"Pare de gastar dinheiro com suplementos de vitaminas e minerais" é a recomendação de um editorial elaborado por médicos pesquisadores publicado no jornal médico Annals of Internal Medicine, no dia 17 dezembro de 2013. Os autores são muitos claros:
O grande corpo de evidência acumulado tem implicações na clínica e na saúde publica. As evidências são suficientes para recomendar contra a suplementação rotineira, e devemos traduzir achados nulos e negativos em ações. A mensagem é simples: a maioria dos suplementos não previne doenças crônicas ou morte, seu uso não é justificado, e eles devem ser evitados. Essa mensagem é especialmente verdadeira para a população geral sem claras evidências de deficiência de micronutrientes, que representa a maioria dos usuários de suplementos nos Estados Unidos e em outros países.
As evidências também têm implicações para pesquisa. Antioxidantes, ácido fólico e vitaminas B são nocivos ou inefetivos para prevenção de doenças crônicas, e grandes ensaios clínicos na prevenção não são mais justificados. Suplementação com vitamina D, entretanto, é uma área aberta de investigação, particularmente em pessoas deficientes. Ensaios clínicos tem sido equivocados e algumas vezes contraditórios. Por exemplo, suplementação com vitamina D, que poderia prevenir quedas em pessoas idosas, reduziu o risco de quedas em alguns ensaios, não teve efeito na maioria dos ensaios, e aumentou as quedas em 1 ensaio. Embora estudos futuros são necessários para determinar o uso apropriado de vitamina D, seu uso difundido não é baseado em sólidas evidências de que benefícios superam os malefícios.
O editorial se baseia nas evidências de diversos estudos feitos com suplementação multivitamínica. Nessa mesma edição do jornal científico, foi publicada uma revisão sistemática da evidência do uso de vitaminas e minerais na prevenção primária de câncer e doença cardiovascular.
A revisão incluiu 26 estudos, dos quais 24 são estudos randomizados e controlados. Os autores não encontraram evidências consistentes que suplementos de vitaminas e minerais afetam doença cardíaca, câncer, ou mortalidade em geral em indivíduos saudáveis sem deficiências nutricionais conhecidas. Além disso, a revisão também confirmou o estabelecido dano da suplementação de beta-caroteno na incidência de câncer pulmonar e morte para indivíduos em alto risco de câncer pulmonar. Os autores concluíram da seguinte maneira:
A mensagem não poderia ser mais clara: pare de tomar suas vitaminas!a literatura atual em vitaminas e minerais é suficiente para desencorajar estudos adicionais de beta-caroteno ou vitaminas A, C, e E em populações gerais sem déficits de nutrientes. Estudos adicionais de vitamina D devem ser feitos separadamente de estudos de cálcio. Estudos de vitamina D e cálcio devem incluir todo os benefícios hipotéticos, incluindo prevenção de fratura, para possibilitar uma comparação abrangente de todos benefícios e malefícios. Em conclusão, não encontramos evidências de efeito de doses nutricionais de vitaminas ou minerais em doença cardiovascular, câncer, ou mortalidade em indivíduos saudáveis sem deficiências nutricionais conhecidas para a maioria dos suplementos que examinamos. Na maioria dos casos, os dados são insuficientes para chegar a uma conclusão, embora para vitamina E e beta-caroteno a falta de benefício é consistente entre diferentes ensaios. Identificamos 2 ensaios com multivitamínicos que encontraram menor incidência de câncer em homens. Ambos ensaios são metodologicamente sólidos, mas a falta de efeito em mulheres (pelo menos em 1 ensaio), a significância limítrofe em homens nos dois ensaios, e a falta de qualquer efeito em doença cardiovascular nos dois estudos tornam difícil concluir que suplementação multivitamínica é benéfica.