por Paul A. Offit
Tradução: Felipe Nogueira Barbara
Fonte: NYTimes
Mês passado [Maio de 2013], Katy Perry compartilhou seu segredo de boa saúde com seus 37 milhões de seguidores no Twitter. "Eu sou tudo sobre suplementos e vitaminas" escreveu a popstar, postando uma foto dela segurando três sacos grandes de comprimidos. Há, entretanto, um fato perturbador sobre vitaminas que Katy não mencionou.
Derivadas de "vita", significado de vida em Latin, vitaminas são necessárias para converter alimentos em energia. Quando não se obtêm a quantidade necessária de vitaminas, as pessoas adoecem com escorbuto e raquitismo. A pergunta não é se as pessoas precisam de vitaminas. Elas precisam. As perguntas são o quanto de vitaminas precisam, e elas obtêm o necessário nos alimentos?
Especialistas em nutrição argumentam que as pessoas precisam apenas dos limites diários recomendados - a quantidade de vitaminas encontrada numa dieta de rotina. Fabricantes de vitaminas argumentam que uma dieta regular não contém vitaminas o suficiente, e que mais é melhor. A maioria das pessoa assume que, pelo menos, excesso de vitaminas não faz mal nenhum. Acontece que, entretanto, cientistas sabem há anos que grandes quantidades de suplemento de vitaminas podem ser bem nocivas, na verdade.
Em um estudo publicado em 1994 no The England Journal of Medicine, 29000 homens finlandeses, todos fumantes, receberam diariamente vitamina E, beta caroteno, ambos ou placebo. O estudo descobriu que aqueles que tomaram beta caroteno por cinco até oito anos tinham mais chances de morrer por câncer de pulmão ou doença cardíaca.
Dois anos depois o mesmo periódico publicou outro estudo sobre suplementos de vitamina. Nesse estudo, 18000 pessoas com um risco maior de câncer de pulmão por causa de exposição a amianto ou tabagismo receberam uma combinação de vitamina A e beta caroteno, ou placebo. Investigadores interromperam o estudo quando encontraram que o risco de morte por câncer de pulmão para aqueles que tomaram as vitaminas foi 46% maior.
Então, em 2004, uma revisão de 14 ensaios clínicos randomizados feita pela Cochrane Database encontrou que suplementos de vitamina A, C, E, e beta caroteno, e um mineral, selênio, tomados para prevenir cânceres intestinais, na realidade aumentaram a mortalidade.
Outra revisão, publicada em 2005 no Annal of Internal Medicine, encontrou que, em 19 ensaios clínicos com quase 136000 pessoas, suplemento de vitamina E aumentou a mortalidade. Nesse mesmo ano, um estudo com pessoas com doença vascular ou diabetes encontrou que vitamina E aumenta o risco de falha cardíaca. E em 2011, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association associou vitamina E com um risco maior de câncer de próstata.
Finalmente, no ano passado, uma revisão da Cochrane encontrou que "beta caroteno e vitamina E parecem aumentar mortalidade, e altas doses de vitamina A podem fazer o mesmo".
O que explica essa conexão entre suplementos de vitaminas e aumento nas taxas de mortalidade e câncer? A palavra chave é antioxidante.
Antioxidante vs oxidação já foi classificada como uma disputa entre o bem e o mal. Acontece nas organelas celulares chamadas de mitocôndria, onde o corpo converte alimento em energia, um processo que requer oxigênio (oxidação). Uma consequência da oxidação é a geração de escavadores atômicos chamados radicais livres (mal). Radicais livres podem danificar o DNA, membranas celulares, as linhas das artérias; não surpreendente, eles foram ligados a envelhecimento, câncer e doenças cardíacas.
Para neutralizar radicais livres, o corpo faz antioxidantes (bem). Antioxidantes também podem ser encontrados em frutas e vegetais, especialmente em selênio, beta caroteno e vitaminas A,C e E. Alguns estudos mostraram que pessoas que as pessoas que comecem mais frutas e vegetais têm menor incidência de câncer e de doenças cardíacas e vivem mais. A lógica é óbvia. Se frutas e vegetais contém antioxidantes, e as pessoas que comem frutas e vegetais são mais saudáveis, então as pessoas que tomarem suplementos de antioxidantes também deverão ser mais saudáveis. Mas não tem sido dessa maneira.
A provável explicação é que radicais livres não são tão maldosos como se pensava.(De fato, as pessoas precisam deles para matar bactéria e eliminar novas células cancerígenas). E quando as pessoa comem altas doses de antioxidante na forma de suplemento de vitaminas, o balanço entre a produção de radicais livres e destruição pode ir muito numa direção, causando um estado não natural onde o sistema imunológico é menos hábil em matar invasores danosos. Pesquisadores chamam isso de o paradoxo dos antioxidantes.
Como estudos com altas doses de suplemento de antioxidantes não apoiaram claramente o seu uso, respeitadas organizações responsáveis pela saúde pública não os recomendam para pessoas saudáveis.
Por que não sabemos disso? Por que oficiais da Food and Drug Administration (F.D.A.) [órgão que regula alimentos e drogas nos EUA] não se certificaram que estávamos cientes dos riscos? A resposta é que eles não podem.
Em Dezembro de 1972, preocupados que as pessoas estavam consumindo grandes quantidades de vitaminas, a F.D.A. anunciou um plano para regular suplementos vitamínicos contendo mais que 150 porcento do limite diário recomendado. Fabricantes de vitaminas teriam que provar que essas "megavitaminas" eram seguras antes de venderem. Não surpreendente, a indústria da vitamina viu isso como ameaça, e organizou a destruição desse plano. No final, fez mais do que isso.
Executivos da indústria recrutaram William Proxmire, um senador Democrata de Wisconsis, para introduzir um projeto de lei prevenindo a F.D.A. de regulamentar megavitaminas. Em 14 de Agosto de 1974, a audiência começou.
Apoiando a regulamentação da F.D.A. estava Marsha Cohen, uma advogada da Consumers Union. Dispondo oito melões na frente dela, ela disse, "Você teria que comer oito melões - uma boa fonte de vitamina C - para adquirir 1000 miligramas de vitamina C. Mas esses dois comprimidos apenas, simples de engolir, contém a mesma quantidade." Ela avisou que se a legislação passasse, "um tablete conteria a mesma quantidade de vitamina C de todos esse melões, ou até o dobro, ou o triplo ou 20 vezes tal quantidade. E não teria nível protetor de saciedade". Cohen estava mencionando o calcanhar de Aquiles da indústria: ingerir grandes quantidades de vitamina não é natural, o oposto que os fabricantes estavam promovendo.
Mais de um mês depois, o projeto de lei de Proxmire passou por uma votação de 81 a 10. Em 1976, virou lei. Décadas depois, Peter Barton Hutt, conselheiro-chefe da F.D.A., escreveu que "foi a derrota mais humilhante" na história da agência.
Como resultado, consumidores não sabem que tomar megavitaminas pode aumentar o risco de câncer, de doenças cardíacas e encurtar suas vidas; eles não sabem que estão sofrendo muito de uma coisa boa por muito tempo.