Gatinha no sofá e o outro que a vê embaixo da mesa, e ambos
existem na função de onda. Eles compartilham as mesmas memórias e experiências
iniciais </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> antes deles observarem a
localização da gata, eles eram a mesma pessoa </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> mas
agora eles se separam em duas ramificações diferentes da função de onda, e
nunca mais irão interagir com o outro novamente. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Esses são
os muitos mundos em questão, embora deve estar claro que esse rótulo é enganoso
de alguma forma. As pessoas às vezes levantam objeções à interpretação de
muitos mundos porque ela é muito extravagante para ser levada a sério </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> todas essas realidades paralelas, infinitas em
número, só para não termos de acreditar no colapso da função de onda. Isso é
besteira. Antes de termos feito uma observação, o universo era descrito por uma
única função de onda, que atribuiu uma amplitude específica para cada resultado
observacional possível; após a observação, o universo é descrito por uma única
função de onda, que atribui uma amplitude especifica para cada resultado
observacional possível. Antes e depois, a função de onda do universo é a apenas
um ponto em particular no espaço de estados descrevendo o universo e esse
espaço de estados não cresce nem diminui. Nenhum mundo “novo” foi realmente
criado, a função de onda ainda contém a mesma quantidade de informação (afinal,
nessa interpretação a evolução é reversível). Ela simplesmente evoluiu de uma
forma que agora há um maior número de subconjuntos distintos da função de onda
descrevendo criaturas individuais e conscientes como nós. A interpretação de
muitos mundos pode ou não estar correta, mas não faz sentido criticá-la
afirmando “ah, são muitos mundos”. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">A
interpretação de muitos mundos não foi originalmente formulada por Bohr,
Heisenberg, Schrödinger ou nenhuma outra figura central dos dias iniciais da
mecânica quântica. Ela foi proposta em 1957 por Hugh Everett III, que era um
estudante de pós-graduação trabalhando com John Wheeler em Princeton <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn11" name="_ednref11" title="">[xi]</a>.</span></span></span>
Na época (e por décadas depois), a visão dominante era a interpretação de Copenhague.
Então, Wheeler fez a coisa óbvia: enviou Everett em uma viagem a Copenhague,
para discutir sua nova perspectiva com Niels Bohr e outros. Mas a viagem não
foi um sucesso </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> Bohr não
ficou nada convencido, e o resto da comunidade física mostrou pouco interesse
nas ideias de Everett. Ele deixou a física acadêmica para trabalhar para o
Departamento de Defesa e eventualmente criou a sua própria firma de
computadores. Em 1970, o físico teórico Bryce DeWiit (que, junto com Wheeler,
era um pioneiro na aplicação da mecânica quântica à gravidade) defendeu a
interpretação de muitos mundos e ajudou a popularizá-la entre os físicos.
Everett viu o reaparecimento de suas idéias dentro da comunidade física, mas
ele nunca voltou para pesquisa ativa; em 1982 aos 51 anos, ele faleceu
repentinamente devido a um ataque cardíaco. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><span style="line-height: 150%;">Decoerência
</span></b></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Apesar de suas vantagens, a
interpretação de muitos mundos não é realmente um produto terminado. Há
perguntas ainda sem respostas, partindo de perguntas profundas e conceituais </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> por que observadores conscientes são identificados
por ramificações discretas da função de onda, em vez de superposições? </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> para a puramente técnica </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> como justificamos a regra que “probabilidades são
iguais ao quadrado da amplitude” nesse formalismo? Essas são perguntas reais,
cujas respostas não estão perfeitamente claras, um dos motivos pelos quais a
interpretação de muitos mundos não desfruta de uma aceitação universal. Mas um
grande progresso tem sido feito durante as ultimas décadas, especialmente envolvendo
um fenômeno do cerne da mecânica quântica conhecido como <i>decoerência</i>. Há grandes esperanças </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> apesar de
pouco consenso </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> que a
decoerência pode nos ajudar a entender porque as funções de onda aparentam
colapsar, mesmo que a interpretação de muitos mundos afirma que esse colapso é
apenas aparente. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">A decoerência
ocorre quando o estado de uma parte bem pequena do universo </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> seu cérebro, por exemplo </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> torna-se tão emaranhado com partes do ambiente
mais amplo que não está mais sujeito a interferência, o fenômeno que faz algo
realmente ser quântico. Para ter uma ideia de como isso funciona, vamos voltar
para o exemplo do estado emaranhado da Senhora Gatinha e do Senhor Cão. Há duas
alternativas, com duas amplitudes iguais: a gata está embaixo da mesa e o
cachorro na sala de estar ou a gata está no sofá e o cachorro no quintal: </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">(mesa,
sala de estar) + (sofá, quintal)</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Nós vimos
como, se alguém observar o estado do Senhor Cão, a função de onda (na linguagem
de Copenhague) colapsaria, deixando a Senhora Gatinha em um estado definido. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Mas agora
vamos fazer algo diferente: imagine que ninguém observa o estado do Senhor Cão
e simplesmente o ignoramos. Efetivamente, jogamos fora qualquer informação do
emaranhamento entre a Senhora Gatinha e o Senhor Cão e nos perguntamos: qual o
estado da Senhora Gatinha sozinha? </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Poderíamos
pensar que a resposta é uma superposição da forma (mesa) + (sofá), da maneira
como tínhamos antes de introduzir a complicação canina na jogada. Mas isso não
está certo. O problema é que a interferência </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> o
fenômeno que nos convenceu em primeiro lugar que precisávamos levar amplitudes
quânticas a sério <span style="color: #222222; text-indent: 0px;">—</span> não pode mais ocorrer. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">No nosso
exemplo original de interferência, há duas contribuições para a amplitude da
Senhora Gatinha estar embaixo da mesa: uma obtida pela alternativa onde ela
passa pelo sua tigela de comida e outra onde ela para no seu arranhador. Mas era
crucialmente importante que as duas contribuições que no final se cancelaram
fossem contribuições para<i> exatamente a
mesma alternativa final</i> (“Senhora Gatinha está embaixo da mesa”). Duas
contribuições para a função de onda final só irão interferir se envolvem a
mesma alternativa para tudo no universo; se elas estão contribuindo para
alternativas diferentes, elas não podem interferir, mesmo se as diferenças envolvem
o resto do Universo e não a Senhora Gatinha propriamente dita. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Então,
quando o estado da Senhora Gatinha está emaranhado com o estado do Senhor Cão,
interferências entre alternativas que alteram o estado da Senhora Gatinha sem
uma alteração correspondente no Senhor Cão são impossíveis. Uma contribuição
para a função de onda não consegue interferir com a alternativa “a Senhora
Gatinha está embaixo da mesa”, uma vez que essa alternativa não é uma
especificação completa do que pode ser observado; uma contribuição só pode
interferir com as alternativas “a Senhora Gatinha está embaixo da mesa e o Senhor
Cão está na sala de estar” que estão realmente representadas pela função de
onda <span class="MsoEndnoteReference"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_edn12" name="_ednref12" title="">[xii]</a>.</span></span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Dessa
maneira, se a Senhora Gatinha a está emaranhada com o mundo exterior mas não
sabemos detalhes desse emaranhamento, não é correto considerar o estado dela
como uma superposição quântica. Em vez disso, deveríamos pensar que se trata de
uma distribuição <i>clássica</i> ordinária
de diferentes alternativas. Ao descartarmos qualquer informação sobre com quem ela
esta emaranhada, a Senhora Gatinha não está mais em uma sobreposição; no que
diz respeito a qualquer experimento concebível, ela está ou em um estado ou em
outro, mesmo se não soubermos qual. </span><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">A
interferência não é mais possível. </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">Isso é a
decoerência. Na mecânica clássica, todo objeto tem uma posição definida, mesmo
se não soubermos a sua posição e só soubermos probabilidades para várias
alternativas. O milagre da mecânica quântica é que não há tal coisa como “onde
o objeto está”; ele está numa verdadeira sobreposição das alternativas possíveis,
o que sabemos ser verdade através de experimentos que demonstraram a realidade
da interferência. Mas se o estado quântico descrevendo o objeto está emaranhado
com algo do mundo externo, a interferência se torna impossível, e voltamos ao
modo clássico de enxergar as coisas. No que nos diz respeito, o objeto está em
um estado ou em outro, mesmo se o melhor que pudermos fazer é atribuir uma
probabilidade para diferentes alternativas <span style="color: #222222; text-indent: 0px;">—</span> as probabilidades estão
expressando nossa ignorância, não uma realidade subjacente. Se o estado
quântico de uma parte específica do universo representa uma verdadeira
sobreposição não emaranhada com o resto do mundo, dizemos que é coerente; se a
sobreposição foi perturbada por emaranhar-se com alguma coisa externa, dizemos
que é “decoerente” (Isso é o motivo pelo qual, na interpretação de muitos mundos,
o estado do gato torna-se emaranhado com o estado das câmeras) . </span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<h5 style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;">O colapso da função de onda e a seta do tempo </span></span></span></h5>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<h5 style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 150%;"> </span></span></span></h5>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Na interpretação de muitos mundos, a decoerência claramente
tem um papel crucial no aparente processo do colapso da função de onda. O ponto
é que não há algo especial ou único em relação à consciência ou “observadores”,
além do fato de que são objetos macroscópicos complexos. O ponto é que qualquer
objeto macroscópico complexo <i>inevitavelmente</i>
vai interagir (e consequentemente emaranhar) com o mundo externo, e é inútil imaginar
que vamos acompanhar a forma precisa desse emaranhamento. Para um sistema
microscópico bem pequeno como um elétron individual, podemos isolá-lo e
colocá-lo em uma verdadeira superposição quântica que não está emaranhada com o
estado de outras partículas, mas, para um sistema bagunçado como um ser humano
(ou uma câmera de monitoramento), isso simplesmente não é possível. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Nesse caso, a nossa simples representação na
qual o estado de nossas percepções torna-se emaranhado com o estado da
localização da Senhora Gatinha é uma simplificação. Uma parte crucial da
história é desempenhada pelo nosso emaranhamento com o mundo externo. Vamos imaginar
que a Senhora Gatinha comece em uma verdadeira superposição quântica, não
emaranhada com o resto do mundo; mas nós, criaturas complicadas que somos,
estamos profundamente emaranhados com o mundo externo em maneiras que não
podemos especificar. A função de onda do universo atribui distintas amplitudes
para todas as configurações alternativas do sistema combinado da Senhora Gatinha,
nós e o mundo externo. Após observarmos a posição da Senhora Gatinha, a função
de onda evolui para algo da forma</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 6pt 21.25pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">(sofá, você vê a
Senhora Gatinha no sofá, mundo<sub>1</sub>) + (mesa, você vê a Senhora Gatinha
na embaixo da mesa, mundo<sub>2</sub>), </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">onde a última parte descreve a (desconhecida) configuração do
mundo externo, que será diferente nos dois casos. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Como não sabemos nada sobre esse estado, nos simplesmente
ignoramos o emaranhamento com o mundo externo, e mantemos o conhecimento da
localização da Senhora Gatinha e de nossas percepções mentais. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">É isso que queremos dizer ao falarmos da
ramificação da função de onda em diferentes “mundos”. Um pequeno sistema em uma
verdadeira superposição quântica é observado por um aparato clássico de
mensuração, mas o aparato está emaranhado com o mundo externo; nós ignoramos o
estado do resto do mundo e ficamos com dois mundos clássicos alternativos. Do
ponto de vista de cada alternativa clássica, a função de onda “colapsou”; mas, de um hipotético ponto de vista mais amplo onde mantemos todas as informações
da função de onda do universo, não há mudanças súbitas no estado, apenas a
evolução suave de acordo com a equação de Schrödinger.</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Esse negócio de jogar fora informação pode
lhe deixar um pouco desconfortável, mas deveria soar também familiar. Tudo que
estamos fazendo é aumentar o nível de granularidade, assim como fizemos na
mecânica estatística clássica para definir macroestados correspondentes a
vários microestados. A informação sobre o nosso emaranhamento com o ambiente
externo bagunçado é análoga à informação sobre a posição e momento de cada molécula
em uma caixa de gás <span style="color: #222222;">—</span> não precisamos dela, e
na prática não conseguimos rastreá-la, então criamos uma descrição
fenomenológica baseada puramente nas variáveis macroscópicas. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Nesse sentido, a irreversibilidade que
aparece quando funções de onda colapsam parecem estar diretamente análoga à irreversibilidade
da termodinâmica ordinária. As leis subjacentes são perfeitamente reversíveis,
mas no bagunçado mundo real jogamos fora muita informação, e como resultado
encontramos um comportamento irreversível em escalas macroscópicas. Ao
observarmos a posição da nossa gata, o nosso próprio estado fica emaranhado com
o dela. Para reverter o processo, precisaríamos saber o estado preciso do mundo
externo com o qual também estamos emaranhados, mas nós jogamos fora essa
informação. É exatamente análogo com o que acontece quando uma colher de leite se
mistura com o copo de café; em principio, poderíamos reverter o processo se
tivéssemos registrado a posição e o momento de cada molécula individual da
mistura, mas na prática só registramos as variáveis macroscópicas, com isso a
reversibilidade é perdida. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Nessa discussão da decoerência, um papel
crucial foi desempenhado pela nossa habilidade em observar o sistema e isolá-lo
do resto do mundo em uma verdadeira superposição quântica. Mas isso é
claramente um tipo bem especial de estado, muito parecido com estados de baixa
entropia que começamos por hipótese ao discutir a origem da Segunda Lei da
Termodinâmica. Um estado completamente genérico caracterizaria todos os tipos
de emaranhamento entre o nosso pequeno sistema e o ambiente externo, correto
desde o princípio. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Nada disso tenta dar a impressão de que a
aplicação da decoerência para a interpretação de muitos mundos resolve imediatamente
todos os problemas interpretativos da mecânica quântica. Mas parece um passo na
direção correta e enaltece uma relação importante entre a seta macroscópica do
tempo familiar da mecânica estatística e a seta macroscópica do tempo exibida
quando a função de onda colapsa. Talvez o melhor de tudo, é que ajuda a remover
noções mal definidas como “observador consciente” do vocabulário com o qual
descrevemos o mundo natural. </span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="background: white none repeat scroll 0% 0%; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Com isso na mente, voltaremos a falar como
se todas as leis fundamentais da física fossem completamente reversíveis em
escalas microscópicas. Essa conclusão não precisa ser aceita, mas há bons
argumentos por trás dela <span style="color: #222222;">—</span> podemos manter a mente
aberta, enquanto continuamos a explorar as consequências desse particular ponto
de vista. O que nos deixa, é claro, exatamente onde começamos: com a tarefa de
explicar a aparente falta de reversibilidade nas escalas macroscópicas em
termos de condições especiais próximas ao Big Bang. Para levar esse problema a
sério, precisamos pensar na gravidade e na evolução do universo. </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div style="mso-element: endnote-list;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br clear="all" />
</span></span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn1">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref1" name="_edn1" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[i]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Citado em von Bayer (2003), pp. 12-13</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn2">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref2" name="_edn2" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[ii]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Não estou dizendo que antigos Budistas não eram sábios, ma s a sabedoria deles não se baseava na
falha do determinismo clássico nas escalas atômicas, e eles também nem
anteciparam a física moderna de nenhuma forma sensata, além da inevitável e
arbitrária similaridade da escolha de palavras para se referir a conceitos
cósmicos grandes (Uma vez assisti uma palestra alegando que as ideias básicas
da nucleossíntese primordial estavam predefinidas no Torá; se você afrouxar as
suas definições o suficiente, as similaridades vão aparecer em todos os
lugares). É desrespeitoso tanto a antigos filósofos quanto a físicos modernos
ignorar as diferenças reais nos seus objetivos e métodos em uma tentativa de
criar conexões tangíveis a partir de lembranças superficiais.</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn3">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref3" name="_edn3" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[iii]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Recentemente, cachorros também foram recrutados para a causa. Veja Orzel
(2009).</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn4">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref4" name="_edn4" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[iv]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Ainda estamos ignorando uma tecnicalidade – a verdade é um pouco mais complexa
do que essa descrição, mas essa complicação não é relevante para os nossos
propósitos atuais. As amplitudes quânticas são na realidade <i>números complexos</i>, que são combinações
de dois números: um número real mais um número imaginário (números imaginários são
o que você obtém quando você tira a raiz quadrada de um número real negativo,
então “dois imaginário” é a raiz quadrada de menos quatro). Um número complexo
se parece como <i>a + bi</i>, onde <i>a</i> e <i>b</i>
são número reais e “<i>i</i>” é a raiz
quadrada de menos um. Se a amplitude associada com uma determinada opção é <i>a + bi</i>, a sua probabilidade corresponde
simplesmente é <i>a<sup>2</sup><span class="apple-converted-space"> </span>+ b<sup>2</sup></i>, o que é garantido
de ser mais ou igual a zero. Você terá de confiar em mim que esse aparato extra
é extremamente importante para o mecanismo da mecânica quântica </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> ou confie ou comece a aprender alguns
detalhes matemáticos da teoria (Eu posso pensar em maneiras menos
recompensadoras de gastar o seu tempo, na verdade).</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn5">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref5" name="_edn5" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[v]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
O fato que qualquer sequência particular de eventos atribui amplitudes
positivas ou negativas para duas possibilidades finais é uma suposição que
estamos fazendo para o nosso experimento de pensamento, não uma característica central
das regras da mecânica quântica. Em qualquer problema de mundo real, os
detalhes do sistema sendo considerado determinam precisamente quais são as
amplitudes, mas não estamos tanto com a mão na massa assim nesse momento. Note
também que amplitudes nesses exemplos têm valor numérico de mais ou menos
0.7071 </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> número que, ao
quadrado, é igual a 0.5.</span><span style="line-height: 150%;"></span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn6">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref6" name="_edn6" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[vi]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Em um workshop frequentado por pesquisadores especialistas na mecânica
quântica, Max Tegmark fez uma enquete reconhecidamente não cientifica das
favoritas interpretações da mecânica quântica dos participantes (Tegmark, 1998).
A interpretação de Copenhague ficou em primeiro com treze votos, enquanto a
intepretação de muitos mundos ficou em segundo com oito. Os outros nove votos
estavam distribuídos entre as demais alternativas. O mais interessante é que
dezoito votos foram para “nenhuma das anteriores/não decidido”. E esses eram os
especialistas.</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn7">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref7" name="_edn7" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[vii]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
O que acontece se colocarmos a câmera de monitoramento, mas não examinarmos os
vídeos? Não importa se olhamos ou não os vídeos, a câmera ainda conta como uma
observação, então haverá uma chance de ver a Senhora Gatinha embaixo da mesa.
Na interpretação de Copenhague, diríamos “A câmera é um dispositivo clássico de
mensuração cuja influência colapsa a função de onda”. Na interpretação de
muitos mundos, como veremos, a explicação é “a função da onda da câmera fica
emaranhada com a função de onda da gata, então as historias alternativas
decoerem”</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn8">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref8" name="_edn8" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[viii]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Muitas pessoas pensaram em mudar as regras da mecânica quântica para que isso
não fosse mais verdade; elas propuseram o que é chamado de “teoria das
variáveis escondidas” que vai além do arcabouço padrão da mecânica quântica. Em
1964, o físico teórico John Bell provou um teorema espetacular: nenhuma teoria
local de variáveis escondidas podem sequer reproduzir as previsões da mecânica
quântica. Isso não impediu as pessoas de investigarem teorias não locais </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> onde eventos distantes podem se afetar
instantaneamente. Mas elas realmente não agradaram; a grande maioria dos
físicos modernos acredita que a mecânica quântica está simplesmente correta,
mesmo se eles não sabem ainda como interpretá-la.</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn9">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref9" name="_edn9" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[ix]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Na verdade, há uma afirmação um pouco mais poderosa que podemos fazer. Na
mecânica clássica, o estado é especificado tanto pela posição e velocidade,
então você pode supor que a função de onda quântica atribui probabilidades para
cada combinação possível de posição e velocidade. Mas não é assim que funciona.
Se especificar uma amplitude para cada possibilidade de posição, você está
feito </span><span style="color: #222222;">—</span><span style="line-height: 150%;"> você determinou
completamente o estado quântico inteiro. Então o que ocorreu com a velocidade?
Acontece que você pode escrever a mesma função de onda para cada velocidade
possível, deixando a posição totalmente fora da descrição. Esses não são
estados diferentes, são apenas jeitos diferentes de escrever exatamente o
mesmo. Na verdade, há uma receita de bolo para traduzir de um estado para
outro, conhecida como transformada de Fourier. Dada a amplitude para cada
possível posição, você pode fazer uma transformada de Fourier para determinar a
amplitude para qualquer velocidade possível, e vice versa. Em especial, se a
função de onda é um auto-estado, concentrada em um valor exato da posição (ou
velocidade), sua transformada de Fourier estará completamente distribuída entre
todas as possíveis velocidades (ou posições).</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn10">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref10" name="_edn10" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[x]</span></span></span></span></a><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"> Einstein, Podolsky e Rosen (1935).</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn11">
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref11" name="_edn11" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[xi]</span></span></span></span></a><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"> Everett (1957). </span><span style="line-height: 150%;">Para discussão de
diversos pontos de vista veja Deutsch (1997), Albert (1992) ou Ouellette
(2007).</span></span></span></div>
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div id="edn12" style="mso-element: endnote;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span></span><br />
<div class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2435868798900605194#_ednref12" name="_edn12" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 150%;"><span class="MsoEndnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[xii]</span></span></span></span></a><span style="line-height: 150%;">
Note o quão crucial o emaranhamento é para essa historia. Se não houvesse
emaranhamento, o mundo externo ainda existiria, mas as alternativas disponíveis
para a Senhora Gatinha seriam completamente independentes do que está
acontecendo lá fora. Nesse caso, seria perfeitamente correto atribuir uma
função de onda isolada para a Senhora Gatinha. E essa é a única razão que
conseguimos aplicar o formalismo da mecânica quântica para átomos individuais e
outros sistemas isolados. Nem tudo esta emaranhado com o todo o resto, ou seria
impossível dizer alguma coisa sobre qualquer subsistema especifico do mundo.</span></span></span></div>
</div>
</div>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:DoNotShowPropertyChanges/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>JA</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:10.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
table.MsoTableGrid
{mso-style-name:"Tabela com grade";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-priority:59;
mso-style-unhide:no;
border:solid windowtext 1.0pt;
mso-border-alt:solid windowtext .5pt;
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-border-insideh:.5pt solid windowtext;
mso-border-insidev:.5pt solid windowtext;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
table.LightShading1
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-tstyle-rowband-size:1;
mso-tstyle-colband-size:1;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
border-top:solid black 1.0pt;
mso-border-top-themecolor:text1;
border-left:none;
border-bottom:solid black 1.0pt;
mso-border-bottom-themecolor:text1;
border-right:none;
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
color:black;
mso-themecolor:text1;
mso-themeshade:191;
mso-fareast-language:EN-US;}
table.LightShading1FirstRow
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-table-condition:first-row;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
mso-tstyle-border-top:1.0pt solid black;
mso-tstyle-border-top-themecolor:text1;
mso-tstyle-border-left:cell-none;
mso-tstyle-border-bottom:1.0pt solid black;
mso-tstyle-border-bottom-themecolor:text1;
mso-tstyle-border-right:cell-none;
mso-tstyle-border-insideh:cell-none;
mso-tstyle-border-insidev:cell-none;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-bottom:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
line-height:normal;
mso-ansi-font-weight:bold;
mso-bidi-font-weight:bold;}
table.LightShading1LastRow
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-table-condition:last-row;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
mso-tstyle-border-top:1.0pt solid black;
mso-tstyle-border-top-themecolor:text1;
mso-tstyle-border-left:cell-none;
mso-tstyle-border-bottom:1.0pt solid black;
mso-tstyle-border-bottom-themecolor:text1;
mso-tstyle-border-right:cell-none;
mso-tstyle-border-insideh:cell-none;
mso-tstyle-border-insidev:cell-none;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-bottom:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
line-height:normal;
mso-ansi-font-weight:bold;
mso-bidi-font-weight:bold;}
table.LightShading1FirstCol
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-table-condition:first-column;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
mso-ansi-font-weight:bold;
mso-bidi-font-weight:bold;}
table.LightShading1LastCol
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-table-condition:last-column;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
mso-ansi-font-weight:bold;
mso-bidi-font-weight:bold;}
table.LightShading1OddColumn
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-table-condition:odd-column;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
mso-tstyle-shading:silver;
mso-tstyle-shading-themecolor:text1;
mso-tstyle-shading-themetint:63;
mso-tstyle-border-left:cell-none;
mso-tstyle-border-right:cell-none;
mso-tstyle-border-insideh:cell-none;
mso-tstyle-border-insidev:cell-none;}
table.LightShading1OddRow
{mso-style-name:"Light Shading1";
mso-table-condition:odd-row;
mso-style-priority:60;
mso-style-unhide:no;
mso-tstyle-shading:silver;
mso-tstyle-shading-themecolor:text1;
mso-tstyle-shading-themetint:63;
mso-tstyle-border-left:cell-none;
mso-tstyle-border-right:cell-none;
mso-tstyle-border-insideh:cell-none;
mso-tstyle-border-insidev:cell-none;}
</style>
<![endif]-->Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-47891369677899928612016-10-15T15:46:00.001-03:002016-10-15T15:46:32.859-03:00Fatos sobre overdose de heroína<div style="text-align: justify;">
<b>por Felipe Nogueira</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://ceticismoeciencia.blogspot.com.br/2015/08/destruindo-mitos-sobre-as-drogas.html">Na entrevista que fiz com o psicofarmacologista Carl Hart</a>, diversos mitos sobre drogas, inclusive heroína, foram mencionados. Há uma boa quantidade de pesquisas realizadas na área de overdose de heroína. Lendo alguns desses artigos, fica claro alguns fatos em relação à overdose de <i>heroína</i>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>1 - Heroína raramente mata sozinha por overdose. </b></div>
<ul>
<li style="text-align: justify;">Na maioria dos casos de morte, outras drogas são utilizadas em conjunto com heroína.</li>
<li style="text-align: justify;">Encontrado em 50% ou mais dos casos fatais, o álcool é a droga mais utilizada junto da heroína. </li>
<li style="text-align: justify;">Em segundo lugar, aparecem medicamentos classe benzodiazepínicos, como clonazepan (Rivotril) e diazepam (Valium). Esses medicamentos são normalmente usados no tratamento da ansiedade.</li>
<li style="text-align: justify;">Heroína, álcool e benzodiazepínicos são <i>depressores </i>do sistema nervoso central. Em conjunto, os efeitos depressores das drogas são potencializados. Com isso, as mortes normalmente envolvem parada respiratória.</li>
</ul>
<div style="text-align: justify;">
Com isso, o padrão encontrado nesses casos fatais de overdose envolve usuários de heroína experientes morrendo de poli-farmácia, e não de uma heroína assassina super potente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>2 - Não são usuários inexperientes que morrem.</b><br />
<br />
Os usuários jovens, inexperientes, e com isso menos tolerantes a droga, estão mais susceptíveis a variação de pureza ou quantidade administrada da droga. No entanto, na realidade, são os usuários dependentes de longa duração e mais tolerantes que possuem maior risco de morrer. A média de idade é no início dos 30 anos, a maioria estava desempregada e não fazendo tratamento no momento da morte.<br />
<br />
<b>3 - Concentrações de heroína encontradas não são altas</b><br />
<br />
A palavra overdose sugere que altas doses de heroína são encontradas. Porém, as pesquisas não apoiam isso. As doses encontradas são baixas e em muitos casos iguais a de usuários de heroína que morrem por outras causas, como homicidios. <br />
<div>
<br /></div>
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>3 - Overdoses não são necessariamente fatais</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais da metade dos usuários relatam episódios de overdoses, até mais de um episódio. Outras drogas também foram usadas em conjunto com heroína nesses casos. Os episódios de overdose não fatais começam apenas depois de uso de heroína por vários anos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>4 - Suicídio ou tentativas de suicídio são minoria</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Usuários de heroína possuem maior risco para depressão. O risco de suicídio é 14 vezes maior nos usuários de heroína em comparação com o resto da população. No entanto, a grande maioria das overdoses fatais são acidentais. Na Austrália, apenas 5% dos casos fatais de overdose são suicídios e vítimas de overdoses não fatais reportaram que tais episódios foram acidentais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>5 - A pureza da heroína não é tão importante</b> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estudos mostram uma relação apenas moderada com a pureza da heroína. Além disso raramente misturas tóxicas são encontradas nas seringas ou nas autópsias de casos de overdose por heróina. Substâncias inócuas como cafeína ou sacarina são as mais encontradas em autópsias. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>6 - As mortes por overdose não são súbitas</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os casos de morte súbita são exceção. Na sua grande maioria, há um processo devagar de depressão respiratória, que poderia ser revertida. Muitos usuários vão para cama depois do uso de heroína e álcool. Usuários em overdose, assim como suas testemunhas, raramente buscam intervenção, principalmente por medo de envolvimento policial. As testemunhas também podem estar sob overdose e/ou não reconhecendo os efeitos da depressão respiratória. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<br />
<b>Crenças/mitos e fatos em relação aos casos de overdose envolvendo heroína:</b> <br />
<style>
table, th, td {
border: 1px solid black;
border-collapse: collapse;
}
th, td {
padding: 5px;
text-align: left;
}
</style>
<br />
<table style="width: 100%;"><tbody>
<tr>
<th>Crenças/mitos</th>
<th>Fatos</th>
</tr>
<tr>
<td>Usuários jovens, inexperientes</td>
<td>Usuários mais velhos, experientes</td>
</tr>
<tr>
<td>Altas doses de heroína</td>
<td>Pequenas concentrações de morfina</td>
</tr>
<tr>
<td>Pureza</td>
<td>Associação moderada</td>
</tr>
<tr>
<td>Heroína é a causa</td>
<td>Uso de múltiplas drogas é o comum</td>
</tr>
<tr>
<td>Mortes ocorrem na rua</td>
<td>Maioria das mortes ocorrem em casa</td>
</tr>
<tr>
<td>Morte súbita</td>
<td>Morte súbita não é comum</td>
</tr>
<tr>
<td>Tentativa de suicídio</td>
<td>Maioria é acidental</td>
</tr>
<tr>
<td>Uso não injetável é seguro</td>
<td>É mais seguro, mas mortes ainda ocorrem</td>
</tr>
</tbody></table>
<br />
<div>
<b>Referências:</b> </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Darke S (2016). Heroin overdose. Addiction. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/add.13516/abstract</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Darke S (2005). Heroin overdose: myths, facts and intervention. http://slideplayer.com/slide/4823826/</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Darhe S, Hall W (2003). Heroin Overdose: Research and Evidence-Based Intervention. Journal of Urban Health80(2):189-200. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-79785555651193514732016-07-20T02:28:00.007-03:002016-07-21T21:22:13.239-03:00Artigo publicado na revista Lupus<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>por Felipe Nogueira</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-Gv61G7G5CuI/V48JunwKDuI/AAAAAAAADPE/OH0KoAWBq4Y_b6NsnDA2hZ48U2FuPWtKgCLcB/s1600/photo258184194154408411.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="419" src="https://3.bp.blogspot.com/-Gv61G7G5CuI/V48JunwKDuI/AAAAAAAADPE/OH0KoAWBq4Y_b6NsnDA2hZ48U2FuPWtKgCLcB/s640/photo258184194154408411.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O artigo referente à minha tese de doutorado foi publicado na revista Lupus. Por enquanto, o artigo ainda está apenas disponível Online e posteriormente ganhará versão impressa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como a imagem mostra, o artigo apresentou os resultados do desenvolvimento e utilização do monitoramento <i>online</i> da anticoagulação oral em pacientes com SAF (Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídio). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Lupus é uma revista da área médica revisada por pares com fator de impacto 2.118. A revista tem classificação B1 no Webcalis da CAPES. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-18601405340820089622016-07-19T19:00:00.005-03:002016-07-21T21:23:47.126-03:00A descoberta das ondas gravitacionais. Uma entrevista com Lawrence Krauss.<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b>por Felipe Nogueira</b><br />
publicado na <i>Skeptical Briefs</i> (vol. 26, n. 2, 2016)<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-oeTIaRzBmaY/V48GSHBiZPI/AAAAAAAADO4/P9YxpfFl7dUb95UBoj0XvGfh2gfpEpnLACLcB/s1600/Skeptical%2BBriefs%2BOndas.PNG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-oeTIaRzBmaY/V48GSHBiZPI/AAAAAAAADO4/P9YxpfFl7dUb95UBoj0XvGfh2gfpEpnLACLcB/s320/Skeptical%2BBriefs%2BOndas.PNG" width="253" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Entrevista publicada na <i>Skeptical Briefs</i></td></tr>
</tbody></table>
Na minha última coluna, cobri brevemente a descoberta fascinante das ondas gravitacionais. Para essa coluna, tive a oportunidade de conversar sobre a descoberta com Lawrence Krauss, físico teórico e cosmologista da Universidade do Arizona e autor do livro Um Universo Que Veio do Nada.<br />
<br />
<b><i>Nogueira:</i> Poderia explicar brevemente a relatividade geral e ondas gravitacionais? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> A relatividade geral é uma teoria do espaço e tempo. Einstein mostrou que a matéria afeta a propriedade do espaço e tempo ao seu redor; o espaço se curva, expande e contrai por causa de massa. Como afeta o espaço ao seu redor, um corpo massivo ao se mover produz um distúrbio no espaço que pode se propagar, como uma onda quando jogamos uma pedra na água. Em 1916, Einstein mostrou que esse distúrbio iria se propagar e seria uma onda, uma onda gravitacional. Assim como ondas eletromagnéticas são criadas quando agitamos uma carga, uma onda gravitacional é um distúrbio do espaço. Isso quer dizer que as propriedades do espaço são modificadas na presença de uma onda gravitacional. Se ondas gravitacionais estivessem passando nesse quarto agora, a distancia entre minhas mãos seria menor, mas minha altura seria maior. Instantes depois, isso muda: minha altura seria menor e a distância entre minhas mãos ficaria maior. Einstein pensou que as ondas gravitacionais nunca seriam observadas. Ele também retraiu a existência das ondas mais tarde em 1937, quando ele tentou resolver as equações das ondas gravitacionais e achou uma resposta que não fazia sentido. Ele submeteu o artigo para a revista <i>Physical Review</i> e foi rejeitado. Ele ficou chateado, porque que ele nunca havia sido revisado por pares antes. Einstein disse que ele havia enviado o artigo para ser publicado e não para ser revisado. Mas isso foi benéfico para ele, porque, antes de submeter para outra revista, ele e outra pessoa identificaram o erro no artigo e a versão final publicada está correta. Então, por um pequeno período, Einstein achou que as ondas gravitacionais não existiam. <br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Einstein também mudou de ideia sobre a constante cosmológica, certo? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> Ele introduziu a constante cosmológica, porque ele pensou que o universo fosse estático e pensou que a constante cosmológica faria o universo ser estático. Na verdade, ele errou nos dois casos. O universo não é estático e por caso disso Einstein disse que incluir a constante cosmológica foi um grande erro dele. Mas foi um grande erro de qualquer maneira, porque a constante cosmológica não resulta em universo estático. Geralmente resulta em um universo como o nosso, que está expandindo exponencialmente. <br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Há cinco anos descobrimos o bóson de Higgs. Foi uma grande descoberta, assim como essa descoberta das ondas gravitacionais. Mas eu tenho a impressão de que as pessoas ficaram mais empolgadas com a descoberta atual. O que você acha?</b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> Tudo relacionado a Einstein de alguma forma captura a imaginação do público. Einstein previu as ondas gravitacionais 100 atrás e Higgs previu a partícula de Higgs há 50 anos. A diferença real é que a descoberta do bóson de Higgs foi uma grande descoberta de algo muito importante no Modelo Padrão, mas não garante que haverá mais descobertas ou que novas janelas se abrirão além disso. A descoberta das ondas gravitacionais foi algo equivalente a termos acabado de ligar o telescópio: foi a primeira vez que tivemos uma máquina capaz de detectar ondas gravitacionais e estamos bem confiantes que vamos conseguir usá-las para explorar o universo. É bem possível que a máquina que descobriu o Higgs faça novas descobertas, mas não é garantido. Em contraste, sabendo que ondas gravitacionais existem, significa que seremos capazes de ver mais sobre o universo do que vimos anteriormente.<br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Quais ideias podem ser testadas com as ondas gravitacionais?</b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> Nunca medimos a relatividade geral em um regime forte perto de um horizonte de eventos, onde o espaço é bastante curvo. Nunca medimos gravidade com alta intensidade, gravidade sempre foi fraca. Com esses resultados, parece que a relatividade geral se aplica nesses domínios. Então, podemos extrapolar para domínios onde o espaço é curvo e bastante ondulado como um mar em ebulição, e não como “ondas suaves”. Isso será um bom teste da relatividade. Quando explorarmos a física próxima a um horizonte de eventos, aprenderemos sobre a natureza de buracos negros. E quem sabe o que vamos aprender? Sempre que abrimos uma janela, nós ficamos surpresos. Ficarei surpreso se não ficarmos surpresos. <br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Uma matéria circulou em um jornal brasileiro dizendo que essa descoberta tornaria viagem no tempo possível em 100 anos. Kip Thorne comentou sobre viagem no tempo na conferência de imprensa no dia da descoberta. O que você pode falar sobre isso? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> Não tem nada a ver com viagem no tempo. A existência das ondas gravitacionais implica que poderemos explorar a relatividade geral em um regime onde a gravidade é forte e os campos são bastante massivos. Mas não quer dizer que poderemos viajar no tempo; quem disse isso não sabe do que está falando. Kip Thorne esteve em um evento na minha universidade chamado '<a href="https://www.youtube.com/watch?v=cYWH34v2TnM">Legado de Einstein', que pode ser visto online</a>. Thorne deixou claro que ele acredita que a viagem no tempo não é possível, por mais que ele tenha investido tempo escrevendo artigos para ver se realmente seria possível. <br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>E para as pessoas que não são cientistas, como essa descoberta pode ter algo impacto ou ter alguma relevância para eles? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> Esses dois buracos negros colidiram em um segundo e eles emitiram uma energia equivalente a três vezes a massa do Sol. Isso é mais do que a energia emitida por todas as estrelas no universo visível durante esse momento. Coisas desse tipo podem impressionar você. Como eu digo, isso nos diz um pouco de onde viemos e para onde estamos indo; aumenta o nosso lugar no universo. De uma perspectiva cultural, faz parte da beleza de ser humano. A existência das ondas não fará uma torradeira melhor, mas a tecnologia usada no experimento pode ser usada em outras coisas.<br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Como o experimento LIGO foi feito? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> O experimento é impressionante. Para detectar ondas gravitacionais, o detector possui dois braços perpendiculares. Se uma onda gravitacional estiver passando, um braço ficara menor e o outro ficará maior e isso se alternará. Um raio laser é emitido e viaja até o final do braço. Se um braço for menor que o outro, o laser gastará menos tempo para percorrê-lo em comparação com o outro. Isso parece fácil, mas eles precisaram projetar um detector capaz de medir a diferença no comprimento entre dois túneis de quatro quilômetros por uma distância 10 mil vezes menor que o tamanho de um próton. Isso é tão pequeno que as vibrações quânticas dos espelhos utilizados são muito maiores. É como medir a distância da Terra e a estrela mais próxima com a acurácia equivalente a largura de um fio de cabelo humano. É um fantástico exemplo de ingenuidade, perseverança, e tecnologia; é realmente bonito!<br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Essa é a ultima previsão que faltava ser descoberta na relatividade geral? Mas porque sabemos que não temos a resposta final? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> As ondas gravitacionais eram o último aspecto da relatividade geral que precisava ser testado diretamente; está completamente certa. Assim como a mecânica quântica; foi testada tantas vezes que é uma teoria fundamental. Mas sabemos que a mecânica quântica e a gravidade não funcionam juntas. Em escalas muito pequenas, onde as ideias da mecânica quântica são importantes e a gravidade é forte, a relatividade geral não combina com a mecânica quântica. Então, sabemos que algo irá ter que ceder. <br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>Para você qual seria a próxima descoberta mais empolgante na física? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> As ondas que foram descobertas são interessantes, mas para mim ondas de momentos iniciais do Big Bang são ainda muito mais interessantes. Podemos procurar pela assinatura dessas ondas na radiação cósmica de fundo em micro-ondas, que veio do Big Bang. Se pudermos detectar a assinatura dessas ondas do Big Bang, poderemos explorar a física do universo quando foi bem jovem - a natureza da gravidade quântica. Sabemos que o detector do LIGO não é sensível a essas ondas, mas podemos construir detectores maiores no espaço que podem ser sensíveis. Escrevi um artigo com o vencedor do prêmio Nobel Franck Wilczek mostrando que a mensuração de ondas gravitacionais do Big Bang provará que a gravidade é uma teoria quântica.<br />
<br />
<b><i>Nogueira: </i></b><b>O que você pode comentar a respeito do seu próximo livro de divulgação científica? </b><br />
<b><i>Krauss:</i></b> O livro é chamado <i> The Greatest Story Ever Told... So Far</i> ("A Maior História Já Contada Até Agora", em tradução livre) e provavelmente sairá em Março de 2017 nos Estados Unidos. É a história da maior jornada intelectual que a humanidade já percorreu, todo caminho a partir de Platão até a partícula de Higgs. Meu último livro discutiu a pergunta "por que há alguma coisa ao invés do nada?" e o próximo discutirá "por que estamos aqui?". O novo livro foi construído com base <a href="https://www.youtube.com/watch?v=wMI-ot-n-aw">numa palestra com o mesmo título disponível online</a>, mas é claro que há mais no livro do que na palestra. O livro também discute sobre o futuro baseado no que sabemos com a descoberta da partícula de Higgs.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-42144290434086028762016-06-08T11:39:00.002-03:002016-12-12T12:52:20.327-02:00Diferença salarial entre médicos americanos por raça e gênero<div class="" data-block="true" data-editor="ef1pl" data-offset-key="2q9e1-0-0" style="background-color: white;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2q9e1-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; font-size: 14px; line-height: 18px; position: relative; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="2q9e1-0-0" style="font-family: inherit;">por Felipe Nogueira</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2q9e1-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; font-size: 14px; line-height: 18px; position: relative; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="2q9e1-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-udX-2kTCFf8/V1gscOj9QxI/AAAAAAAADLA/Xde-eSjSGGARN340Grg2OCufPpd2L394ACLcB/s1600/BMJ%2Bincome.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://4.bp.blogspot.com/-udX-2kTCFf8/V1gscOj9QxI/AAAAAAAADLA/Xde-eSjSGGARN340Grg2OCufPpd2L394ACLcB/s400/BMJ%2Bincome.PNG" width="400" /></a></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2q9e1-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: inherit; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><a href="http://www.bmj.com/content/353/bmj.i2923">Estudo publicado ontem no British Medical Journal</a> mostrou os seguintes dados para a média salarial anual entre 2010-2013 de médicos e médicas nos Estados Unidos: </span></div>
<span style="color: #1d2129;"></span><br />
<ul><span style="color: #1d2129;">
<li><span style="font-family: inherit; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">médicos brancos: $253 042; </span></li>
<li><span style="font-family: inherit; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">médicos negros: $188 230;</span></li>
<li><span style="font-family: inherit; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">médicas brancas: $163 234;</span></li>
<li><span style="font-family: inherit; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">médicas negras: $152 784. </span></li>
</span></ul>
<span style="color: #1d2129;">
</span>
<div style="font-family: inherit; line-height: 18px; text-align: justify; white-space: pre-wrap;">
<span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: inherit;">Conclusão: médicos brancos ganham mais que médicos negros. Médicos ganham mais que médicas. Estudos adicionais são necessários para entender a etiologia dessas diferenças de salario entre raça e gênero e se elas são oriundas de diferenças entre oportunidades de trabalho ou outros fatores. </span></span></div>
<span style="color: #1d2129;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">A unica diferença não foi estatisticamente significativa foi entre médicas brancas e negras.
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
</span></div>
</div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-25981243111849059152016-05-05T18:21:00.002-03:002016-06-08T11:39:39.530-03:00Erro médico é a terceira causa de morte nos EUApor Felipe Nogueira<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-sMz0zY-jB3I/VywXU0lf99I/AAAAAAAADIE/3tEIIMJ9vg0KbKHzwr7dvBuFR1l18FAMgCK4B/s1600/Capturar.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="121" src="https://1.bp.blogspot.com/-sMz0zY-jB3I/VywXU0lf99I/AAAAAAAADIE/3tEIIMJ9vg0KbKHzwr7dvBuFR1l18FAMgCK4B/s400/Capturar.JPG" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
Publicado há dois dias no <i>British Medical Journal</i>, estudo estima que erro médico é a TERCEIRA causa de morte nos EUA , atrás apenas de doença cardíaca e câncer [1].<br />
<br />
As causas de morte nos EUA em 2013, segundo o estudo:<br />
<br />
1 - Doença cardiaca: 611k<br />
2 - Câncer: 585k<br />
3 - Erro médico: 251k<br />
4 - DOPC: 149k<br />
5 - Suicídio: 149k<br />
6 - Armas de fogo: 34k<br />
7 - veículos motorizados: 34k<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Hgel97xB7R0/Vyu5AdoCp3I/AAAAAAAADH0/8o1cEBMa1nsoYcWtNH2cfjJLRLUPIrwGwCK4B/s1600/F1.large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-Hgel97xB7R0/Vyu5AdoCp3I/AAAAAAAADH0/8o1cEBMa1nsoYcWtNH2cfjJLRLUPIrwGwCK4B/s400/F1.large.jpg" width="340" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Causa de morte nos EUA em 2013. Fonte: BMJ [1]</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
Fica pior: segundo os autores, porque erro médico não é registrado nos certificados de morte nos EUA. <br />
<br />
Os autores concluem que o sistema que mensura estatísticas nacionais críticas deve ser revisado para facilitar o melhor entendimento de mortes causadas por cuidado médico [1]. <br />
<br />
Referência<br />
[1] Makary MA, Daniel M. Medical error-the third leading cause of death in the US. BMJ 2016;353;i2139. <a href="http://www.bmj.com/content/353/bmj.i2139">http://www.bmj.com/content/353/bmj.i2139</a>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-83825811142658690702016-02-27T16:02:00.002-03:002016-03-31T16:53:22.291-03:00Hora de Sermos Realistas Sobre a Homeopatia<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="line-height: 22.08px;"><b>Autor: Edzard Ernst</b> (Professor emérito, Universidade de Exeter)</span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">Fonte: edzardernst.com</span><br />
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">Tradução: Felipe Nogueira</span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">O <i>National Health and Medical Research Council</i> (Conselho de Pesquisas Médicas e da Saúde Nacional) da Austrália publicou recentemente o que deve ser a avaliação mais minuciosa da homeopatia em 200 longos anos de história dessa terapia. Foi avaliado um total de 57 revisões sistemáticas abrangendo 176 estudos clínicos individuais focados em 68 diferentes condições. Eles concluíram que, primeiro, não há evidências que a homeopatia é melhor que o placebo. E segundo que os pacientes podem causar danos a eles mesmos, se usarem homeopatia ao invés de terapias eficazes. Ainda em 2002, utilizando uma análise similar, mas menos abrangente, eu concluí que “a melhor evidência clínica da homeopatia disponível atualmente não gera recomendações positivas para o seu uso na prática clínica”. Mesmo assim homeopatas no mundo ficaram chocados com essa notícia recente e agora estão batalhando para menosprezá-la ou silenciá-la.</span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">A reação é tão surpreendente quanto ridícula. A conclusão de que remédios homeopáticos altamente diluídos são puro placebo já havia sido obtida pela total implausibilidade das teorias de Hahnemann de que o similar cura similar e que a diluir um remédio não o deixa mais fraco e sim mais forte. Oliver Wendell Holmes, por exemplo, escreveu em 1842 que homeopatia é uma “massa misturada de ingenuidade perversa, uma erudição de brilho superficial de crendice imbecil, e de má interpretação artística, que às vezes se mistura na prática... com imposição descarada e impiedosa. </span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">Homeopatas, entretanto, contra-atacaram afirmando que nos últimos 200 anos a ciência ainda não conseguiu explicar como a homeopatia funciona, em outras palavras, que os homeopatas estão à frente do seu tempo. O fato, entretanto, é que cientistas sempre foram capazes de afirmar que não pode haver uma explicação para homeopatia que não seja contrária à ciência. </span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">“A prova está no uso dos pacientes”, os homeopatas afirmam, “se os pacientes melhoram com a homeopatia, ela funciona independente do que a ciência nos diz!” Também já foi mostrado que esse argumento não se baseia em nada além das ilusões dos homeopatas. Pacientes melhoram pelo encontro com o terapeuta, do efeito-placebo e por outras razões não relacionadas com as bolinhas de açúcar prescritas por homeopatas. Para oferecer esses benefícios a seus pacientes, médicos não precisam de placebo. Administrar tratamentos realmente eficazes com compaixão fará os pacientes se beneficiar tanto dos efeitos específicos quanto dos efeitos inespecíficos da terapia em questão. Isso quer dizer que usar placebo como a homeopatia é antiético e equivale a trair o paciente.</span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">Dada a abundante evidência contra a homeopatia, parece que é o momento para agir. Não há mais razão para consumidores, pacientes, políticos, jornalistas, etc acreditarem na homeopatia. Pretender que há espaço para um debate legitimo é apenas enganar o público. Também não há razão de ter homeopatia no serviço público de saúde, pagar por hospitais homeopatas ou investir em mais pesquisas. Após pesquisar esse tema por mais duas décadas, estou convencido que o único lugar legítimo para a homeopatia é nos livros de história.</span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;">--- </span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 22.08px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-84254407242364136222015-11-07T16:40:00.001-02:002016-03-31T16:57:08.001-03:00Entrevista com Dr. Chris French<b>por David Webb</b><br />
tradução: Felipe Nogueira<br />
Fonte: http://www.all-about-psychology.com/chris-french.html<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Chris French, Ph.D., é professor de psicologia e diretor da Unidade de Pesquisa de Psicologia Anomalística em Goldsmiths, na Universidade de Londres. Ele é renomado por sua pesquisa na psicologia da crença no paranormal, especialmente no seu trabalho que oferece explicações não paranormais para experiências consideradas paranormais (percepção extrassensorial, telecinese, leituras psíquicas, cura espiritual, medicina alternativa e complementar, experiências extracorpóreas e de quase-morte, astrologia e outras técnicas divinatórias, reencarnação, OVNIs e abduções alienígenas, fantasmas e espíritos demoníacos, poder do cristal e dowsing, etc). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Consultor especial e ex-editor chefe da <i><a href="http://www.skeptic.org.uk/" target="_blank">The Skeptic Magazine</a></i>, a principal e mais antiga revista cética do Reino Unido, Professor French é frequentemente chamado pela mídia para oferecer uma perspectiva psicológica sobre várias afirmações paranormais. Ele também é colunista das páginas online de ciência do jornal <i>Guardian</i>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O que fez você perseguir um interesse acadêmico na psicologia das crenças paranormais? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Afirmações paranormais sempre me fascinaram. Até meus 20 anos, na verdade, eu acreditava em muitos fenômenos paranormais. Foi lendo um livro específico no início dos anos 80, <i>Parapsychology: Science or Magic? </i>escrito por James Alcock, que meus olhos abriram para o fato de que existem plausíveis explicações não paranormais para experiências paranormais, muitas das quais apoiadas por boas evidências empíricas. Meu interesse aumentou com a leitura de livros escritos por Ray Hyman, James Handi, Martin Gardner e outros. Assinei a revista americana <i>Skeptical Inquirer</i> e na revista britânica <i>The</i> <i>Skeptic</i> (conhecida como a Skeptic britânica e irlandesa).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Embora, eu estivesse fascinado pela abordagem cética ao paranormal e às outras pseudociências, por um grande período, meu interesse era mais do que um hobby pessoal. Eu dei palestras ocasionais nesse tópico, mas não estava ativamente pesquisando na área relacionada ao meu interesse. Na época, a psicologia anomalística não era vista como um área respeitável para pesquisa séria - afinal, esses tópicos eram discutidos na TV!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com benefício da retrospectiva, podemos ver que as atitudes começaram a mudar lentamente, graças aos esforços pioneiros de pessoas como Susan Blackmore, Robert Morris e Richard Wiseman, mas foi apenas em 1992 que eu publiquei meus primeiros artigos acadêmicos nessa área. Até mesmo nessa época, eu sentia que meu interesse nas "coisas estranhas" era tolerado mas não encorajado e eu me certificava de também publicar artigos em áreas mais tradicionais da pesquisa em psicologia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não tenho muita certeza de quando eu decidi focar minha pesquisa completamente na psicologia anomalística, mas claramente isso aconteceu em algum momento. Eu comecei a lecionar um módulo opcional sobre psicologia anomalística como parte do programa de Bacharelado da Goldsmiths em 1995 e criei a Unidade de Pesquisa em Psicologia Anomalística em 2000. Uma das razões de criar essa unidade foi para levantar o perfil acadêmico da psicologia anomalística e, junto com isso, sua respeitabilidade acadêmica. Gosto de pensar que fomos bem-sucedidos nesses objetivos. Atualmente, quase toda minha pesquisa e atividades acadêmicas estão na área de psicologia anomalística. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por que as crenças paranormais entre o público são tão disseminadas? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Há vários fatores que possuem um papel na popularidade nas crenças paranormais, mas eu acredito que o mais importante é a história evolucionária. Vários vieses cognitivos parecem estar associados com a crença no paranormal, como a nossa tendência à detecção de padrões significativos na aleatoriedade, em perceber ilusórias relações de causa e efeito, e assumir que tudo acontece porque alguém ou alguma coisa - algum agente externo consciente - queria que acontecesse. Todas essas tendências ocorrem porque estamos aplicando tendências cognitivas que, durante a nossa longa história evolucionária, nos ajudaram a ficar vivos por nos alertarem das potenciais ameaças em nosso ambiente. Dessa forma, passamos nossos genes para a próxima geração. Mas, quando essas mesmas tendências são aplicadas inadequadamente, elas podem resultar na crença em forças paranormais, terapias alternativas inúteis, fantasmas e outros seres espirituais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, não há dúvida de que pessoas têm experiências estranhas, como experiências extracorpóreas, experiências de quase morte, e paralisia do sono, e isso apoia certos sistemas de crença paranormal. Há também o papel de sistemas culturais de crença, especialmente religiões, que também promovem crenças paranormais de várias maneiras. O vies cognitivo mais difuso é o do viés da confirmação. Nós todos achamos fácil acreditar nas coisas que gostaríamos que fossem verdade. Quando estamos falando, por exemplo, de crença na vida após a morte, a evidência para nos convencer que é real não precisa ser tão forte para aceitarmos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>De todas as crenças e experiências paranormais rotuladas como paranormais, quais são as mais comuns?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Há, é claro, variações entre culturas, tanto historicamente quanto geograficamente, mas em sociedades ocidentais modernas normalmente entre 30-50% da população adulta endossam a crença em um ampla variedade de fenômenos paranormais incluíndo vida após a morte, fantasmas, comunicação com mortos, telepatia, e sonos precognitivos. Uma menor mas ainda substancial parte afirmam que tiveram experiências pessoais desse fenômenos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Você já investigou uma experiência "paranormal" que não poderia ser explicada em termos de fatores físicos e psicológicos </b><b>conhecidos ou conhecíveis</b><b>?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Não estou afirmando que eu posso oferecer explicações não paranormais para cada e toda afirmação paranormal que já foi feita - e ninguém deveria afirmar isso também. Normalmente, ninguém está investigando a experiência ou o evento propriamente dito, mas o relato de alguém dessa experiência ou evento. Quem está afirmando pode ser completamente sincero, mas sabemos bem que a memória pode ser notoriamente não confiável. E é claro que fraudes intencionais ocasionalmente ocorrem. Então, afirmações anedóticas nunca serão suficientes para me convencer de que um fenômeno paranormal ocorreu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Resultados de experimentos controlados poderiam me convencer de que forças paranormais realmente existem. Mas, até hoje, parapsicólogos falharam em obter um único fenômeno paranormal que pode ser replicado de forma confiável. Para mim, isso fala muito alto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu normalmente encontro que, com algumas exceções, afirmações paranormais ficam menos e menos convincentes à medida de que alguém entra nos detalhes da afirmação. Mas uma parte importante do ceticismo é estar sempre aberto à possibilidade de que novas evidências apareçam e provam alguém errado. Por essa razão, continuaremos a testar afirmações paranormais da forma mais justa possível, apesar do fato de que nenhum dos nossos testes anteriores sequer produziu alguma evidência convincente para apoiar crenças paranormais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Na sua coluna nas páginas de ciência online do <i>The Guardian</i>, você publicou artigos sobre o efeito ideomotor. Pode nos contar mais a respeito desse fenômeno psicológico?</b><br />
Um número de afirmações paranormais e relacionadas são explicadas plausivamente no contexto do efeito ideomotor, isso é, movimentos musculares não conscientes. Em todos os casos do efeito ideomotor, os movimentos musculares não conscientes foram causados pela crença ou sugestão. Fenômenos paranormais que podem ser explicados pelo efeito ideomotor incluem:<br />
<br />
<ul>
<li><b>Inclinação da mesa:</b> isso era uma mania Vitoriana envolvendo pessoas sentadas tentando a comunicação com espíritos através do posicionamento das mãos em cima de mesas de madeira redondas. Diziam que o movimento da mesa era causado por espíritos, mas o físico Michael Faraday provou conclusivamente que as pessoas sentadas estavam involuntariamente causando o movimento. </li>
<li><b>Tabuleiro Ouija :</b> outro alegado meio de comunicação com espíritos, nesse caso as pessoas sentadas colocam seus dedos em um tabuleiro que se move respondendo às perguntas, indicando letras, números e as palavras "sim" e "não", posicionadas ao redor do tabuleiro. </li>
<li><b>Dowsing:</b> uma técnica usada para diferentes propósitos, como encontrar águas em locais secos, determinar o sexo de uma criança que ainda não nasceu, e comunicação com espíritos. Diferentes métodos existem para dowsing usando dispositivos como varetas na forma de L ou Y, ou pêndulos, mas em todos os casos um pequeno movimento feito pelo dowser é convertido em um grande movimento pelo sistema em uso. Dizem que o movimento do sistema fornce a a informação requisitada. Testes duplo-cego mostrou repetidamente que isso não acontece. </li>
</ul>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quais que você considera como os desenvolvimentos mais significativos da disciplina desde que você fundou a Unidade de Pesquisa em Psicologia Anomalística?</b><br />
Acho justo dizer que não houve nenhuma descoberta fantástica na área, mas tem o que tem ocorrido é uma acumulação de conhecimento como é refletido, ano após ano, pelo crescente número de artigos publicados, livros, conferências.<br />
Ocorreu um aumento no ensino dos tópicos de psicologia anomalística em todos os níveis, não é por menos, porque provê um veículo interessante para favorecer as habilidades de pensamento crítico. Então, o que eu acho mais gratificante é a aceitação geral de que os tópicos abordados pela psicologia anomalística são considerados por quase todo mundo merecedores de estudo científico adequado.<br />
<br />
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-OfQD_7RGpKw/Viy9XDJywFI/AAAAAAAABh8/c2M2OAS1DJg/s1600/Anomalistic-Psychology-Exploring-Paranormal-Belief-and-Experience.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-OfQD_7RGpKw/Viy9XDJywFI/AAAAAAAABh8/c2M2OAS1DJg/s200/Anomalistic-Psychology-Exploring-Paranormal-Belief-and-Experience.jpg" width="131" /></a><b>Pode nos falar sobre o livro que você co-autorou com Anna Stone, <i>Psicologia Anomalística: Explorando a Crença e Experiência Paranormais</i> (<i>Anomalistic Psychology: Exploring Paranormal Belief and Experience</i>) ?</b><br />
<br />
Esse livro é uma tentativa de fornecer um rápido retrato do estado da arte da psicologia anomalística considerando cada uma das maiores subdisciplinas da psicologia em relação aos <i>insights</i> que podem oferecer para nos ajudar a entender crenças e experiências paranormais. Psicólogos cognitivos descreveram vários tipos de vieses relevantes para explicar porque as pessoas algumas vezes interpretam equivocadamente experiências como se envolvessem forças paranormais, quando na verdade não envolvem.<br />
<br />
Psicólogos sociais descreveram mecanismos pelos quais crenças são transmitidas entre indivíduos. Psicólogos do desenvolvimento oferecem <i>insights</i> nos entendimentos das crianças em crenças supersticiosas e mágicas. A neurociência pode explicar muitas experiências paranormais em termos do que está ocorrendo no cérebro. Acredito que esse foi o primeiro livro que adotou essa abordagem e acho que enfatiza a necessidade de considerar muitos aspectos diferentes das ricas e bizarras experiências que constituem fenômenos supostamente paranormais.<br />
<br />
<b>Qual recomendação você daria para alguém interessado em se tornar um psicólogo anomalístico? </b><br />
É essencial ter uma base boa em psicologia como um todo, incluindo métodos de pesquisa e estatística, antes de especializar-se em psicologia anomalística. Isso é melhor feito estudando psicologia na faculdade e provavelmente seguido de um mestrado em métodos de pesquisa. Tanto no bacharelado quanto no mestrado, escolha tópicos de projetos dentro da psicologia anomalística. O próximo passo seria aplicar para um Doutorado investigando seu tópico escolhido dentro da área. Depois disso, encontre um trabalho acadêmico onde possa fazer pesquisa em qualquer tópico do seu interesse - dado que você esteja fazendo pesquisa de alta qualidade com um padrão publicável. Falar desse jeito faz parecer tudo muito fácil e simples, mas é claro que não é!<br />
<br />
E saiba que sempre haverá uma demanda muito maior para palestras em subdisciplinas mais tradicionais da psicologia em contraste com áreas de nicho como a psicologia anomalística. No final, pesquisadores frequentemente trabalham nas suas áreas escolhidas simplesmente porque é onde seus interesses estão, não importando quais barreiras são colocadas na frente deles - e isso certamente se aplica à minha carreira de pesquisa.<br />
<br />
<b>Em quais os projetos de pesquisa você está trabalhando atualmente? </b><br />
Como sempre, temos diferentes projetos em diferentes etapas de desenvolvimento, mas as três áreas que ocupam a maior parte de nossos esforços de pesquisa no momento são a psicologia da crença em conspirações, memórias falsas, e paralisia do sono. Além da pesquisa propriamente dita, trabalhamos muito para o engajamento do público, através de cooperação com a mídia, organizando e contribuindo com conferências e palestras, e colaborações que misturam ciência com arte. Não há sinais de que o fascínio do público com a psicologia anomalística irá diminuir num futuro próximo. <br />
<br />
-------------------<br />
Nota do Tradutor: meu post sobre psicologia anomalística e sobre o livro de Chris French e Anna Stone está disponível <a href="http://ceticismoeciencia.blogspot.com.br/2015/01/psicologia-anomalistica.html" target="_blank">aqui</a><br />
<br />
<br />
</div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-3133771922767320642015-09-11T13:27:00.001-03:002015-09-21T12:22:26.450-03:00Todos os Cientistas Deveriam Ser Ateus Militantes<b>por Lawrence M. Krauss</b><br />
tradução: Felipe Nogueira<br />
fonte: <a href="http://www.newyorker.com/news/news-desk/all-scientists-should-be-militant-atheists" target="_blank">The New Yorker</a><br />
<b><br /></b>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Como um físico, escrevo e palestro publicamente sobre a natureza surpreendente do nosso cosmos, principalmente por acreditar que a ciência é uma parte da nossa herança cultural e que precisa ser compartilhada de forma mais abrangente. Às vezes, me refiro ao fato de que a ciência e a religião estão frequentemente em conflito; ocasionalmente, eu ridicularizo dogmas religiosos. Ao fazer isso, sou publicamente acusado de ser um "ateu militante". Até mesmo um número surpreendente dos meus colegas perguntam educadamente se não seria melhor evitar alinear pessoas religiosas. Não deveríamos respeitar questões religiosas, mascarando possíveis conflitos, buscando um entendimento comum com os religiosos, para criar um mundo melhor e mais igual? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pensei sobre essas questões nesta semana quando vi a história da Kim Davis, uma funcionária judicial do estado de Kentucky que se recusou a registrar casamentos entre homossexuais, desobedecendo diretamente uma ordem de um juiz federal, e, como consequência, foi presa por desacato. (Ela já foi liberada). Os defensores da Davis, entre eles o senador de Kentucky e também candidato à Presidência Rand Paul, estão protestando contra o que eles acreditam ser uma ameaça à liberdade religiosa dela. É um "absurdo colocar alguém na cadeia por exercer sua liberdade religiosa", <a href="http://talkingpointsmemo.com/livewire/rand-paul-kim-davis-custody-reaction" target="_blank">disse</a> Paul, na CNN.<br />
<br />
A história da Kim Davis levanta uma pergunta básica: Até que ponto devemos permitir as pessoas quebrarem a lei, caso suas visões religiosas e a lei sejam conflitantes? É possível levar a pergunta a um extremo que até o Senador Paul acharia um absurdo: imagine, por exemplo, um jihadista cuja interpretação do Koran sugere que ele pode decapitar infiéis e apóstatas. Ele poderia quebrar a lei? Ou - para considerar um caso menos extremo - imagine um funcionário judicial muçulmano fundamentalista que não permite homens e mulheres não casados entrarem juntos no tribunal, ou que não registre o casamento de mulheres sem burca. Para Rand Paul, o que separa esses casos do caso da Kim Davis? A grande diferença, eu suspeito, é que o Senador Paul concorda com a visão religiosa de Kim Davis, mas discorda das visões do hipotético islâmico fundamentalista.<br />
<br />
O problema, obviamente, é que o considerado sagrado para uma pessoa pode ser considerado insignificante (ou repugnante) para outra pessoa. Essa é uma das razões pelas quais uma sociedade secular moderna geralmente legisla contra ações, não contra idéias. Nenhuma ideia ou crença deve ser ilegal; por outro lado, nenhuma ideia deve ser tão sagrada que justifique legalmente ações que de outra forma seriam ilegais. A Davis é livre para acreditar no que quiser, assim como o jihadista é livre para acreditar no que quiser; em ambos os casos, a lei não restringe suas crenças, mas sim suas ações.<br />
<br />
Nos últimos anos, esse território cresceu de forma nebulosa. Sob a bandeira de <a href="http://www.washingtonpost.com/news/acts-of-faith/wp/2015/04/01/10-things-you-need-to-know-to-really-understand-rfra-in-indiana-and-arkansas/" target="_blank">liberdade religiosa</a>, indivíduos, estados, e até mesmo - no caso da <i><a href="http://www.newyorker.com/news/daily-comment/hobby-lobbys-troubling-aftermath" target="_blank">Hobby Lobby</a></i> - corporações argumentam que eles deveriam ser isentos da lei por razões religiosas. (As leis que eles pedem isenção não são focadas em religião; elas tem a ver com <a href="http://www.newyorker.com/news/news-desk/(Often,%20the%20laws%20from%20which%20they%20wish%20to%20claim%20exemption%20have%20to%20do%20with%20social%20issues,%20such%20as%20abortion%20and%20gay%20marriage.)" target="_blank">questões sociais</a>, como aborto e casamento gay.) O governo tem um interesse em garantir que todos os cidadãos sejam tratados igualmente. Mas defensores da "liberdade religiosa" argumentam que ideais religiosos deveriam ser colocados acima dos outros como uma justificativa para suas ações. Numa sociedade secular, isso não é apropriado.<br />
<br />
A controvérsia da Kim Davis existe porque, como uma cultura, temos elevado o respeito pelas sensibilidades religiosas a um nível tão desapropriado que torna a sociedade menos livre, não mais. Liberdade religiosa deveria significar que nenhum conjunto de ideais religiosos seriam tratados de forma diferente de outros ideais. Leis cujo único propósito é denegrir ideais religiosos não deveriam ser aprovadas, mas, de forma similar, as leis não deveriam elevar ideais religiosos.<br />
<br />
Na ciência, é claro, a palavra "sagrada" é profana. Nenhuma ideia, religiosa ou não, ganha passa livre. A noção de que uma ideia ou conceito não pode ser questionada ou atacada é uma execração a todo empreendimento científico. Esse compromisso com o questionamento aberto está totalmente ligado com o fato de que a ciência é um empreendimento ateísta. "Minha prática como um cientista é ateísta", escreveu o biólogo J.B.S. Haldane, em 1934. "Isso quer dizer, quando eu faço um experimento, eu assumo que nenhum deus, anjo, ou demônio vai interferir no seu curso e essa assunção foi justificada pelo tamanho sucesso que obtive na minha carreia profissional". É irônico, realmente, que muitas pessoas são vidradas na relação entre a ciência e religião: basicamente, não há nenhuma relação. Em mais de 30 anos como um físico praticante, eu nunca ouvi a palavra "Deus" ser mencionada em um encontro científico. Acreditar ou não em Deus é irrelevante para o entendimento do funcionamento da natureza - assim como é irrelevante para a questão se cidadãos são ou não obrigados a seguirem a lei.<br />
<br />
Como a ciência afirma que nenhuma ideia é sagrada, é inevitável que afaste as pessoas da religião. Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do universo, mais sem propósito o universo parece. Cientistas possuem a obrigação de não mentir sobre o mundo natural. Mesmo assim, para evitar ofender, cientistas às vezes dizem que as atuais descobertas estão em plena harmonia com doutrinas religiosas pré-existentes, ou permanecem em silêncio, ao invés de apontarem as contradições entre a ciência e a doutrina religiosa. É uma inconcistência estranha, uma vez que cientistas frequentemente discordam de outros tipos de crença. Astrônomos não têm nenhum problema em ridicularizar as afirmações dos astrólogos, mesmo que uma grande parte do público acredite nessas afirmações. Médicos não possuem problema em condenar as ações dos ativistas da anti-vacinação que põem crianças em perigo. No entanto, por razões de conveniência, muitos cientistas se preocupam que ridicularizar certas afirmações religiosas afasta o público da ciência. Quando eles fazem isso, eles estão sendo, no melhor dos cenários, condescendentes, ou, no pior, hipócritas. <br />
<br />
Esse silêncio tem consequências significativas. Considere o exemplo da organização americana <i>Planned Parenthood</i>. Legisladores americanos estão pedindo um término governamental a não ser que os fundos federais destinados para a Planned Parenthood sejam removidos do orçamento do ano fiscal que começa em Outubro. Por que? Porque a Planned Parenthood fornece amostras de tecido fetal obtido em abortos para pesquisas científicas na esperança de curar doenças, desde Alzheirmer até câncer. (Armazenar e manter os tecidos em segurança exige recursos e a Planned Parenthood cobra os pesquisadores pelos custos.) É claro que muitas pessoas que protestam contra a Planned Parenthood são opostas ao aborto por razões religiosas e são, em graus variados, anti-ciência. Isso deveria calar a boca dos cientistas pelo risco de ofendê-los ou afastá-los ainda mais? Ou deveríamos nos manifestar sinalizando que, independente do que as pessoas consideram sagrado, esse tecido seria jogado fora embora pudesse ajudar ou salvar vidas? <br />
<br />
Finalmente, quando hesitamos questionar abertamente as crenças, por não queremos correr o risco de ofender, o próprio questionamento torna-se um tabu. Por isso, me parece que a necessidade dos cientistas de se manifestarem publicamente é ainda mais urgente. Como resultado de falar sobre questões da ciência e religião, eu escuto de muitos jovens a vergonha e ostracismo que passaram simplesmente por questionar a fé de suas famílias. Em alguns casos, eles tiveram seus direitos e privilégios proibidos porque suas ações confrontaram a fé de outras pessoas. Cientistas precisam estar preparados para demonstrar, através de exemplos, que questionar o que é considerado como verdade, especialmente a "verdade sagrada", é uma parte essencial de viver em um país livre.<br />
<br />
Eu vejo uma relação direta entre a ética que guia a ciência e a que guia a vida civil. Cosmologia, a minha especialidade, pode aparentar estar bem distante da recusa da Kim Davis em registrar casamentos a casais gays, mas na realidade os mesmos valores se aplicam em ambos os casos. Sempre que afirmações científicas são apresentadas como inquestionáveis, elas enfraquecem a ciência. De forma similar, quando ações ou afirmações religiosas relacionadas à santidade são feitas sem impunidade na nossa sociedade, nós enfraquecemos a base da democracia secular moderna. Devemos a nós e às nossas crianças não permitir que governos - totalitários, teocráticos ou democráticos - endorsem, encorajam, forcem, ou legitimizem a supressão do questionamento aberto com objetivo de proteger ideias consideradas "sagradas". Quinhentos anos de ciência liberaram a humanidade das correntes da ignorância forçada. Deveríamos celebrar isso aberta e entusiasticamente, independente de quem vamos ofender.<br />
<br />
Se isso é o que faz alguém ser chamado de ateu militante, nenhum cientista deveria se envergonhar do rótulo. <br />
<br />
<br /></div>
Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2435868798900605194.post-81528965921576536442015-08-23T16:00:00.002-03:002016-01-12T19:16:51.925-02:00Destruindo Mitos Sobre as Drogas. Entrevista com Carl Hart <i>Where Drug Myths Die. An Interview with Carl Hart</i><br />
publicado na <a href="http://www.skeptic.com/magazine/" target="_blank"><i>Skeptic</i> volume 20 number 2</a> (<a href="http://skepticismandscience.blogspot.com.br/2015/11/where-drugs-myths-die.html" target="_blank">original published article here</a>)<br />
<br />
<br />
por Felipe Nogueira<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tmLVk-YD-Gk/VXCls_qY1yI/AAAAAAAABbQ/90nacMLzBVM/s1600/Skeptic20n02-cover.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black;"></span></a></div>
<br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05">
</span>
<br />
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="clear: right; color: black; font-family: inherit; line-height: 1.2; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="http://www.skeptic.com/magazine/archives/20.2/" target="_blank"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-tmLVk-YD-Gk/VXCls_qY1yI/AAAAAAAABbQ/90nacMLzBVM/s320/Skeptic20n02-cover.jpg" width="245" /></a></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://www.skeptic.com/magazine/archives/20.2/" target="_blank">Entrevista com Hart: matéria de capa da <i>Skeptic</i> </a></td></tr>
</tbody></table>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 19.2000007629395px; white-space: pre-wrap;">Carl Hart é um professor associado dos departamentos de Psicologia e Psiquiatria da Universidade de Columbia e pesquisador da Divisão de Abuso de Substâncias do Instituto de Psiquiatria do Estado de Nova York. Ele é membro do <i>National Advisory Council on Drug Abuse</i> e compõe a junta de diretores do <i>College on Problems of Drug Dependence</i> e da <i>Drug Policy Alliance</i>. Após receber seu bacharelado em psicologia na Universidade de Maryland e seu doutorado em psicologia experimental e neurociência na Universidade de Wyoming, Hart publicou vários artigos em jornais científicos de prestígio pelos quais ele foi nominado <i>Fellow</i> pela Associação Americana de Psicologia (<i>American Psychological Association</i>). Em 2012, ele escreveu, junto com Charles Ksir, o livro-texto <i>Drugs, Society, and Human Behavior</i> (publicado pela editora McGraw-Hill), que é bastante considerado na área.
Como um neuropsicofarmacologista, Dr. Hart pesquisa os efeitos das drogas na psicologia e no comportamento humano. Por exemplo, o objetivo de um de seus experimentos foi entender como usuários de crack responderiam ao terem de escolher entre a droga e outra opção atraente – dinheiro. O experimento de Hart relevou, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, que usuários de drogas podem agir racionalmente, escolhendo outras opções atraentes além de drogas destrutivas. Então, o modelo médico que considera a dependência uma doença não está totalmente preciso, quando comparado com a AIDS ou câncer, onde os pacientes não escolhem em não ter a doença. Muitas pessoas abandonam o uso de drogas, mesmo os que eram viciados. A pergunta é por que? </span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 19.2000007629395px; white-space: pre-wrap;">
Ser um cientista que estuda as drogas é apenas uma parte da história pessoal fascinante de Hart com as drogas. Ele foi criado em um bairro pobre de Miami, onde na escola ele não apenas usou drogas, mas como também vendeu maconha e no processo cometeu crimes leves. Para piorar a situação, a maioria de seus familiares não reconhecia o valor de uma educação formal. Ele acabou se juntando às Forças Armadas americanas, o que lhe deu uma apreciação maior da importância do conhecimento, especialmente conhecimento científico e a habilidade de pensar criticamente, o que o levou, eventualmente, a ser o primeiro professor afro-americano titular de ciência na Universidade de Columbia.
Em 2013, ele publicou <i>Um Preço Muito Alto: A Jornada de Um Neurocientista Que Desafia Nossa Visão Sobre Drogas</i>*, um livro que descreve a pesquisa, mitos, leis e política pública sobre as drogas escrito para uma audiência geral. O livro é também um memoir, onde ele discute sua vida pessoal e como se tornou o cientista que é hoje. <i>Um Preço Muito Alto</i> recebeu o prêmio PEN E.O. Wilson de Escrita Cientifica Literária de 2014. Desde então, Hart tem aparecido como convidado em programas de entrevistas, como o <i>Real Time</i> apresentado por Bill Maher na HBO. No programa do dia 27 de setembro de 2013, o anfitrião fez seu habitual apelo pela legalização da maconha, no qual Dr. Hart adicionou que cocaína, heroína e meta-anfetaminas também deveriam ser descriminalizadas, para os usuários conseguirem a ajuda que precisam e para esvaziarmos nossas prisões desses autores de crimes sem vítimas. Hart ensinou o Bill O’Reilly sobre fatos relacionados ao vício, ressaltando que os últimos três presidentes dos Estados Unidos fumaram maconha na juventude e que, de fato, o uso de maconha entre alunos americanos do ensino médio caiu de 37% em 1978 para 22% atualmente (O’Reilly insistiu que o uso tinha aumentado, no qual Dr. Hart respondeu de forma direta “você está errado”).
Nesse sentido, Carl Hart é um destruidor de mitos sobre drogas e vício, e um verdadeiro cético em relação à pseudociência e falta de sentido que permeiam as atitudes dos Estados Unidos no que diz respeito às drogas e aos viciados em drogas.</span></span></div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05">
</span>
<br />
<div dir="ltr" style="font-family: inherit; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05">
</span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; font-family: inherit; text-align: center;">
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><a href="http://www.skeptic.com/magazine/archives/20.2/" target="_blank"><img border="0" height="150" src="http://3.bp.blogspot.com/-3ygd8aJQpM4/Vdf3jWLK3TI/AAAAAAAABe8/IIIuWV5pjSo/s400/Skeptic_20.2_banner-homepage.jpg" width="400" /></a></span></div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05">
</span>
<br />
<div dir="ltr" style="font-family: inherit; line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05">
</span>
<br />
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><b><i>Skeptic: </i>As pessoas acreditam que a maconha é uma “porta de entrada” para outras drogas. É mesmo?</b></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Hart: </i>Tudo depende do que as pessoas chamam de “porta de entrada”. As pessoas normalmente querem dizer que a maconha leva ao uso de drogas mais pesadas e isso não é verdade. É verdade que a maioria dos usuários de heroína e cocaína usou maconha antes de usar essas outras drogas. Mas o fato é que a maioria dos usuários de maconha não usa essas drogas. Então, não é uma porta de entrada; é ilógico fazer esse tipo de afirmação. Seria o mesmo que dizer que “os últimos três presidentes dos Estados Unidos usaram maconha antes de tornarem presidentes. Então, maconha é uma porta de entrada para a Casa Branca.” <i style="font-weight: bold;"> </i></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">
</i><b><i>Skeptic:</i> Aqueles que acabam usando crack e cocaína não usaram álcool ou cigarro antes da maconha? </b>
<b><i>Hart:</i></b> A maioria usou álcool e tabaco anteriormente, eles também beberam água ou comeram uma fruta. Os usuários de crack participam mais em pequenos delitos do que aqueles que usam apenas maconha. Então, podemos dizer que pequenos crimes são uma “porta de entrada” para drogas mais pesadas. Você pode pensar em diferentes comportamentos associados com as pessoas que usam heroína e chamá-los de porta de entrada, mas essa não é uma conclusão científica adequada de se fazer. </span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">
</i><b><i>Skeptic:</i> Existe diferença entre crack e cocaína?</b>
<b><i>Hart:</i></b> Farmacologicamente, não há diferença. A principal coisa que as pessoas estão buscando, ao usarem cocaína, é a base da cocaína. O pó da cocaína não possui apenas a base, contém também um hidrocloreto, o que o torna mais estável e diminui a chance de ser fumado. Se alguém quiser fumar, tem de remover o hidrocloreto, que não contribui para os efeitos biológicos da cocaína. Quando as pessoas estão descrevendo as diferenças entre crack e cocaína, o que elas estão descrevendo realmente é a diferença no modo como essas drogas são utilizadas. Ao fumar crack, os efeitos começam mais rápido do que cheirar o pó da cocaína. Mas é possível dissolver o pó da cocaína em água e injetar na veia e ter o mesmo efeito que você teria fumando crack.</span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">
</i><b><i>Skeptic:</i> Uma vez que chega ao cérebro mais rápido, crack não é mais viciante do que cocaína?
</b><i><b>Hart:</b></i> Fumar crack e injetar o pó da cocaína dissolvido em água chegam ao cérebro na mesma velocidade. No entanto, esse é um dos argumentos que alguns fizeram, mas não há outras drogas que punimos de acordo com a rota de administração, além de crack e cocaína. E nós fazemos essa distinção nos Estados Unidos, porque o crack foi associado com pessoas negras pobres. Ao olharmos para os anos 80, nenhuma droga produziu mais violência do que cocaína em pó, mas ninguém aprovou novas leis, em parte, porque as pessoas engajadas não eram negros e, sim, principalmente pessoas brancas. Como sociedade, nós não estamos sendo honestos em relação a isso.</span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">
</i><i><b>Skeptic:</b></i><b> As pessoas acham que apenas uma dose é suficiente para deixá-las viciadas. Pode explicar porque isso não é verdade?</b>
<i><b>Hart:</b></i> Por definição, vício em drogas é um comportamento que afeta suas funções psicossociais, seu trabalho, sua vida familiar e essas perturbações comportamentais precisam ocorrer em múltiplas ocasiões. Então, se você usou uma droga uma vez e foi afetado uma vez, por definição, isso não é um vício. Vício requer esforço. A utilização de qualquer droga uma única vez não deixará ninguém viciado. As pessoas fazem essa afirmação baseada numa hipérbole para atingir emocionalmente o ouvinte. </span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">
Skeptic:</i><span style="font-weight: bold;"> O quanto viciante é o tabaco em comparação com outras drogas? </span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>1 entre 3 (ou 33%) das pessoas que fumam cigarro ficarão viciadas. Por comparação, 15% daqueles que usam álcool ficam viciadas. A taxa na maconha é 10%. Já na heroína chega a 25%, enquanto cocaína (e crack) fica entre 15% e 20%.<i style="font-weight: bold;">
</i></span></span><br />
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><b>O psicofarmacologista David Nutt, autor do livro <i>Drugs Without the Hot Air</i>, publicou um estudo em 2010 que considerou o álcool a droga mais perigosa. Você concorda com isso?</b><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>Eu sou fã do trabalho do David e na sua defesa em educar o público, e eu admiro o que ele faz. Acho que ele tenta fazer o público entender que, quando pensamos se uma droga é tóxica, precisamos olhar para diferentes medidas. Em uma medida, o álcool pode ser visto como a droga mais tóxica. Por exemplo, quando pensamos na abstinência, quando as pessoas param abruptamente o uso prolongado de uma droga, o álcool é claramente a mais perigosa, porque você certamente pode morrer de abstinência alcoólica. Você não morre de abstinência de heroína, crack, cocaína, cigarro ou maconha. Tudo depende da medida que você está analisando ao determinar a toxicidade potencial de uma droga. <i style="font-weight: bold;">
</i></span></span><br />
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><b><i>Skeptic:</i> Escuto vários comentários sobre como as pessoas viciadas se comportam. Por exemplo, usuários de crack são “zumbis”. Não estou certo do que significa ser um “zumbi”, mas o que as pessoas estão pensando quando usam tais expressões para descrever o comportamento sob a influência de uma droga? Ou seja, como as pessoas viciadas se comportam de fato?
</b><i><b>Hart:</b></i> Sou um psicólogo que estuda o comportamento humano. Todo mundo se comporta de alguma maneira e pensamos que somos especialistas em entender o comportamento humano. Mas a maioria das pessoas não é especialista e isso é parte do problema com essas descrições subjetivas e anedóticas. As pessoas vêem alguém se comportando de forma errada e se elas sabem que essa pessoa usa alguma droga, elas concluem que o comportamento errado é causado pela substância. Não! Você não pode fazer essa conclusão. Há vários outros fatores que precisam ser considerados. É preciso considerar o histórico psicológico, se há ou não outras drogas envolvidas, se não dormiu, se a pessoa interagiu com alguém que a deixou nervosa, etc. As pessoas falham em não considerar esses fatores. Por isso que anedotas são insuficientes para fornecer boas explicações sobre comportamento.<b style="font-style: italic;"><br /></b></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><b><i>Skeptic:</i> Em um dos experimentos que você realizou, você ofereceu aos participantes, que eram usuários de drogas, duas escolhas: dinheiro e droga. O que você encontrou e o que significa?
</b><i><b>Hart:</b></i> Uma das coisas que as pessoas dizem sobre usuários de drogas, especialmente sobre viciados em drogas, é que eles apenas respondem à droga que eles usam: se você der a oportunidade para eles usarem as suas drogas, eles irão fazer isso acima de qualquer outra coisa. Foi um experimento simples, onde aumentávamos a quantidade de dinheiro que oferecíamos aos participantes. Encontramos que, quando aumentamos o valor monetário, a escolha dos participantes em usar a droga diminuía – eles escolheram o dinheiro; eles se comportaram racionalmente.<b style="font-style: italic;"><br /></b></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Por que as pessoas ficam viciadas?</span><i style="font-weight: bold;">
</i><i><b>Hart:</b></i> É uma pergunta difícil e uma pergunta que a ciência deveria estar focada. Recentemente, nos concentramos em achar mecanismos biológicos para o vício. Mas francamente não achamos nenhum que seja convincente. Então, precisamos olhar para outras coisas também, como a co-ocorrência de doenças psiquiátricas, depressão, ansiedade e esquizofrenia, que aumentam a probabilidade de uma pessoa ficar viciada. O vício é uma doença principalmente caracterizada por não controlar o seu comportamento em relação ao uso de drogas. Há pessoas que não controlam seus comportamentos nos mais variados domínios, não apenas com drogas, porque elas não aprenderam a fazer isso. Então, se essas pessoas usarem drogas, isso aumenta a chance de ficar viciado, porque o uso de drogas requer que a pessoa seja responsável, assim como dirigir um automóvel. Você não pode ser irresponsável dirigindo um automóvel; você pode se machucar e machucar outras pessoas. Não aprender essas responsabilidades aumenta a chance de uma pessoa ficar viciada. Se a pessoa não possuir uma alternativa na vida melhor que a droga, também aumenta chance do vício. Todos esses fatores são criticamente importantes quando estamos tentando determinar por que alguém ficou viciado em comparação com alguém que não ficou. <span style="font-weight: bold;"><i><br /></i></span></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><b><i>Skeptic:</i> Você mencionou mecanismos biológicos para o vício. Existe a hipótese da dopamina, mas no seu livro você mencionou que essa hipótese tem problemas. Poderia esclarecer?
</b><i><b>Hart:</b></i> Vamos falar sobre a versão simplista da hipótese da dopamina primeiro. Drogas como cocaína e anfetaminas aumentam dopamina, que aumenta o prazer. Então, pesquisadores disseram que os usuários de drogas estavam tentando aumentar seus níveis de dopamina. Foi uma teoria importante, porque nos ajudou a organizar diferentes tipos de experimentos, mas ela apareceu nos anos 60 quando tínhamos identificado apenas cinco ou seis neurotransmissores. Atualmente, conhecemos mais de 100 neurotransmissores e a teoria não foi atualizada de acordo. Aprendemos muito sobre a complexidade do cérebro na maneira como os neurotransmissores interagem entre si. Ao invés de um neurotransmissor ser liberado a cada vez, vários neurotransmissores são liberados juntos para produzir efeitos. E, às vezes, esses neurotransmissores estão co-localizados nas mesmas células. Essa teoria antiga da dopamina não leva em consideração esse novo conhecimento. Para mim, essa hipótese da dopamina é muito simples para explicar um comportamento complexo. E temos informações que podem ajudar as pessoas agora: A pessoa tem alguma doença? A pessoa é responsável? Podemos manipular várias variáveis e ajudar a pessoa agora; não podemos ajudar usuários de drogas imediatamente com a hipótese da dopamina, e não ajuda ninguém no tratamento, não ajuda em nada na prática. Estamos no nível em que a ciência está tentando entender e não estamos perto, se estivermos falando de dopamina.
<i style="font-weight: bold;"><br /></i></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><b><i>Skeptic:</i> E sobre tratamentos farmacológicos para dependência a drogas, como cocaína?
</b><i><b>Hart:</b></i> Foquei uma grande parte da minha carreira na tentativa de desenvolver medicações para ajudar as pessoas viciadas em cocaína, mas não tivemos sucesso em achar uma medicação eficaz. Parece que a melhor medicação para o vício da cocaína é a própria cocaína. Na Suíça, heroína é utilizada com sucesso para tratar vício em heroína. Quando pensamos sobre tratamento, há vários componentes que são necessários, não apenas o medicamento: apoio psicossocial, terapia para entender o vício da pessoa: essa pessoa tem trabalho? Tem uma rede social? Todos esses fatores são incorporados no programa de tratamento da heroína na Suíça, e tem sido um sucesso. Algo similar pode ser feito com cocaína, mas precisamos de todos esses componentes auxiliares.<b style="font-style: italic;"><br /></b></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Quais são os danos causados pelas anfetaminas? </span><i style="font-weight: bold;">
</i><i><b>Hart:</b> </i>A primeira lição que as pessoas deveriam saber é que há potenciais danos para todas essas drogas que estamos falando. No entanto, quando você enfatiza os danos, as pessoas que usam drogas param de ouvir, porque eles sabem que há outros efeitos (por isso que elas usam essas drogas). A principal preocupação com anfetaminas é que possuem um efeito poderoso no sistema cardiovascular; elas aumentam a pressão e a frequência cardíaca. Isso não é bom para pessoas com um sistema cardiovascular comprometido e elas não devem tomar doses elevadas de anfetaminas. Anfetaminas também afetam o sono e privação de sono pode causar diversos problemas físicos e psicológicos, mesmo sem uso de drogas. Anfetaminas também afetam a ingestão de alimentos, que é criticamente importante para o funcionamento adequado do corpo. Essas são as preocupações que as pessoas que usam anfetaminas devem estar cientes, ao invés de outras preocupações frequentemente enfatizadas pela mídia e até por cientistas. Sobre declínio cognitivo, anfetaminas são aprovadas para aumentar o funcionamento cognitivo para tratar déficit de atenção. Então, a ideia de que anfetaminas estão causando declínio cognitivo é simplesmente inconsistente com a história da ciência comportamental que temos com essas drogas. </span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Outra ideia que escutamos bastante é que a maconha ou a cocaína matam as células nervosas. Existe alguma evidência para isso?</span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>Qualquer droga psicoativa pode matar células do cérebro. No entanto, essas doses são tão altas que as drogas seriam tão desagradáveis que humanos não experimentariam de novo, caso sobrevivessem. Essas doses são 20-80 vezes a quantidade que as pessoas normalmente tomam. Além disso, não há evidência de que uso de longa duração de doses que humanos tomam normalmente produz neurotoxicidade. Neurotoxicidade certamente pode ocorrer, mas a chance de ocorrer com pessoas utilizando drogas em doses que humanos normalmente tomam é bem baixa.<b style="font-style: italic;"><br /></b></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Por que você defende a descriminalização das drogas ao invés da legalização?</span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>De todas as drogas que falamos, a nicotina, presente no cigarro, é provavelmente a droga que mata com a menor quantidade. 50 mg de nicotina matariam metade de nós. Em contraste, com 50 mg de cocaína ou heroína, você apenas se sente muito bem. Então, precisamos pensar por que a nicotina é legal mesmo se tão pouco é capaz de matar pessoas. É legal porque temos estruturas sociais, temos educação sobre a nicotina, e sabemos como manter as pessoas seguras. Um cigarro contem 1 mg de nicotina e um maço contém 20 cigarros. É necessário que as pessoas fumem diversos maços imediatamente para se matarem. Nós embalamos a nicotina de uma maneira que substancialmente diminui a chance das pessoas se machucarem. Precisamos descobrir como embalar as outras drogas e educar as pessoas de uma maneira que elas fiquem seguras. Não fizemos isso ainda, porque não temos as estruturas sociais necessárias. Eu vejo a descriminalização, em parte, como um passo intermediário para a regulamentação, como regulamos álcool e cigarro. Mas precisamos ter essas estruturais sociais para manter as pessoas seguras, porque todas essas drogas são potencialmente perigosas, embora todas possam ser usadas com segurança. </span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Podemos comparar diferentes locais (países, estados, cidades) com leis de drogas diferentes (proibido, descriminalizado, legalizado) em relação a diferentes desfechos, como taxa de uso de drogas, taxa de mortes e homicídio relacionados às drogas, além de crime. O que pode ser dito sobre esses tipos de medidas? Isso é, qual o impacto de descriminalização e legalização nesses desfechos? </span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>Acho que a comparação entre Portugal e Estados Unidos é instrutiva nessa questão. Em 2001, Portugal descriminalizou todas as drogas incluindo heroína e cocaína. Eles aumentaram o gasto em prevenção e tratamento, e diminuíram o gasto para processamento criminal e aprisionamento. O número de mortes ligadas às drogas caiu, assim como a taxa de uso de drogas, especialmente entre pessoas jovens (15-24 anos). Em geral, as taxas de uso de drogas em Portugal são similares, ou um pouco melhores, do que outros países da União Europeia, e eles estão melhores do que os Estados Unidos. Em outras palavras, a descriminalização de Portugal foi um sucesso. Não parou o uso ilegal de drogas, mas isso seria um expectativa irrealista. Os portugueses ficam ainda ficam “chapados”, assim como seus contemporâneos e todas as sociedades humanas antes deles. Mas parece que eles não têm mais o problema de estigmatizar, marginalizar, e encarcerar uma grande proporção de seus cidadãos por pequenas violações de drogas. Essas são algumas das razões que eu acho que regulamentação ou até mesmo legalização devem ser consideradas como opções nos Estados Unidos. <i style="font-weight: bold;"><br /></i></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Se você fosse o diretor de políticas de controle de drogas nos Estados Unidos, quais seriam suas políticas de curto e longo prazo? </span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>Primeiro, eu trabalharia para descriminalizar todas as drogas para que as pessoas não corressem o risco de serem presas por posse de drogas. Muitos de nossos cidadãos estão definhando na prisão desnecessariamente por violações referentes ao uso de drogas. Também trabalharia para mudar a educação sobre as drogas de uma maneira que não seria mais aceitável exagerar os danos como uma tática para colocar medo. A primeira função da educação seria manter nossos cidadãos seguros. Em longo prazo, eu trabalharia para regular as drogas para diminuir as chances de usuários obterem e usarem drogas adulteradas com substâncias mais perigosas que as próprias drogas. Meu maior objetivo como diretor seria manter a população segura, com entendimento de que as pessoas usarão drogas, como humanos sempre fizeram.<i style="font-weight: bold;"> </i></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;"><br /></i></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Qual foi seu objetivo ao escrever <i>Um Preço Muito Alto</i>?</span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>O objetivo foi comunicar com o público em geral. O primeiro objetivo da comunidade científica é manter o financiamento do laboratório e, algumas vezes, isso é inconsistente com os interesses mais amplos da sociedade. A pesquisa em abuso de drogas foca principalmente nos efeitos ruins das drogas, porque o maior financiador é o Instituto Nacional do Absuso de Drogas (<i>National Institute for Drug Abuse</i>), que financia 90% da pesquisa mundial nessa área. O Instituto Nacional do Abuso de Drogas está focado nas coisas ruins que acontecem com o uso de drogas e cientistas são influenciados por esse objetivo. A sociedade tem o objetivo de ficar segura e cientistas tem o objetivo “não use essas drogas”, então é inconsistente. Ao escrever o livro, queria fazer o público entender que o objetivo deles e o objetivo do cientista são diferentes, que os o objetivos do publico e do policial são diferentes, e que o objetivo do público também é diferente do objetivo do jornalista que escreve histórias sobre as drogas. <i style="font-weight: bold;"><br /></i></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Na Skeptic, defendemos o pensamento baseado em evidências, ao invés do pensamento baseado na fé. Para você, qual é a melhor abordagem para mudar do pensamento baseado na fé para o baseado nas evidências? </span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>Quando tentamos mudar a visão das pessoas sobre algo que elas acham que sabem, em alguns casos, elas se sentem ameaçadas e ofendidas, porque elas trabalharam duro para adquirir esse conhecimento. Ai você diz que eles estão errados e isso é difícil para a maioria de nós aceitar. Então, é necessário reconhecer o trabalho que tiveram em adquirir esse conhecimento, mesmo se o conhecimento estiver ultrapassado ou impreciso. Você pode dizer “sabe, eu era como você, fui enganado. Eles me enganaram, assim como te engaram. Foi assim que eu passei a ver de forma diferente e você também pode fazer isso.” É necessário se conectar com a audiência para fazer essa transição. Às vezes ficamos impacientes, porque não temos tempo para fazer essa conexão e dizemos “a evidência mostra isso e você está errado.” Isso geralmente não funciona. Mas eu entendo a impaciência, porque esperamos que as pessoas sigam as evidências, mas frequentemente isso não acontece.<i style="font-weight: bold;">
</i></span></span><br />
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;"><br /></i></span>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Para você, o que é indispensável para ser um bom cientista?</span><i style="font-weight: bold;">
Hart: </i>Sempre tente refutar a sua própria hipótese. Se não fizer isso, você aumenta suas chances de seguir um dogma. Então, o fator crítico é elaborar experimentos que possam refutar a sua própria hipótese.<i style="font-weight: bold;">
</i></span></span><br />
<span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="line-height: 22.0799999237061px; white-space: pre-wrap;"><i style="font-weight: bold;">Skeptic: </i><span style="font-weight: bold;">Obrigado por essa entrevista!</span><i style="font-weight: bold;">
</i>-------------------
* A edição original do livro com o título <i>High Price: A Neuroscientist's Journey of Self-Discovery That Challenges Everything You Know About Drugs and Society</i> foi publicada nos Estados Unidos em 2013 pela editora Harper. No Brasil, o livro foi publicado em 2014 pela editora Zahar.</span><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 1.38;"> </span></span></span><br />
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 1.38;"><br /></span></span>
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><a href="http://www.skeptic.com/magazine/archives/20.2/" target="_blank"><img border="0" height="155" src="http://4.bp.blogspot.com/-3ygd8aJQpM4/Vdf3jWLK3TI/AAAAAAAABfA/fitPvpxzmNg/s400/Skeptic_20.2_banner-homepage.jpg" width="400" /></a></span></div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 1.38;"><br /></span></span>
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 1.38;"><br /></span></span></span></div>
<span id="docs-internal-guid-7a7cfc21-5378-9dda-4a5d-72c43ffcad05">
</span>Felipe Nogueirahttp://www.blogger.com/profile/10795601045640929090noreply@blogger.com3