quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Padronicidade

por Michael Shermer
Tradução: Felipe Nogueira Barbara
Fonte: MichaelShermer.com

Substantivo. A tendência de encontrar padrões significativos em dados insignificativos.

Por que as pessoas vêem rostos na natureza, interpretam manchas em janelas como figuras humanas, escutam vozes em sons aleatórios gerados por dispositivos elétricos ou encontram conspirações em noticias do cotidiano? Uma causa imediata é o efeito priming, no qual nossos cérebro e sentidos estão preparados para interpretar estímulos de acordo com um modelo esperado. Ufólogos [adeptos da Ufologia] vêem um rosto em Marte. Religiosos vêem Virgem Maria na lateral de um prédio. Adeptos da paranormalidade escutam pessoas mortas falando com eles através de um receptor de rádio. Teóricos da conspiração acham que 11/9 foi um trabalho interno da administração do Bush. Há uma última e profunda causa pela qual as pessoas acreditam nessas coisas estranhas? Existe. Eu chamo de "padronicidade", ou a tendência de encontrar padrões significativos em dados insignificativos.

Tradicionalmente, cientistas tratam padronicidade como um erro na cognição. Um erro do tipo I, ou um falso positivo, é acreditar que algo é real quando não é (encontrar um padrão não existente). Um erro do tipo II, ou um falso negativo, é não acreditar que algo é real quando é (não reconhecer um padrão real). No meu livro How We Believe, publicado em 2000, argumentei que nosso cérebro é uma máquina de crença: evoluída máquina de reconhecimento de padrões que conecta os pontos e cria significado a partir de padrões que pensamos ver na natureza. Algumas vezes, A realmente está conectado com B; algumas vezes, não está. Quando está, aprendemos alguma coisa valiosa sobre o ambiente e a partir disso podemos fazer previsões que auxiliam na sobrevivência e reprodução. Somos descendentes daqueles que eram os melhores em encontrar padrões. Esse processo é chamado de aprendizado por associação e é fundamental para o comportamento de todos animais, desde do humilde verme C.Elegans até o H. Sapiens.     

Infelizmente, não desenvolvemos uma Rede de Detecção de Mentiras no cérebro para distinguir entre padrões verdadeiros e falsos. Não temos um detector de erros para modular a máquina de detecção de padrão (Logo, a necessidade da ciência com seus mecanismos auto-corretivos de replicação e revisão de pares). Mas é provável que essa cognição errônea não nos remova do pool genético e então provavelmente não foi contra-selecionada pela evolução.

Em um artigo publicado em Setembro de 2008 em Proceedings of the Royal Society B, intitulado "The Evolution of Superstitious and Superstition-like Behaviour" [A Evolução de Comportamentos Supersticiosos e Similares à Superstição]*, o biólogo Kevin R. Foster, da Universidade de Harvard, e a bióloga Hanna Kokko, da Universidade de Helsinque, testaram minha teoria através de modelos evolucionários e demonstraram que, sempre que o custo de acreditar em um padrão não existente for menor que o custo de não acreditar num padrão real, a seleção natural favorecerá padronicidade. Eles começam com a fórmula pb > c, onde uma crença pode ser mantida quando o custo (c) de fazer isso é menor que a probabilidade (p) do benefício (b). Por exemplo, acreditar que um ruído na grama é um predador perigoso quando é apenas o vento não tem um alto custo, mas acreditar que um predador perigoso é o vento pode custar a vida do animal. 

O problema é que somos muito ruins em estimar essas probabilidades, então o custo de acreditar que o ruído na grama é um predador perigoso quando é apenas o vento é relativamente baixo comparado com o oposto. Então, deve ter existido uma seleção benéfica para acreditar que a maioria dos padrões é real. Através de uma série de fórmulas complexas que incluem estímulos adicionais (vento nas árvores) e eventos prévios (experiências passadas com predadores e ventos), os autores concluíram que "a inabilidade dos indivíduos - humanos ou não - para atribuir probabilidades causais para todos os conjuntos de eventos que ocorrem ao redor deles frequentemente os forçará a juntar associações causais com não causais. Com isso, a explicação evolucionária para superstição é clara: a seleção natural favorecerá estratégias que podem fazer muitas associações causais incorretas com o objetivo de estabelecer aquelas que são essenciais para a sobrevivência e reprodução".

Apoiando um modelo de seleção genética, Foster e Kokko observam que "predadores apenas evitam cobras não venenosas que mimetizam espécies venenosas em áreas onde a espécie venenosa é comum", e que até organizamos simples como "células de Escherichia Coli vão nadar em direção a aspartato metilado fisiologicamente inerte presumivelmente devido a uma adaptação para favorecer o aspartato verdadeiro".

Tais padronicidades, então, querem dizer que as pessoas acreditam em coisas estranhas por causa da nossa necessidade evolucionária de acreditar em coisas que não são estranhas.

* Nota do Tradutor: O artigo pode ser encontrado aqui.   


Nenhum comentário:

Postar um comentário