por Michael Shermer
tradução: Felipe Nogueira
Fonte: Scientific American
Um dos livros mais vendidos de 2014 é O Capital - No Século XXI do economista francês Thomas Piketty, um livro de 696 páginas sobre a história econômica. Por que essa dissertação com muitos dados dessa "ciência triste" é tão atraente? Porque é sobre a desigualdade de renda e imobilidade, que, num discurso de dezembro de 2013, o Presidente Barack Obama chamou de "o desafio definitivo do nosso tempo", concluindo que põe "uma ameaça fundamental ao sonho americano". Mas será que ameaça mesmo? Talvez não.
Os ricos estão ficando mais ricos, como encontrou o economista Gary Burtless do Brookings Institution ao analisar dados do Congressional Budget Office (Gabinete de Orçamento do Congresso) das tendências das rendas após as deduções de impostos entre os anos de 1979 e 2010 (incluindo assistência governamental). Os primeiros cinco assalariados dos Estados Unidos aumentaram seus percentuais da renda nacional de 43% em 1979 para 48% em 2010. Além disso, os primeiros 1% aumentaram suas partes do "bolo" de 8% em 1979 para 13% em 2010. Mas note o que não aconteceu: os restantes não ficaram mais pobres. Eles ficaram mais ricos: a renda dos outros quintis aumentou de 49%, 37%, 36% e 45%, respectivamente.
A metáfora do bolo é enganadora porque um bolo possui um tamanho fixo. Se a sua fatia é maior, a fatia de outra pessoa é menor. Mas as economias crescem e o bolo fica maior de uma maneira que você e eu podemos ganhar fatias maiores do que as fatias que recebemos do bolo do ano anterior, mesmo se o aumento da sua fatia for relativamente maior do que o meu aumento. Um relatório liberado pela Reserva Federal no início de 2014, por exemplo, notou que riqueza geral de americanos atingiu o maior nível até o momento, com a rede de casas americanas crescendo 14% em 2013, o que é um aumento de $10 trilhões para um quase inimaginável $80.7 trilhões, o maior valor já registrado pela Reserva Federal. É claro que, num planeta com recursos finitos, tal expansão não pode continuar indefinidamente, mas historicamente capital e produção de riqueza deslocam à medida que a indústria muda de, digamos, agricultura e fazenda, para carvão e aço, e para informações e serviços.
E em relação a mobilidade da renda, a qual o Presidente Obama também identificou como problema? Escrevendo no National Tax Journal, economistas Gerald Auten e Geoffrey Gee analisaram retornos de impostos individuais entre 1987-1996 e 1996-2005 e encontraram que, para indivíduos com 25 anos ou mais, aproximadamente metade dos contribuintes mudaram para um diferente quintil de renda e aproximadamente a metade dos contribuintes que começaram no quintil de renda inferior foi para um grupo de renda maior no final de cada período e aqueles com as rendas mais altas no ano base eram mais prováveis [do que aqueles em outro quintis] de cair para um grupo de renda inferior. De fato, eles encontraram que 60% daqueles no 1% do topo no ano inicial caíram para um centil inferior ao final do décimo ano. Menos de um quarto dos indivíduos no 1% do topo permaneceu nesse grupo em 2005. Num estudo posterior que incluiu dados de renda ao longo de 2010, economistas encontraram que "aproximadamente metade dos contribuintes do primeiro e quinto quintil permaneceu no mesmo quintil 20 anos depois. Aproximadamente 1/4 daqueles no último quintil subiram um quintil, enquanto 4.6% foram para o quintil do topo.
Uma das razões para a controvérsia é que as pessoas superestimam as diferenças entre ricos e pobres. Em um estudo de 2013 publicado na Psychological Science com o título "Better Off Than We Know" (Melhor do que Sabemos), o psicólogo John R. Chambers e seus colegas da Universidade de St. Louis encontraram que a maioria das pessoas estimam que os 20% mais ricos ganham 31 vezes mais que os 20% mais pobres (o correto é 15.5 vezes), e eles acreditam que a média de renda anual dos americanos 20% mais ricos é de $2 milhões, enquanto que na verdade é $169.000, uma diferença perceptual de quase 12 vezes. "Quase todos dos participantes do nosso estudo", os autores concluíram, "superestimaram grosseiramente a média da renda e superestimaram o nível de desigualdade de renda".
Então tanto desigualdade quanto mobilidade, apesar de não ideal como gostaríamos que estivessem na terra de oportunidades iguais, não são tão grandes e imóveis como a maioria de nós percebe.
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