Foi excelente a repercussão da crítica feita por Harriet Hall (que participei diretamente) à nota da homeopatia publicada na edição de Abril da Scientific American Brasil. Ela publicou um outro post no SBM sobre a repercussão, junto com a minha tradução para o português.
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por Harriet Hall
tradução: Felipe Nogueira Barbara de Oliveira
fonte: Science-Based Medicine
Semana passada, eu escrevi a respeito de uma nota lamentável sobre homeopatia que foi publicada na Scientific American Brasil.
Houve uma repercussão gratificante. Em questão de horas, a editora-chefe da Scientific American, Mariette DiChristina, apareceu nos comentários. Ela disse que a Scientific American não apoia a pseudociência da homeopatia, que tal nota não deveria ter sido publicada, que nunca seria publicada se a Scientific American fosse consultada previamente, e que ela reclamou com as partes responsáveis. Eu fiquei muito grata pela sua resposta ao meu artigo, pela sua intervenção, e pela sua vontade de se pronunciar em defesa à boa ciência.
E eis que dois dias depois a Sra. DiChristina reportou que o editor da Scientific American Brasil escreveu uma carta de desculpas e a publicou no website.
Eu espero que isso seja seguido por uma desculpa impressa na próxima edição da revista, mas estou contente que foi publicada imediatamente. Ele prontamente admitiu que explicar por que ele cometeu o erro não o justifica. É claro que alguém na sua posição de responsabilidade científica nunca deveria ter sido convencido pelos fatores que o convenceram (legalidade, financiamento, etc.). E o fato de outros durante a história terem cometido erros famosos não o desculpa de seus próprios erros.
Ciência está viva e bem no Brasil
Homeopatas estão presumivelmente comemorando na Internet que suas crenças agora possuem o apoio da Scientific American, como neste exemplo. Mas é encorajador ver que muitos brasileiros reclamaram dessa infiltração de pseudociência na revista. É encorajador saber que o blog SBM tem seguidores no Brasil. Pelo menos um blogger brasileiro já reclamou com a Scientific American Brasil, e ele reproduziu sua própria carta assim como meu post aqui.
Eu recebi um e-mail de um pesquisador brasileiro que às vezes escreve contra a homeopatia. Ele anexou vários artigos que ele escreveu, incluindo críticas a artigos publicados favoráveis a homeopatia e uma coletânea de jornais brasileiros mostrando um viés favorável na cobertura da homeopatia. Ele atualmente está pesquisando em uma base de dissertações de Mestrado e Doutorado de uma fundação científica brasileira, e identificou dezenas de dissertações em homeopatia – a grande maioria delas afirmando resultados experimentais positivos. Eu espero que ele eventualmente publique seus achados. Parece que, embora a homeopatia seja valorizada no Brasil, o mesmo pode ser dito da medicina baseada em evidências e do pensamento crítico.
Mariette DiChristina Dá Um Exemplo
Sra. DiChristina deveria ser aplaudida pela sua rápida intervenção e pela sua defesa de padrões científicos rigorosos. Um de nossos comentadores disse “Eu achei bem interessante que a editora-chefe da Scientific American demonstrou mais integridade científica em padrões de periódicos do que editores de periódicos que afirmam altos fatores de impacto na área da ciência médica.” Que verdade lamentável!
No blog SBM, frequentemente criticamos a publicação de estudos ruins e artigos crédulos sobre MCA (medicina complementar e alternativa) pelos principais periódicos de medicina e perguntamos como esses artigos passaram pelos editores e revisores. Há exemplos de artigos que foi provado serem fraudulentos, mas que nunca foram repudiados pelos periódicos.
Lancet finalmente retratou o vergonhoso artigo de Wakefield, mas isso demorou 12 anos para acontecer. Criticamos até mesmo o prestigiado New England Journal of Medicine por artigos mal orientados em medicina integrativa, e acupuntura.
Criticamos o National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) por desperdiçar fundos em pesquisas muito questionáveis. Sua diretora, Josephine Briggs, pareceu receptiva à nossa mensagem, mas ela foi igualmente receptiva a um grupo internacional de homeopatas que saíram das instalações bem satisfeitos com a favorável impressão que deixaram.
Precisaria de muita integridade para um editor de um periódico médico ou um político eleito resistir às atuais tendências de medicina “charlatã-acadêmica”, demanda popular, e ter honestidade política; para chamar charlatanismo de charlatanismo e manter-se firme à medicina baseada em evidências face à oposição de muitos colegas ou empregadores. É possível que ele perca seu trabalho. Mas com certeza seria um esforço que valeria a pena. Sra. DiChristina deixou um bom exemplo para outros seguirem. Eu só posso esperar que outros encontrem a coragem para seguir o exemplo dela.
Nota: Agradeço ao Felipe Nogueira pela ajuda nas traduções.
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